Começou nesta quarta-feira(13) o turno preliminar das eleições de 2020, com a investigação de impeachment da Câmara passando à fase das audiências públicas e televisionadas. No novo reality show estrelado por Trump, quem pode receber o famoso “está demitido” é, agora, ele mesmo.
Pelo andar da carruagem, a audiência será boa. Nas duas últimas aparições de Trump em público – no caso, uma final de beisebol e uma luta de UFC – ele foi recepcionado com sonora vaia, faixas de impeachment, e gritos de “prendam-no”.
Trump assevera que não há “qualquer quid pro quo” – o termo jurídico para a extorsão de que é acusado, e diz que tudo não passa de uma “caçada às bruxas” para atrapalhar sua reeleição no ano que vem.
Logo ele, que vem fazendo a América e suas tarifas grandes de novo. E a investigação atrapalha o que mais gosta de fazer: perseguir chicanos e erguer seu muro.
Tudo começou com um agente da CIA que ouviu falar que alguém tinha ouvido Trump pressionar o novo presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, ameaçando cortar a ajuda militar de quase US$ 400 milhões de dólares para que “fizesse o favor” de investigar o ex-vice de Obama, Joe Biden, por corrupção em uma empresa de gás privada ucraniana, em que empregara o filho, e que até demitira um procurador-geral ucraniano por investigara o oligarca que acolhera na diretoria o rebento.
Na época, Biden era o pré-candidato democrata com melhor cotação, embora depois haja murchado bastante.
No muito adequado cenário do pântano de Washington – aquele que Trump ia “drenar” – o que não faltam são histórias escabrosas para todos os gostos nessa guerra de agentes da CIA com os Trumpsters, mais favoritas de Wall Street e reis das fake news.
Talvez o mais ridículo seja a acusação da “Ucrânia interferindo na política doméstica dos EUA”, logo a Ucrânia, que sob a operação supervisionada por Biden, o vitorioso golpe com os nazistas em Kiev, virou uma satrapia ianque.
Alias, qualquer parte em Washington acusando algum país de “interferência”, depois daqueles milhares de arquivos da diplomacia norte-americana mostrados pelo WikiLeaks e por Julian Assange, são uma piada.
Parece que ninguém é inocente nessa história. Rudy Giuliani, o advogado pessoal de Trump, depois que o antecessor caiu na malha fina da investigação Mueller, parece que se lambuzou todo no roteiro Washington-Kiev.
O espião (cujo nome não pode ser publicado) que ouviu falar se aconselhou com a equipe do líder da investigação do impeachment, o presidente do comitê de inteligência da Câmara, Adam Schiff, que não se lembrava até ser flagrado mentindo.
O agente que ouviu falar e assinou um formulário modificado da CIA de questionamento do próprio presidente dos EUA casualmente parece que já trabalhou para candidatos democratas.
Trump publicou um resumo da conversa, mas o tsunami não parou. Seu embaixador na União Europeia, um oligarca do setor hoteleiro agraciado com o posto por ter doado US$ 1.000.000 à campanha de Trump, primeiro negou e depois confirmou ter se lembrado ao reler o que os outros depoentes disseram.
Integrantes da diplomacia e da segurança nacional de ascendência ucraniana fizeram declarações acusando Trump.
Os democratas se preparam também para requentar todas as alegações da investigação do Russiagate, agora ao vivo pela tevê.
Os republicanos contra-atacam, exigindo que o filho de Biden, Hunter, que só deixou a diretoria da empresa de gás ucraniana em abril deste ano, deponha sobre o que fazia na empresa para merecer aquela grana toda.
Há denúncias de que o versátil Biden também biliscou em uma corporação chinesa.
Com os holofotes sobre o impeachment, a própria Hillary resolveu reaparecer e dar pitacos.
Por outro lado, o secretário de Energia de Trump, que segundo o presidente foi quem o pressionou para que telefonasse para Zelenski (ele próprio “nem queria”), anda ocupado nomeando seus chegados para uma diretoria na estatal de gás ucraniana.
Se nada der certo, segundo os blogs especializados norte-americanos, a turma de Trump já analisa a saída de fazer de Giuliani o bode expiatório e jogá-lo ao mar e salvar a cabeça do chefe. “Não em quid pro quo”, se tiver, é do Giuliani. Há quem ache que, considerando que é muito difícil fazer o impeachment passar no Senado sob controle republicano, ao jogar agora a carta do impeachment a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, está buscando tirar do foco aquelas incômodas propostas da ala menos neoliberal dos democratas, que está exigindo o Medicare para Todos, a universidade gratuita e o Novo New Deal Verde.
Com cartazes “Impeach Trump” e “Trump mente o tempo todo”, manifestantes se reuniram diante do prédio do Capitólio. A primeira audiência pública estava lotada de parlamentares, jornalistas e membros do público, para ouvir os depoimentos do atual embaixador dos EUA na Ucrânia, Bill Taylor, e do vice secretário assistente George Kent. Na sexta-feira, está escalada a ex-embaixadora Marie Yovanovitch, e na próxima semana a lista inclui o tenente-coronel Alexander Vindkman, o ex-enviado especial Kurt Volker, o ex-conselheiro de Segurança Nacional Tim Morrison, o embaixador Gordon Sondland e outros figurões.
A.P.