O número de pedidos de recuperação judicial deve continuar crescendo em 2024, segundo a empresa Serasa.
Em fevereiro, a demanda por recuperação judicial aumentou em 64,1% frente ao mesmo mês do ano passado. Em relação a janeiro, o crescimento foi de 13,4%.
Ao todo, no mês foram 169 companhias que entraram com esse tipo de pedido na Justiça. Em fevereiro de 2023, o registro foi de 103 requerimentos.
As empresas, sobretudo, as de micro e pequenos portes, seguem sendo asfixiadas pelas dívidas após a pandemia de Covid-19, época em que disparou os juros base da economia (Selic), de responsabilidade do Banco Central (BC), que saiu dos 2%, em 2021, para 13,75% ao ano, em 2022, jogando para lua o custo do serviço das dívidas das empresas – que já enfrentavam dificuldades financeiras, por consequência das crises econômicas que atingiram o país na última década.
A Selic só voltou a cair em agosto de 2023, mas a conta-gotas, com o corte de 0,5 ponto percentual em cada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que ocorre a cada 45 dias.
Em fevereiro de 2024, as micro e pequenas empresas marcaram o maior número das requisições de recuperação judicial (107), seguidas pelas médias (41) e grandes companhias (21).
Por setor da economia, “Serviços” foi o que mais demandou por recuperação judicial, com 66 pedidos. Em seguida vem o “Comércio”, com 54 requisições, seguida pela Indústria (28) e o Primário (21).
Já os pedidos de falência também cresceram em fevereiro deste ano. Ao todo foram 80 requisições à Justiça, alta de 15,9% em relação a janeiro de 2024. Frente a fevereiro de 2023 haviam sido 86 pedidos.
As micro e pequenas empresas também lideraram neste ranking nas requisições, com 44 solicitações. As empresas de médio porte vêm a seguir (21), seguida pelas de grande porte (15).
No recorte por setor, o de “Serviços” também foi o que registrou mais pedidos (33), seguido por Comércio (24) e Indústria (23).
Segundo o economista sênior da Serasa Experian, Luiz Rabi, as recuperações “devem se manter em alta assim como se deu em 2023. Nós ainda estamos em um nível elevado de inadimplência. As empresas acumulando inadimplência acabam tendo que resolver suas pendências dessa forma [pedir recuperação judicial], declarou Rabi, em reportagem do site Poder360.
Cerca de 6,7 milhões de empresas estavam inadimplentes no Brasil em janeiro deste ano, conforme dados do Indicador de Inadimplência das Empresas da Serasa Experian. Em dezembro de 2022, eram 6,6 milhões.
No ano passado, foram registradas mais de 1.405 solicitações de recuperação judicial, sendo uma alta de 68,7% na comparação com 2022. Esse foi o maior resultado desde 2020 e o quarto índice mais alto registrado pela série histórica do Indicador de Falência e Recuperação Judicial da Serasa Experian, iniciada em 2005.
O número de pedidos e decretação de falências também cresceram 13,5% e 8,6%, respectivamente, de um ano para o outro. Em 2023, foram 983 pedidos, sendo 727 decretadas. Já em 2022, haviam sido 866 solicitações, sendo 669 decretações de falência confirmadas.
Ocorre que, com a Selic encerrando o ano passado em 11,75%, num ambiente de inflação baixa registrada no ano, não houve alteração significativa no nível do juro real (desconsiderando a inflação), que segue alto Brasil e o segundo maior do mundo mesmo após os dois cortes seguintes de 0,5 p.p, em cada encontro realizado pelo Copom neste ano, que reduziram a Selic para 10,75% ao ano.
Com uma taxa de juros reais em 5,90% ao ano, o Brasil está atrás apenas do México (7,46%), segundo o ranking mundial de juros reais, elaborado pelo Portal MoneYou, que leva em conta as taxas de 40 países.
No entanto, desprezando os graves problemas que os juros altos estão causando nos setores produtivos no país, o Copom sinalizou que deve reduzir ainda mais, a partir de junho, o ritmo de corte na Selic, em ata da última reunião do comitê, que veio ao público na última terça-feira (26). No mesmo documento, o próprio colegiado recolhesse que neste ano atividade econômica segue desacelerando.
“No âmbito doméstico, o conjunto de indicadores recentes de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia esperado pelo Comitê”, afirmou o Copom na ata.