IRAPUAN SANTOS (*)
“Aquele que diz que o negro,
Sequer liberdade exigiu
Gente que não sabe de nada
Da história do Brasil”
Extraímos o texto em destaque no início desta mensagem do samba “13 de Maio”, composto por Bandeira Brasil e Luiz Carlos da Vila, que o gravou no LP Raças Brasil de 1995. Não por acaso, este grande sambista, poeta e compositor foi eleito o primeiro diretor de cultura do CNAB, no seu Congresso de fundação realizado naquele mesmo ano.
O título “Por um Brasil Brasileiro” deu nome a um livro publicado por Cláudio Campos, que preso de 1982 a 1983 sob o Governo Figueiredo, o último da ditadura, reúne textos de combate à submissão da economia brasileira aos interesses estrangeiros e aponta os caminhos a serem seguidos para a derrubada da ditadura, já em seus estertores, e a construção da democracia e a soberania nacional.
O dia 13 de Maio de 1888 representou para o povo brasileiro um momento ímpar para o qual confluíram todas as aspirações de progresso e igualdade que ao longo dos anos marcam nossa epopeia nacional: A Batalha dos Guararapes e a Expulsão dos Holandeses, onde para Martinho da Vila “O Brasil Aprendeu a Liberdade”; a República dos Palmares; a Conjuração Mineira; a Revolução Pernambucana; a Confederação do Equador; a Guerra do Paraguai e tantas outras escaramuças maiores e menores, sempre heroicas, contempladas pelos versos do poeta contemporâneo que conclama “Glória a todas as lutas inglórias/ Que através da nossa história/ Não esquecemos jamais”.
A Campanha Abolicionista que evoluiu da luta emancipacionista, marcada pela arrecadação de fundos para compra de cartas de alforria, para a luta aberta pela abolição da escravatura sob a consigna “A escravidão é roubo”, tendo como base o sangue, a tragédia e a resistência permanente dos escravos, uniu amplas forças sociais e preparou a derrocada do império substituída no ano seguinte pela República.
A força inegável deste momento histórico mais uma vez ficou demonstrada em fevereiro de 2021 quando foi publicada n’O Globo o resultado de uma pesquisa encomendada pela Febraban ao Ibespe, em que entrevistados “sobre os momentos mais significativos do Brasil”, 31% dos brasileiros declararam ser a assinatura da Lei Áurea, 18% a Independência do Brasil e 8% a Proclamação da República.
O CNAB tem o orgulho de nos últimos trinta anos ter se constituído na principal entidade popular no Brasil a sustentar o papel fundamental desta luta na constituição da nossa nação e no modo de ser e combater do povo brasileiro. O poeta, escritor, ativista, humanista, Eduardo de Oliveira, líder maior da criação do CNAB, que compôs o Hino à Negritude, hoje reconhecido institucionalmente pelos poderes constituídos, chamou-o no momento da criação de “Hino 13 de Maio – Cântico da Abolição”.
O Brasil vive nos tempos atuais momentos semelhantes aos que viveu nos anos 80 em que se configurava a saída de décadas de ditadura. Lá o país estava submetido ao FMl através de uma dívida externa impagável. Hoje se submete entregar aos rentistas 780 bilhões ao ano, enquanto a educação, a saúde, o transporte, a moradia carecem de investimentos. O arrocho salarial que sufoca o mercado interno ainda prevalece. É grave a situação do emprego, fruto da quebra das conquistas trabalhistas o subemprego hoje prevalece, causando uma falsa aparência de utilização da mão-de-obra disponível.
Mais do que nunca a consigna “É hora de romper com a dependência” está diante de nós. Como sempre, na história dos países dependentes estamos diante de dois caminhos: civilização ou barbárie; Tiradentes ou Silvério dos Reis; crescimento, soberania e democracia ou estagnação, submissão e fascismo; cultura nacional ou lixo cultural despejado pelo império para o embrutecimento do povo. Enfim, um Brasil Brasileiro ou uma neo-colônia.
A união das forças nacionais conquistada com muito esforço levou à derrocada da ditadura e desaguou na conquista da Constituição Cidadã de 1988 que se constituiu num novo marco civilizatório para o País. Hoje a frente ampla continua na ordem-do-dia. É preciso varrer todo o entulho econômico, preconceituoso e anti-cultural deixado pelos homúnculos bolsonaristas. É preciso olhar para frente. Retirar o Brasil da camisa de força econômica e social em que se encontra. Discutir as alternativas para a reconstrução nacional ampla e massivamente com o povo e a sociedade. Nós do CNAB temos compromisso com a transformação que leve em conta nossa história, nossa cultura, nossa trajetória e estaremos sempre ao lado das forças do progresso contra o atraso.
No ano que vem o CNAB completará 30 anos de luta em defesa da igualdade racial, do papel do negro na construção do Brasil e por uma Pátria igualitária e desenvolvida. Em 2027 nosso fundador, patrono, líder maior e guia Professor Eduardo de Oliveira, completaria 100 anos. Em agosto deste ano promoveremos a Semana Professor Eduardo de Oliveira. Elegeremos uma comissão para a organização do Centenário do Professor Eduardo, promoveremos atividades musicais, cinematográficas e palestras, culminando com a realização do V Congresso do Congresso Nacional Afro-Brasileiro – CNAB.
– Unir as forças nacionais numa frente cada vez mais ampla!
– Crescimento e Soberania!
– Por um Brasil Brasileiro!
– Viva o 13 de Maio!
(*) Vice-presidente do Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB)