
Depois do escândalo que derrubou o Ministro do Trabalho, Helton Yomura, afastado por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), após ter sido alvo da Operação Registro Espúrio da Polícia Federal, Michel Temer nomeou interinamente para o cargo outro investigado da Lava Jato, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. Agora, saiu o novo representante de Temer para a pasta. O desembargador aposentado, Caio de Almeida Vieira de Mello, sócio do escritório de advocacia Sérgio Bermudes, que defende grandes empresas multinacionais.
Além de ser sócio de Bermudes, o novo ocupante da pasta do Trabalho tem também como sócia e colega a advogada Guiomar Mendes, mulher de Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), notório e contumaz soltador de corruptos. O escritório de Sérgio Bermudes em Brasília é chefiado por Guiomar.
A proximidade entre Bermudes e Gilmar Mendes é tamanha que o advogado chama o ministro de “irmão”. E foi Guiomar Mendes quem sugeriu a contratação de Ivete Sangalo para a celebração de 45 anos da firma, comemorada em 2014 com um festão para 3 mil convidados no Copacabana Palace – estima-se que só o cachê da cantora baiana ficou em 600 000 reais.
Entre os clientes de Sérgio Bermudes e do novo ministro do Trabalho de Temer estão criminosos de alto coturno, que já lesaram os cofres públicos em bilhões de reais. Um deles é o ex-magnata Eike Batista, endividado com o desmanche de seu império X, após sua prisão por pagar propina ao ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, em troca de contratos superfaturados. Eike foi também largamente beneficiado pelo governo Dilma Rousseff que entregou a ele campos de petróleo sem que sua empresa tivesse retirado uma gota de óleo. Desde que contratou Bermudes, Eike já desembolsou 6 milhões de reais em honorários.
Outra cliente do escritório, onde o novo Ministro do Trabalho de Temer presta serviços de consultoria, está a Sete Brasil, empresa criada pelo governo Lula para roubar a Petrobrás no processo de construção de sondas para a exploração do pré-sal. A empresa foi investigada na Operação Lava Jato e teve seus diretores presos. Só um desses diretores da empresa, Pedro Barusco, que fez acordo de colaboração premiada, devolveu para os cofres públicos US$ 100 milhões em propinas desviadas para contas no exterior.
Outra empresa defendida por Bermudes, e, por tabela, pelo novo Ministro do Trabalho de Temer, está a mineradora Samarco, responsável pelo rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais, considerado o maior crime ambiental da história do Brasil. Além desses clientes, o novo ministro de Temer respondia, através do escritório de Bermudes, por potentados como Bradesco, Citibank e Ambev e pelas construtoras Odebrecht e Queiroz Galvão.
Outro ponto negativo que pesa sobre o novo escolhido para o Ministério do Trabalho depois que a PF desbaratou a quadrilha que agia dentro do órgão, cobrando até R$ 4 milhões para emitir uma carta sindical, é que ele foi uma escolha pessoal de Temer.
O chefe da tropa de choque de Temer, Carlos Marun, saiu em defesa do novo ministro com esse forte argumento, de que era uma escolha pessoal de Temer. “[O presidente] consultou vários amigos e lhe foi sugerido o nome deste mineiro, ex-vice-presidente do TRT. O presidente viu nele as condições para o exercício desta importante missão. Tratou-se de escolha pessoal do presidente da República”, afirmou Marun.
Absurdo ainda é um cidadão que representa essas grandes empresas multinacionais, muitas conhecidas por desrespeitar direitos trabalhistas, ser nomeado o Ministro do Trabalho que, teoricamente, deveria representar e garantir o direito dos trabalhadores. Algo pouco provável em se tratando ainda de um governo como o de Temer, marcado por acabar com direitos históricos dos trabalhadores, com os ataques à CLT, e pela tentativa de saquear a Previdência Pública.
No escritório de Bermudes no Rio também trabalha a advogada Marianna Fux, filha do ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, que já foi criticado por julgar casos ligados à banca do amigo. Em 2013, o falatório em torno de uma festa em comemoração dos 60 anos de Fux, que seria realizada no apartamento de 700 metros quadrados de Sérgio Bermudes, na Avenida Rui Barbosa, no Flamengo, foi tamanho que o convescote acabou cancelado.
Parem de julgar uma pessoa pelo que os outros fizeram, até que prove que este novo ministro não fez nada, não o incrimine.
A senhora nunca ouviu falar que as más companhias não são credenciais para cargos públicos – nem muito menos para entrar no Céu?