
“Tenho o mais profundo respeito por como o povo e os políticos groenlandeses estão lidando com a grande pressão sobre a Groenlândia”, afirmou a premiê dinamarquesa, Mette Frederiksen, que visitará a ilha a partir desta quarta-feira
O novo primeiro-ministro da Groenlândia, Jens-Frederik Nielsen, rebateu as declarações do presidente dos EUA, Donald Trump no domingo (30), em que este voltou a ameaçar tomar a Groenlândia na mão grande, em entrevista à NBC News.
“O presidente Trump diz que os Estados Unidos ‘ficarão com a Groenlândia’. Vou ser claro: os Estados Unidos não ficarão com ela. Não pertencemos a mais ninguém. Nós decidimos nosso próprio futuro”, afirmou Jens-Frederik Nielsen, em declarações à Associated Press nesta segunda-feira (31).
“A Groenlândia nunca fará parte dos Estados Unidos… Queremos fazer comércio. Queremos uma parceria forte em termos de segurança nacional, é claro, mas queremos isso com respeito mútuo. Nunca estaremos à venda e nunca seremos norte-americanos”, disse Nielsen.
No sábado, na capital Nuuk, manifestantes repudiaram as ameaças de Trump, com as tradicionais faixas de “Yankee Go Home” fazendo companhia ao estreante MAGA ao estilo ártico, ou seja, “Make America Go Away” [Faça a America Ir Embora]. Bem como cartazes de “Não estamos à venda”.
Também o governo da Dinamarca, ao qual a Groenlândia está ligada por um estatuto de autonomia, reprovou a avidez de Trump.
O novo primeiro-ministro groenlandês tomou posse na sexta-feira passada, poucas horas antes do início da incursão à Groenlândia, capitaneada pelo vice de Trump, JD Vance, mais o conselheiro de Segurança Nacional, Mike Walz, aquele que registra crimes de guerra no Iêmen por redes de mensagens, e o secretário nacional de Energia, sem serem convidados.
Nielsen, de 33 anos, encabeça um governo de coalizão de quatro partidos em meio às ameaças de Trump contra a Groenlândia.
A provocação de Vance & Cia saiu pela culatra, com a trupe tendo de se limitar a fazer uma turnê na remota base dos EUA no norte da ilha ártica e passando o vexame de não serem recebidos por nenhum groenlandês. Parece que Madame Vance teve que adiar sua ida a uma “corrida de trenós puxada por cães”.
Após o fiasco, sobrou para Trump remendar a situação, asseverando a repórteres que “nós vamos conseguir a Groenlândia. Sim, 100%”.
SEGUINDO AL CAPONE
Segundo o megaempreendedor de Manhattan e candidato a dono do ‘Trump Gaza’, ainda há uma “boa chance de conseguirmos fazer isso sem força militar”. Mas, citando o filósofo Al Capone, acrescentou que “não tira nada da mesa”.
A Groenlândia faz parte do lote de aquisições almejadas por Trump desde sua posse, a par com o “51º Estado”, mais conhecido como Canadá, e o Canal do Panamá, supostamente inspiradas nos feitos de um presidente do século XIX, que invadiu Cuba e anexou Porto Rico e as Filipinas e também gostava de tarifaços.
Nielsen disse ainda à Reuters que a Groenlândia vai fortalecer seus laços com a Dinamarca até que possa se tornar uma nação soberana, acrescentando que o território semi-autônomo deseja, em última instância, tornar-se independente. A Groenlândia faz parte da Dinamarca há séculos e, desde 1979, tem seu próprio governo.
“Estamos no Reino da Dinamarca neste momento e, enquanto estivermos nessa configuração, precisamos construir nosso relacionamento e nossa parceria para fortalecê-la até o dia em que pudermos ser uma nação soberana”, disse Nielsen.
“Temos uma forte parceria com a Dinamarca, e é nisso que vamos nos basear até o dia em que pudermos ser soberanos”, acrescentou. “Não queremos ser americanos. Também não queremos ser dinamarqueses no futuro. Queremos ser independentes. Mas agora fazemos parte do Reino da Dinamarca e é assim que vai ser”, acrescentou Nielsen.
A partir desta quarta-feira (2), a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, visitará a Groenlândia, como parte do esforço para fortalecer a comunidade entre os dois países enquanto Trump ameaça tomar a ilha.
Ela irá se reunir com o novo primeiro-ministro e membros do governo de coalizão. “Tenho o mais profundo respeito por como o povo e os políticos groenlandeses estão lidando com a grande pressão sobre a Groenlândia”, disse Frederiksen na declaração. “A situação exige unidade entre os partidos políticos; entre os países da comunidade; e cooperação de forma respeitosa e igualitária.”