“Cenário é resultado da pressão inflacionária sobre o orçamento familiar, pressionando por mais crédito para manter o consumo básico”, aponta FecomercioSP
O número de famílias inadimplentes e endividadas na capital paulista atingiu novo recorde em março como resultado da inflação e juros altos. Segundo a Pesquisa Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), 23,1% das famílias paulistanas atrasaram contas e dívidas no mês passado, o maior nível da série histórica da pesquisa que começou em 2010. Em números, isso representa 927 mil lares – 55 mil a mais do que em fevereiro e 194 mil além do que foi registrado em março de 2021.
“O cenário é resultado da pressão inflacionária sobre o orçamento familiar, pressionando por mais crédito para manter o consumo básico”, avalia a entidade, alertando que a limitação nas rendas terá impacto sobre as vendas do comércio varejista no primeiro semestre.
O percentual de famílias que declararam não ter nenhuma condição de pagar suas dívidas, de 9,4%, também bateu recorde, atingindo patamares de outubro de 2018.
“JUROS ELEVADOS AGRAVAM A SITUAÇÃO“
“Em termos absolutos, 374,7 mil vão precisar renegociar com bancos, financeiras e lojas para evitar multas e juros elevados, que já agravam a situação, pois há mais incidência de taxas, e, consequentemente, sobram menos recursos para o consumo diário”, afirma a nota de divulgação da pesquisa da FecomercioSP.
Com as rendas apertadas até mesmo para as despesas mais básicas, o endividamento também voltou a subir em março, para 74,3% dos lares da cidade de São Paulo. São 2,98 milhões com algum tipo de dívida – aumento anual de 627 mil.
O cartão de crédito é a modalidade campeã de endividamento, já que cada vez mais famílias recorrem a ele até mesmo para colocar comida na mesa com a inflação atingindo, há sete meses consecutivos, patamares de dois dígitos. Segundo a pesquisa, 88,5% das famílias entrevistadas devem para o cartão, cujos juros que acompanham a taxa básica, estão acima de 350% ao ano.
Entre os que afirmam que precisarão contrair crédito nos próximos meses, 66,4% afirmam que usariam o crédito para consumo; 21,5%, para quitação de dívida; e 9,4%, para pagamento de contas.
“Entretanto, apesar de a maior parte ser destinada às compras, diante do cenário atual, o que pode justificar esta intenção são os gastos básicos com alimentos, e não a expansão do consumo em bens duráveis, por exemplo. Pelo contrário, os números da inadimplência e do endividamento criam limitações”, diz a entidade.
Na avaliação da federação, apenas a retomada do emprego, que atualmente se pauta na informalidade, poderia recompor a renda das famílias.
“Na avaliação da FecomercioSP, porém, o aumento dos juros deve limitar a intenção de investimentos das empresas, mantendo a situação [do emprego] ainda delicada para o resto do ano”.