De volta a seus mais inspirados dias de alcoviteiro de belicista, o New York Times na segunda-feira (12) deu visibilidade a uma provocação contra as conversações entre os EUA e a Coreia Popular, estampando na primeira página que Pyongyang estava engajada “em um grande embuste” e mantinha “16 bases secretas de mísseis”, com base em um relatório de um desconhecido “Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais” (CSIS), adicionando mapas e imagens de satélite requentadas, e pondo realce na base de Sakkanmol.
Porta-voz do presidente Moon Jae-in condenou em Seul a impostura do NYT, assinalando que a existência dos mísseis não é “nada de novo” e rechaçou o uso do termo “embuste” por parte do jornal e de agências de notícias, advertindo sobre a ameaça implícita às negociações do Norte com os EUA.
A escalada de fake news do New York Times contra a Coreia Popular repete o padrão do jornal, como fez durante a preparação da invasão do Iraque, de publicar mentiras sobre “as armas de destruição em massa de Sadam”, fabricadas pela CIA, para dar pretexto à guerra de agressão e assalto ao petróleo. Posteriormente, demitiu a jornalista que era o enlace do jornal com o antro de Virginia, e continua posando de vestal.
A divulgação da provocação também teve seu ‘timing’ cuidadosamente preparado, já que no meio da semana passada o principal negociador norte-coreano, Kim Yong Chol, iria a Washington para avançar nos preparativos para a segunda cúpula Kim-Trump, mas a visita foi suspensa no último minuto por Pyongyang, após embates no Conselho de Segurança sobre o alívio das drásticas sanções contra o povo coreano, em contrapartida aos gestos de boa vontade do Norte, proposto pela Rússia.
O porta-voz da Casa Azul – o palácio de governo em Seul – advertiu que “falar de ‘segredos’ ou ‘não declarados’ ou ‘embuste’ pode possivelmente trazer mal-entendidos neste momento, quando há uma necessidade de diálogo com o lado norte-americano, porque pode bloquear as negociações e prejudicar a abertura das negociações”.
Ele acrescentou que a Coreia Popular não havia prometido anteriormente fechar a base de mísseis Sakkanmol, citada no relatório do CSIS, dizendo que “não houve nenhum tratado ou negociação que determinasse seu fechamento”. Aliás, conforme o jornal sul-coreano Hankyoreh, já se sabia que Sakkanmol era uma base de mísseis, desde o lançamento em 2016, dali, de um míssil.
O jornal sul-coreano ouviu também um especialista militar e professor da Universidade Kyungnam (sul), Kim Dong-yeop, que considerou “problemático” que o artigo “deturpe imagens de satélite de muito tempo atrás, como se refletissem as atividades recentes da Coreia do Norte”.
“A Coreia do Norte declarou uma moratória nos lançamentos de testes de mísseis e declarou abertamente seus planos de desmantelar o local de lançamento dos satélites do Mar do Oeste em Tongchang”, assinalou.
O acadêmico acrescentou que são os EUA que “precisarão apresentar medidas correspondentes, como o afrouxamento das sanções, antes que a Coreia do Norte possa honrar sua promessa condicional e suspender suas atividades atuais de desenvolvimento nuclear e de mísseis.”
É o próprio artigo do NYT que evidencia em que jogo o jornal está empenhado. Um certo Victor Cha, que é apresentado como o responsável pela elaboração do relatório CSIS, assevera que “o que todos estão preocupados é que Trump vai aceitar um mau acordo [com a Coreia do Norte]”. Antes dissera que “não é como se essas bases tivessem sido congeladas, o trabalho continua”.
Nem o CSIS, nem o NYT apresentaram a mínima prova do que afirmaram. O CSIS não passa de uma dessas numerosas fachadas, todas pagas pelo Pentágono e a CIA, para produzir aos borbotões provocações contra os países que não são vassalos de Washington.
Na cínica peroração do NYT, Pyongyang continua desenvolvendo mísseis balísticos em 16 bases secretas “o que sugere” – esse é o verbo usado – “um grande embuste” e que seria falsa a afirmação de Trump que o desenvolvimento nuclear e de mísseis da Coreia do Norte havia “parado” por meio de negociações bilaterais.
O que o NYT alega como evidência são imagens de satélite feitas em 29 de março [de antes da cúpula de Cingapura] pela empresa privada de satélites Digital Globe, mostrando instalações relacionadas a mísseis em Sakkanmol, no condado de Hwangju, província de North Hwanghae. As instalações são construídas ao longo de um vale estreito em uma área montanhosa, com sete longos túneis dentro da base, permitindo a entrada de até 18 veículos de transporte de mísseis, afirma o artigo. Segundo o jornal, em vez de armazenar mísseis em silos subterrâneos vulneráveis a ataques preventivos, a Coreia do Norte construiu suas bases de mísseis em um estreito vale de montanhas, difícil de detectar e de atacar. Naturalmente, os EUA possuem imagens de satélite muito mais detalhadas do que as dessa empresa privada que, como o jabuti da anedota, foi parar na forquilha da árvore, sobre Sakknmol.
Há poucos dias, a chancelaria norte-coreana havia alertado aos que acham que o norte vai se desarmar unilateralmente que “sanções e melhoria das relações são incompatíveis”. A proposição assinada em Cingapura foi de um processo de construção mútua da confiança e segurança, rumo à paz, passo a passo. As mais importantes concessões partiram de Pyongyang, com a suspensão de testes nucleares e de mísseis. Na semana passada, os EUA encenaram uma volta às manobras militares, pequena, mas simbólica, de 500 soldados. Washington também tem se negado a assinar declaração de fim da guerra da Coreia. As relações intercoreanas seguem avançando e 20 postos na fronteira foram desmobilizados.
A.P.