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Segundo o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), “querem fazer da Frente Evangélica um puxadinho do bolsonarismo”
O deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) disse que Jair Bolsonaro nunca mais terá sua solidariedade por tê-lo tratado como inimigo e feito “sacanagem” na eleição da Presidência da Frente Parlamentar Evangélica (FPE).
“Foi a eleição do medo. Eu fui o cara mais aliado do Bolsonaro. Mas, por pensar diferente, fui eleito inimigo e adversário dele. E aí os outros deputados pensam: imagina o que vai ser de mim”, falou Otoni em entrevista para a revista Veja.
Ele disputou a liderança da Frente e recebeu 61 votos, mas foi derrotado por Gilberto Nascimento (PSD-SP), que teve 117 votos.
Na avaliação de Otoni, a disputa foi marcada pela pressão de Jair Bolsonaro contra sua candidatura. Foi disseminado uma imagem de que, sendo eleito presidente da Frente Parlamentar Evangélica, Otoni de Paula iria aproximar o grupo do governo Lula.
“A ala que ganhou foi a que se submeteu à ameaça que o ex-presidente Bolsonaro fez que, se eu fosse eleito, ele entenderia isso como uma traição”, comentou o deputado. Segundo Otoni, “querem fazer da FPE um puxadinho do bolsonarismo”.
“Minha avaliação é que não fiz uma disputa com Gilberto, que é meu irmão e amigo, mas fiz uma disputa com Bolsonaro. Quando Bolsonaro entrou em campo, isso obviamente – sem tirar o mérito do Gilberto – foi o que realmente pesou”, relatou o deputado.
Apesar de Otoni de Paula ter apoiado Jair Bolsonaro durante todo seu governo, o ex-presidente não aceitou que ele decidiu apoiar Eduardo Paes (PSD) contra o bolsonarista Alexandre Ramagem (PL) na disputa pela Prefeitura do Rio de Janeiro.
Por conta de sua recente postura na eleição da FPE, Otoni de Paula declarou que “nunca mais Bolsonaro terá minha solidariedade para nada”.
“Meu candidato [à Presidência], até então, podia ser Bolsonaro. Mas me mantenho com Ronaldo Caiado. Foi sacanagem o que fizeram. Tenho amor próprio”, continuou.
Otoni de Paula disse que quer “aproveitar que Bolsonaro me elegeu como adversário e vou continuar na minha marcha para dizer que a igreja não é de Lula, de Bolsonaro, do PT ou do PL”.
O pastor Silas Malafaia, apesar de discussões públicas que teve com Bolsonaro, também apoiou Gilberto Nascimento na disputa pela Frente. Seus aliados tentaram emplacar em Otoni o apelido de “novo comunista gospel”.
O pastor bolsonarista contou que ligou para o ex-deputado Robson Lemos Rodovalho, que é presidente da Fundação Neopentecostal Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, apelando que “nós não podemos deixar um cara que vai ser instrumento do governo Lula ganhar a frente”.
O movimento articulado por ele foi que a deputada Greyce Elias (Avante-MG) desistisse de sua candidatura, dando mais espaço para Gilberto Nascimento. “O nome foi retirado e acabou a festa”, contou Malafaia.