
Assim que teve sua eleição anunciada, novo papa se compromete a trabalhar para “construir pontes” e estimular o diálogo, especialmente em favor da superação da dor dos mais sofredores de hoje
O cardeal Robert Francis Prevost, eleito o novo Papa no segundo dia do conclave no Vaticano, nesta quinta-feira (8), adotou o nome de Leão XIV e em seu primeiro pronunciamento na Praça de São Pedro fez um chamamento “à paz” e a “construir pontes” e se propôs a prosseguir com “a benção” do Papa Francisco na sua última Páscoa.
A escolha ocorre 17 dias após a morte do papa Francisco, por causa de um AVC e insuficiência cardíaca.
Nascido nos Estados Unidos, em Chicago, mas tendo passado o principal de seu sacerdócio no Peru e depois em Roma, Prevost é o primeiro Papa advindo de um país de maioria protestante.
O primeiro papa norte-americano, embora, segundo o jornal italiano La Repubblica, quando ainda era cardeal, de “o menos americano dos americanos”. Aliás, o novo Papa tem cidadania peruana desde 2015.
Milhares de pessoas, desde o momento em que a fumaça branca passou a sair da chaminé da Capela Sistina, no Vaticano, precisamente às 18h09 no horário local (13h09 no horário de Brasília), seguiram em massa pelas ruas de Roma em direção à Santa Sé para presenciar o anúncio do novo Papa. “Habemus papam”, disse o cardeal francês Dominique Mamberti, protodiácono do Colégio dos Cardeais, às 14h13 (horário de Brasília).
“Quero que essa saudação de paz entre no coração de vocês, a todas as pessoas”, disse Leão XIV, em sua primeira saudação. “Deus ama a todos, e o mal não prevalecerá.”
A adoção do nome sob o qual o eleito conduzirá seu pontificado é considerada uma indicação sobre os rumos que o novo papa pretende. Leão XIII, cujo papado foi de 1878 a 1903, é considerado o Papa que instituiu a doutrina social da Igreja, sob a encíclica Rerum Novarum.
Na qual a instituição passou a apoiar a conquista de direitos pelos trabalhadores, quando sequer fora adotada a jornada de oito horas, mudança feita em resposta à revolução industrial e expansão do capitalismo, concomitantemente à desigualdade e miséria e ao surgimento das ideias socialistas. E depois de décadas marcadas pelas revoluções de 1848, pela Comuna de Paris em 1871 e pelo fim do poder temporal da Igreja nos Estados Pontifícios em 1870.
Anteriormente, Prevost exerceu, por indicação de Francisco, as funções de presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina e prefeito do Dicastério para os Bispos — órgão responsável pela nomeação de bispos. Ele é agostiniano, uma ordem mendicante, a exemplo dos franciscanos e dos dominicanos.
Ele é considerado um profundo conhecedor da lei canônica, que rege a Igreja Católica e de sólida formação em teologia. De acordo a vaticanista Mirticeli Medeiros, Prevost é “moderadíssimo, discretíssimo”.
No Peru, onde a Opus Dei mandava e desmandava na hierarquia da Igreja, Prevost exerceu sua atuação missionária por dez anos em Piura e depois em Trujillo, inclusive sob a ditadura de Fujimori. Voltou em 2014, nomeado administrador da Diocese de Chiclayo, no Peru, cargo em que foi ordenado bispo e permaneceu por nove anos, até ser convocado para Roma.
Em suma, um Papa que nada tem em comum com Trump e sua ojeriza [e racismo] aos imigrantes latinos, e que fez questão, em sua primeira saudação, a se dirigir em espanhol aos seus fiéis da Diocese de Chiclayo.
Curiosamente, Trump, em seus delírios matinais, esta semana postou nas redes sociais, inclusive da Casa Branca, graças aos truques da Inteligência Artificial, ele próprio travestido de ‘papa’, o que ofendeu profundamente os católicos. Agora Trump se diz pronto para conhecer o Papa Leão XIII – talvez para lhe propor uma Trump Tower na Praça de São Pedro.
Leia o discurso na íntegra abaixo:
“Que a paz esteja convosco. Irmãos, irmãs caríssimos, esta é a primeira saudação do Cristo ressuscitado, o bom pastor, que deu a vida pelo rebanho de Deus. Também eu gostaria que esta saudação, de paz, entrasse no vosso coração, alcançasse vossas famílias, a todas as pessoas. Onde quer que estejam, a todos os povos, a toda a terra, a paz esteja convosco.
Esta é a paz de Cristo ressuscitado, uma paz desarmada, uma paz desarmadora, humilde e perseverante, que provém de Deus. Deus que nos ama a todos, incondicionalmente. Ainda conservamos em nossos ouvidos aquela voz frágil, mas sempre corajosa do papa Francisco, que abençoava Roma.
O papa que abençoava Roma, dava a sua bênção ao mundo inteiro naquela manhã do dia de Páscoa. Permitam-me dar sequência àquela mesma bênção: Deus nos quer bem, Deus nos ama a todos. O mal não prevalecerá. Estamos todos nas mãos de Deus. Portanto, sem medo, unidos, mão na mão com Deus e entre nós, sigamos adiante. Somos discípulos de Cristo. Cristo nos precede. O mundo precisa da sua luz. A humanidade necessita de pontes para que sejam alcançadas por Deus e ao mundo. Ajudai-nos também vós, unam-se aos outros, a construir pontes, com o diálogo, com o encontro, unindo-nos todos para sermos um só povo, sempre, em paz. Obrigado, papa Francisco.
Gostaria de agradecer a todos os irmãos cardeais que me escolheram para ser sucessor de Pedro, e caminharei junto a vós, como Igreja unida, buscando sempre a paz, a justiça, buscando sempre trabalhar como homens e mulheres fiéis a Jesus Cristo. Sem medo, para proclamar o Evangelho. Para sermos missionários.
Sou um filho de Santo Agostinho, agostiniano, que disse: “Convosco sois cristão, e para vós bispo”. Nesse sentido, podemos todos caminhar juntos rumo a essa pátria, à qual Deus nos preparou.
À Igreja de Roma, uma saudação especial. Devemos buscar juntos como ser igreja missionária, uma igreja que constrói pontes, que dialoga, sempre aberta a receber como esta praça de braços abertos, a todos, todos aqueles que precisam da nossa caridade, da nossa presença, do diálogo, de amor.
E se me permitem também uma palavra: [em espanhol] a todos aqueles, de modo particular, à minha querida diocese de Chiclayo no Peru, onde um povo fiel acompanhou o seu bispo, compartilhou a sua fé e deu tanto a mim para seguir sendo igreja fiel de Jesus Cristo.
A todos vós irmãos e irmãs, de Roma, da Itália e do mundo inteiro, queremos ser uma Igreja sinodal, uma Igreja que caminha, que busca sempre a paz, que busca sempre a caridade e busca sempre estar próxima, especialmente daqueles que sofrem.
O dia da súplica à Nossa Senhora de Pompeia, nossa mãe Maria quer sempre caminhar conosco, estar próxima, ajudar-nos com a sua interseção e seu amor. Agora gostaria de rezar junto convosco, rezemos juntos por essa nova missão, por toda a Igreja, pela paz no mundo. Peçamos essa graça especial à Maria, nossa mãe.”
Em seguida, o pontífice fez uma oração junto aos fiéis presentes na praça, além de ter dado sua primeira bênção como papa – a Bênção Urbi et Orbi, do latim, “à cidade [de Roma] e ao mundo, a todo o universo”.