Núcleo 4 atuou em coordenação com Bolsonaro para executar seus crimes, mostra Gonet

Procurador-geral da República, Paulo Gonet, faz sua manifestação no julgamento da Primeira Turma (Foto: Rosinei Coutinho - STF)

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, pediu condenação dos 7 réus e reforçou que o grupo propagou desinformação com uso de estrutura estatal, entre elas, a Abin

Durante a sessão, nesta terça-feira (14), da Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal), o procurador-geral da República, Paulo Gonet, fez exposição contundente sobre as acusações contra o “Núcleo 4” da trama golpista.

Ele destacou e reforçou o uso estratégico de narrativas falsas para fomentar a desconfiança no sistema eleitoral brasileiro.

Ele pediu a condenação dos 7 réus que integraram esse braço desinformativo da conspiração golpista, cujo ápice foi o 8 de janeiro de 2023.

O procurador-geral denunciou que “as campanhas promovidas pelos acusados, essenciais para o levante popular contra as instituições democráticas, encontram-se confirmadas pelas provas de que os autos são ricos”. “Dá-se conta de que, por meio da ação criminosa dos réus, a organização criminosa capitaneou guerra informacional crescente”.

Ele destacou ainda que “comprovou-se que os acusados agiram de forma coordenada com o núcleo central da organização criminosa, concentrando a produção e disseminação de notícias falsas contra os mesmos alvos apontados publicamente por Jair Bolsonaro, a fim de enfraquecer o prestígio popular das instituições democráticas, tornando mais fácil as medidas seguintes da sua adulteração”

Gonet enfatizou e ligou o grupo com os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. “No caso dos réus ficou claro o impacto do seu comportamento para o desfecho violento de 8 de janeiro de 2023”, afirmou.

Segundo o procurador-geral, o motim verificado ao final tem relação de causa “com a trama gerada e insuflada pela ação deste grupo de acusados”.

Este é o primeiro julgamento realizado sob a direção do ministro Flávio Dino, novo presidente da Primeira Turma.

CONTEXTO

O julgamento do “núcleo 4”, que começou nesta terça-feira ocorre numa das fases centrais da apuração da chamada trama golpista, acusada de tentar desestabilizar o processo institucional no Brasil após as eleições de 2022.

O STF já condenou todos os réus do “núcleo 1”, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e agora avança para analisar outros núcleos.

Esse núcleo é definido pela PGR como o “núcleo da desinformação”, formado por 7 pessoas que teriam promovido campanhas de notícias falsas, ataques virtuais a instituições e autoridades e uso de estruturas estatais para reforçar narrativas golpistas.

A acusação central da PGR é de que esse grupo teria sido essencial para corroer a confiança nas instituições, criando ambiente propício à ruptura institucional e à radicalização política.

FALA DE GONET

Ao tomar a palavra, Paulo Gonet apresentou como premissa que “a existência dos crimes, objeto da denúncia, foi verificada e proclamada”.

Ele enfatizou que o “núcleo 4” não atuou ao acaso, mas de modo estratégico:

·                     Uso da estrutura estatal: Gonet acusou os réus de operarem com apoio (explícito ou implícito) de órgãos públicos, apontando que essas ações não foram meras iniciativas isoladas, mas sim parte de articulação para reforçar a narrativa golpista.

·                     Desinformação com revestimento técnico: O procurador destacou que os discursos disseminados tinham aparência de tecnicidade — como auditorias ou laudos — o que aumentou a credibilidade com o público. “A campanha enganosa, revestida de aparência técnica, teve eficácia para plantar suspeita no processo eleitoral.”

·                     Contribuição para a instabilidade social: Segundo Gonet, essas ações alimentaram tensão política e mobilização social, contribuindo para que setores da sociedade aceitassem intervenções ou discursos de ruptura institucional. “A instabilidade social ensejadora de ruptura institucional e da revolta popular teve contribuição clara desse núcleo.”

·                     Pedido de condenação: Com base nas provas já dispostas nos autos, ele reafirmou o pedido de condenação dos 7 acusados.

Gonet não poupou uso de termos fortes para caracterizar o papel que o “núcleo 4” teria exercido: “As campanhas promovidas pelos acusados, essenciais para o levante popular contra as instituições democráticas, encontram-se confirmadas pelas provas dos autos”.

ACUSADOS E CRIMES IMPUTADOS

Segundo a denúncia da PGR, compõem esse núcleo:

·        Ailton Gonçalves Moraes Barros – major da reserva do Exército

·        Ângelo Martins Denicoli – major da reserva do Exército

·        Carlos Cesar Moretzsohn Rocha – presidente do Instituto Voto Legal

·        Giancarlo Gomes Rodrigues – subtenente do Exército

·        Guilherme Marques de Almeida – tenente-coronel do Exército

·        Reginaldo Vieira de Abreu – coronel do Exército

·        Marcelo Araújo Bormevet – agente da Polícia Federal

Eles respondem, conforme a acusação, pelos seguintes crimes:

·                     Organização criminosa armada;

·                     Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;

·                     Golpe de Estado;

·                     Dano qualificado pela violência e grave ameaça; e

·                     Deterioração de patrimônio tombado.


JULGAMENTO E RITO PROCESSUAL

A sessão desta terça-feira foi destinada às sustentações orais: primeiro a PGR, depois as defesas dos réus, cada uma com tempo de até 1 hora.

Na sequência, o relator, ministro Alexandre de Moraes, iniciou a leitura do voto dele, que servirá de base para os demais ministros debaterem e votarem — na ordem, da “menor antiguidade” à presidência da Turma.


Segundo o cronograma, o julgamento vai ser concluído em sessões previstas para 15, 21 e 22 de outubro.

Vale ressaltar que eventuais condenações não implicam prisão imediata: os condenados poderão recorrer antes de qualquer execução penal.

TENSÕES POLÍTICAS

A fala de Gonet evidencia como a acusação pretende fixar frente ao STF o papel central do “núcleo 4” no esquema de desinformação que ajudou a alimentar o clima de crise e questionamento institucional.

Ao destacar o uso de recursos públicos e a sofisticação das narrativas, a PGR busca demonstrar que não se trata de manifestações eventuais, mas de atuação organizada e estruturada.

Esse julgamento é simbólico: decidir o destino desse núcleo pode servir de parâmetro para os demais núcleos da trama golpista que ainda aguardam julgamento, além de reforçar a tese de que o uso deliberado da desinformação é risco central para a democracia brasileira.

Por outro lado, as defesas alegam, em geral, ausência de provas suficientes, vícios processuais e questionam a legitimidade do STF para julgar certas condutas. Em juízo, essas estratégias tendem a acionar debates sobre competência, alcance institucional e liberdade de expressão.

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