As mortes provocadas pela chuva da última semana em Petrópolis, na região serrana fluminense, chegam a 178, segundo informações do Corpo de Bombeiros. As equipes trabalham dia e noite no resgate de vítimas. Além dos corpos encontrados, os bombeiros retiraram 24 pessoas com vida.
O número de mortes tende a crescer nos próximos dias, já que foram computados pela Polícia Civil 110 desaparecidos após o temporal que arrasou a cidade. Segundo a prefeitura, 812 pessoas estão desabrigadas e ocupam 21 unidades escolares da cidade.
Na terça-feira (15), a cidade foi arrasada por um forte temporal que resultou em mais de 400 deslizamentos num total de 553 ocorrências registradas pela Defesa Civil, incluindo alagamentos e avaliações de risco.
O temporal em Petrópolis superou os desastres registrados em 1988 e 2011, se tornando o mais letal já vivido pela cidade. Até então, o desastre registrado em 1988 havia sido o mais letal para a cidade, com 134 mortos. Em 2011, os temporais causaram 73 vítimas fatais em Petrópolis, mas também castigaram cidades vizinhas, deixando 918 mortos e 100 desaparecidos em cidades da região serrana.
Petrópolis tem um quinto de seu território sob alto risco e fica na serra do Rio de Janeiro, que sofre anualmente com tempestades de verão e deslizamentos.
A cidade tem 234 locais de risco alto ou muito alto, o que equivale a 18% do território e 12 mil moradias, segundo o Plano Municipal de Redução de Riscos publicado em 2018.
Grande parte dos imóveis condenados há 11 anos na região não foi demolida e voltou a ser ocupada por quem não conseguiu moradia ou discordou das opções dadas pelo poder público. Os moradores reclamam que as unidades habitacionais construídas desde então não são suficientes.
As salas de velórios estão cheias, e os enterros estão sendo feitos em sequência no Cemitério Municipal de Petrópolis desde a tarde de quarta (16). A prefeitura abriu novas covas rasas (menos profundas e mais baratas) e descartou um grande enterro coletivo “para respeitar a programação das famílias”.
Segundo a prefeitura de Petrópolis, 114 corpos tinham sido sepultados até a noite do último domingo (20). O trabalho de identificação e liberação de corpos continua sendo feito pelo Instituto Médico Legal (IML). Também estão sendo procurados mais de 100 desaparecidos.
No último domingo, a Defesa Civil de Petrópolis acionou, no fim da tarde, as sirenes do primeiro distrito, além de emitir avisos por SMS e grupos de comunicação por aplicativo. O primeiro distrito envolve a parte mais densa da cidade e os bairros já atingidos pelos deslizamentos de terra e enchentes do dia 15, como Alto da Serra, Bingen, Quitandinha, Valparaíso e Centro.
LIMITAÇÃO DE ACESSO
A Prefeitura de Petrópolis vai limitar a partir desta segunda-feira (21) o acesso a pontos sensíveis da cidade apenas para as equipes do Corpo de Bombeiros. A decisão foi anunciada pelo prefeito da cidade, Rubens Bomtempo, em entrevista à ‘Globonews’, no domingo. Bomtempo, afirma que as equipes atuarão com “mais celeridade” e menos risco, uma vez que ainda há pontos com terreno instável, como é o caso do Morro da Oficina, área mais atingida pela tragédia.
“A gente vai limitar o acesso ao epicentro, no Alto da Serra, para que o Corpo de Bombeiros possa atuar com mais celeridade”, disse Bomtempo. Na madrugada desta segunda-feira, o Corpo de Bombeiros chegou a suspender as buscas por desaparecidos no Morro da Oficina, que fica no Alto da Serra, por conta de uma forte ventania. A força-tarefa foi retomada às 7h. Até o momento, voluntários, bombeiros e até mesmo populares têm se misturado em pontos estratégicos do socorro às vítimas.
“Nós tomamos algumas decisões importantes para que a gente possa, cada vez mais, priorizar o resgate das vítimas, que é a parte mais difícil, e prioridade número um. Afinal de contas, entes queridos têm direito de constatar que o familiar mais amado não vai estar mais presente na vida deles. Então a gente precisa priorizar essa ação (de limitar o acesso)”, disse Bomtempo, em entrevista à ‘Globonews’.
Da mesma forma, quando questionado sobre o que já foi feito na cidade para apoiar os moradores, e evitar que eles se instalem em áreas de risco, o prefeito Rubens Bomtempo disse que a administração municipal construiu “diversos conjuntos habitacionais”. No entanto, não deixou de cobrar apoio do governo federal para resolver o problema da região.
“Tem muito problema, são problemas históricos que a gente vive. Inclusive lá no Morro da Oficina, que é a área mais atingida, é uma área federal”, ressaltou.
O chefe do Executivo municipal destacou que projetos devem ser construídos “em cima de um plano nacional de defesa civil, habitação popular”. Para ele, o município pode fazer sua parte oferecendo terreno e infraestrutura “para que o estado e a união possam dar também a sua contribuição nesse papel”.