Uma marcha de dezenas de milhares de pessoas tomou o centro de Montevidéu na noite da segunda-feira, 20, para condenar os assassinatos cometidos e exigir informações sobre os presos desaparecidos durante a ditadura no Uruguai (1973-1985), como ocorre a cada 20 de maio com a “Marcha do Silêncio”.
Apesar da chuva e do frio, a multidão caminhou pela principal avenida da capital com cartazes que diziam: “Que nos digam onde estão! Contra a impunidade de ontem e de hoje”, para cobrar informações sobre o destino dos desaparecidos naquele período.
A passeata deste ano foi marcada pelas revelações de um militar reformado que reconheceu que se livrou do corpo de um membro do grupo guerrilheiro Movimento de Libertação Nacional (MLN-Tupamaros) pouco antes do golpe de Estado de 1973.
A confissão do tenente-coronel José Gavazzo, preso por 28 homicídios, foi publicada no início de abril e provocou um grande escândalo no país.
A Marcha do Silêncio se realiza ininterruptamente desde 1996 todos os 20 de maio em Montevideo, em outras localidades do Uruguai e inclusive fora das fronteiras do país. Este ano, houve atos em Buenos Aires, Paris, Madrid e Santiago do Chile, onde vive uma grande quantidade de uruguaios.
A data lembra, entre outros, os assassinatos do senador da Frente Ampla, Zelmar Michelini, do deputado do Partido Nacional, Héctor Gutiérrez Ruiz, de Rosario Barredo e William Whitelaw, estes dois últimos ocorridos em Buenos Aires em 1976, assim como o do desaparecimento de Manuel Liberoff.
“É por sobre todas as coisas um abraço a todos nossos desaparecidos”, expressou o grupo Mães e Familiares de Detidos Desaparecidos que organizou a marcha.
Indicou que a manifestação de todos os anos é “uma cálida demonstração de solidariedade com aqueles que sofreram e ainda sofrem as consequências da barbárie do terrorismo de Estado, e particularmente com a luta das mães que buscaram seus filhos e os continuam buscando”.
A Marcha do Silêncio constitui um “não rotundo às políticas de esquecimento”.
“Lembra-nos que o crime do desaparecimento continua se cometendo hoje em alguns lugares e representa uma ameaça permanente para as novas gerações que devem viver livres e lutar por seus sonhos sem essa carga. Por isso estas marchas são também um abraço protetor para nossos jovens”, indicou a organização de direitos humanos.
As Marchas do Silêncio expressam “a vontade de milhares de cidadãos em todos os cantos de nosso país, que não querem que esta história se repita. Nunca mais ditadura, nem terrorismo de Estado!”.
SUSANA LISCHINSKY