O Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais e a Defesa Civil do estado atualizaram, nesta segunda-feira (4), em 134 o número de mortos, após o rompimento da Barragem da mineradora Vale, em Brumadinho. Desse total, 120 já tiveram as identidades confirmadas pelas autoridades. Além disso, 199 pessoas ainda permanecem desaparecidas.
As buscas foram suspensas pelo Corpo de Bombeiros por cinco horas, durante a forte chuva que caiu sobre o município na manhã e o início da tarde desta segunda-feira. Este foi o 11º dia de resgates. Ao menos três corpos foram encontrados próximos a um vestiário da mineradora.
O tenente Pedro Aihara, porta-voz dos Bombeiros, admitiu a possibilidade de corpos não serem encontrados em meio ao “mar de lama” que tomou conta da região após o rompimento da barragem administrada pela Vale.
“A gente trabalha o mais rápido possível para encontrar o maior número (de corpos). Só que, evidentemente, pela característica da tragédia e a situação biológica de decomposição, alguns corpos a gente estima que eles infelizmente não serão possíveis de serem recuperados, mas trabalhamos para que seja o menor número possível”, afirmou Aihara.
O tenente está na linha de frente do contato com os parentes das vítimas, que o procuram desesperados. “Como as pessoas veem meu rosto e acabam associando com os bombeiros é natural que me procurem, porque enxergam em mim o representante da instituição. O tempo todo perguntam: ‘Já sabem onde está o meu parente? Eu não sei de nada, conseguem me ajudar?'”, contou. “Abraçar a todas essas famílias e sentir essa dor que eles estão sentindo é o maior desafio para mim”, disse Aihara.
Para ele encerrar as buscas sem ter encontrado todos os corpos será o momento mais difícil.”Esperamos que antes disso a gente tenha conseguido encontrar o maior número de corpos possível. Essa notícia de encerrar as buscas sem ter encontrado todo mundo, acho que vai ser o momento mais difícil dessa operação. É a notícia que eu não quero dar. Não quero ser o porta-voz dessa tragédia.”
Segundo Aihara, a estimativa é que os trabalhos em Brumadinho levem até seis meses para serem concluídos.
“Rio Paraopeba está morto”
O secretário de governo da prefeitura de Brumadinho (MG), Ricardo Parreiras, declarou neste domingo (3), que “não existe mais vida aquática no Rio Paraopeba”.
O rio foi totalmente atingido dominado pela lama com resíduos de decorrentes do rompimento da Barragem de Brumadinho. De acordo com o secretário a água nas proximidades da cidade está completamente contaminada e que o nível de oxigênio necessário para sobrevivência de peixes e outras formas de vida é zero.
A declaração do governo retrata exatamente as pesquisas realizadas pela ONG SOS Mata Atlântica, que percorreu parte do Rio Paraopeba na última semana e concluiu que, do ponto do rompimento da barreira até pelo menos 40 km, o rio está morto.
Segundo a especialista em água da ONG, Malu Ribeiro, a água tinha uma contaminação quase cem vezes o indicado pela legislação para águas de rios e mananciais e que o rio “mais parecia um tijolo líquido”.
Tal fato levou a concessionária Águas de Pará de Minas, do município de mesmo nome localizado a 76 km de Brumadinho, a suspender a captação de água do rio Paraopeba para o abastecimento de cerca de 100 mil habitantes da região.
No entanto, Malu Ribeiro ainda acredita que o rio pode ser recuperado. “Os grandes rios têm uma grande capacidade de regeneração. Mas, pra que isso aconteça, é fundamental que toda a mata que ele perdeu com essa devastação seja recomposta, que o solo seja recomposto, porque é justamente a floresta que mantém o ciclo hidrológico. E é isso que o rio precisa agora.”
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba (CBH Paraopeba), Winston Caetano de Souza, salienta que, apesar do monitoramento feito pelos órgãos ambientais, serão necessárias analises mais profundas para saber a dimensão da contaminação do rio por metais pesados, principalmente, em relação aos organos-clorados. “Dai, poderemos fazer uma avaliação mais acertada”, observa.
“São aproximadamente 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minérios. Portanto, ainda é cedo para fazermos uma avaliação nesse momento”, afirma Souza. Por outro lado, ele lembra que os comitês de bacias, os órgãos ambientais e os municípios aguardam o plano de recuperação ambiental a ser apresentado pela Vale.
Ele também relembrou que os danos ambientais provados pela lama de rejeitos de minério que vazou da barragem de Brumadinho são imensuráveis. Ele lembra que os rejeitos causaram a morte do Córrego do Feijão, e do manancial Ferro-Carvão e, por consequência, atingiram também o Rio Paraopeba, atingindo a flora e a fauna. Além disso, a lama comprometeu as águas da região. “E ainda não sabemos os impactos no lençol freático, entre outros danos”, destaca o ambientalista.