
E situação pode piorar, diz Boa Vista
O número de empresas que tiveram falência decretada cresceu 71,3% no mês de junho, em comparação com o mesmo período de 2019, segundo dados da Boa Vista SCPC, divulgados nesta terça-feira (14). O volume de pedidos de recuperação judicial também 44,6% na mesma comparação.
“Com os impactos econômicos causados pela chegada do novo coronavírus, e como já é observado na análise mensal, a tendência é de que as empresas continuem apresentando piora nos seus indicadores de solvência durante o período mais agudo de crise”, afirma a Boa Vista.
Segundo a pesquisa, as pequenas empresas foram as mais atingidas na pandemia. “As pequenas empresas, por exemplo, foram responsáveis por 93,4% dos pedidos de falências e 94,2% dos pedidos de recuperação judicial. Com relação a falências decretadas e recuperações judiciais deferidas, também houve predominância de ocorrências entre pequenas empresas, que responderam por 95,8% e 94,3% dos totais, respectivamente”, informou a Boa Vista SCPC ao divulgar os resultados.
O setor de serviços respondeu por 40,5% dos pedidos de falência, seguido pelo Comércio (29,8%) e a Indústria (29,6%). Das empresas que entraram com pedidos de recuperação judicial: 59,8 % representam o setor de Serviço, 20,1% do Comércio e 20% da Indústria.
A recuperação judicial é diferente da falência porque oferece uma chance de a empresa se recuperar financeiramente sem que seja reconhecida a falência, ou seja, sem que suas atividades sejam suspensas.
Os números apresentados pela Boa Vista SCPC demonstram o quanto foi prejudicial às empresas brasileiras a morosidade do governo federal em agir para protegê-las dos efeitos catastróficos da pandemia da Covid-19.
Quatro meses depois do estopim da pandemia no Brasil, os empresários ainda clamam por crédito e liberação de mais recursos pelo governo para capital e giro e pagamento de salários que ficaram empoçados no banco.
O crédito para socorrer as empresas só chegou às de grande e médio porte que já tinham financiamentos liberados pelos bancos antes da pandemia. Isto porque o governo Bolsonaro optou por deixar o financiamento nas mãos dos bancos, seguindo na contramão de outros países afetados pela pandemia, que injetaram dinheiro direto nas empresas, por exemplo.
Neste quadro, as micro e pequenas empresas brasileiras, que mais empregam no país, ficaram à mercê da própria sorte porque os bancos só liberaram os recursos a juros altos e entrega de garantias.
“Foram tantos não, ou tantas pessoas ignoradas, que não receberam nem o não e nem o sim”, disse o presidente da Confederação Nacional das Micro e Pequenas Empresas (Conampe), Ercílio Santinoni, em videoconferência no Congresso Nacional, na semana passada, sobre as 4 linhas de crédito do governo federal que são operacionalizadas pelos bancos.
O governo, pressionado pelo Congresso, criou uma linha de financiamento a este segmento, o Programa Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Pronampe), que prevê 15,9 bilhões de ajuda a pequenos negócios, com garantias de 85% pelo Fundo Garantidor de Operações (FGO), um fundo público. Mas o programa só começou a ser posto em prática neste mês, por pressão junto aos bancos públicos.
“Nós vamos sair dessa crise com uma destruição de CNPJ inacreditável. Não por causa das medidas de distanciamento social, mas por conta da incapacidade do governo de usar os instrumentos que ele possui, que são três bancos públicos de grande porte, com grande capilaridade, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Banco do Brasil(BB) e a Caixa Econômica Federal (CEF). O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal têm em qualquer lugar do Brasil. Tem em barco no Rio Amazonas agência da Caixa Econômica, agência flutuante, que você pode captar um empréstimo do BNDES, via Caixa Econômica, o capital de giro para as empresas. Isto não está sendo feito por questões ideológicas, não é por falta de instrumento e muito menos falta de recursos. Recurso tem de sobra”, afirmou o economista, em uma videoconferência realizada no dia 30 de junho pela Associação dos Funcionários do BNDES.
Para o sócio fundador da DASA Advogados, Carlos Deneszczuk, “o coronavírus foi a gota d’água para aquelas companhias que ainda tentavam se recuperar das crises de 2008 e 2014”, declarou ao Estadão. O empresário representa a rede de roupas masculinas Fatto a Mano, que entrou em recuperação judicial no fim do mês passado.