
Com Bolsonaro, “todos que tentam trabalhar terminam alvejados pelas costas”, acrescentou o ex-ministro, um dia antes de morrer
“O Brasil ainda vai enxergar quem são Bolsonaro e seus filhotes”, disse o ex-ministro Gustavo Bebianno ao jornal Folha de S. Paulo, no que foi a sua última declaração pública antes de morrer em Teresópolis, na madrugada deste sábado (14). “Todos que tentam trabalhar terminam alvejados pelas costas”, acrescentou Bebianno na seção “Tiroteio” da Coluna Painel, assinada por Mariana Carneiro e Guilherme Seto.
A declaração Bebianno se referia ao processo de fritura de que agora é alvo o ministro Luiz Eduardo Ramos.
Em entrevista à radio Jovem Pan, no final do ano passado, Bebianno disse: “obviamente eu me sinto sim ameaçado”, Ele disse também naquela ocasião que tem material guardado, inclusive no exterior, e relatou que Carlos Bolsonaro, filho do presidente, que Bebianno afirma ter problemas mentais, estava montando uma espécie de ABIN (Agência de Informação) paralela no Palácio do Planalto.
“Me sinto, sim, ameaçado. O presidente Jair Bolsonaro é uma pessoa que tem muitos laços com policiais no Rio de Janeiro. Policiais bons e ruins. Me sinto, sim, vulnerável e sob risco constante. […] Eu tenho material, sim, inclusive fora do Brasil. Porque eles podem achar que, fazendo alguma coisa comigo aqui no Brasil, uma coisa tão terrível que fosse capaz de assustar quem estivesse ao meu redor e, portanto, inibir a divulgação de algum material… Eu tenho muita coisa, sim, inclusive fora do Brasil. Então, não tenho medo”, afirmou.
Bebianno afirmou que Bolsonaro é mau caráter e que o considera como traidor todos os que tentam lhe fazer críticas construtivas.
No dia 15 de novembro do ano passado, o ex-ministro disse ao jornalista Guilherme Amado, da revista Época. “Só contei 3% do que sei. Meu objetivo não é destruir o governo, mas sim proteger o Brasil e sua democracia”. “Estou de olho no governo e na família Bolsonaro”, disse ainda o ex-ministro na ocasião.
Pelo Twitter, o jornalista contou também ter falado com Bebianno nos últimos dias. “Sem saber que eu estava de férias, me enviou uma mensagem. Temia o risco da incitação pelo governo federal de motins nas polícias: ‘O importante para o país, agora, são as PMs e esse curso para lavagem cerebral deles do Olavo’”, relatou Bebianno, segundo Amado.
Em 2 de março, no Roda Viva, Bebianno relatou ter medo de falar tudo o que sabe sobre os atos que envolvem Jair Bolsonaro. Ao ser pressionado por jornalistas, fora do ar, respondeu: “Está vendo aquele ali [apontando para o seu filho]? É o meu único segurança”, disse. O jovem era o único na plateia de convidados de Bebianno. O filho de Bebianno estava com ele em Teresópolis na madrugada de sábado (14) quando ele teria tido um infarto e morrido.
Segundo o site Congresso em Foco, a fundadora do movimento Política Viva, do qual Bebianno participava, a empresária Rosangela Lyra defende que haja uma investigação sobre as circunstâncias da morte do ex-ministro. “Temos de ver o que aconteceu. Tudo tem de ser apurado muito em função das mensagens que ele mencionava nas entrevistas. Ficamos pensativos, até pelo momento político do país. Escuta-se falar muito de queima de arquivo, de que existem várias formas de matar alguém”, afirmou Rosangela.
AMIGOS PEDEM MAIS INVESTIGAÇÕES
Vice-presidente do PSL, o deputado Junior Bozzella (SP) disse que ainda não conversou com familiares do ex-ministro, mas considera importante que sejam tomadas todas as providências para esclarecer o episódio. “Ele era um arquivo vivo, a pessoa mais próxima de Bolsonaro na campanha. A mim nunca me confidenciou nada. Sempre foi muito republicano e não fazia ilações. Mas é natural que agora surja todo tipo de especulação”, observou.
“Quando se trata de política, poder, interesse, tudo tem de ser analisado. Crimes políticos não são raridade no Brasil. Quando há divergências emblemáticas, como no caso dele, é natural que terceiros queiram aprofundar as circunstâncias da morte”, completou o deputado, porta-voz do grupo do presidente do PSL, Luciano Bivar, que faz oposição à ala bolsonarista.
Bebianno, de 56 anos, estava em seu sítio, com seu filho. Ele passou mal e sofreu uma queda. Morreu logo após ser levado a um hospital. A morte foi confirmada pelo amigo e presidente estadual do PSDB, Paulo Marinho. “Ele morreu de tristeza”, disse Marinho.
O corpo de Bebianno foi encaminhado para o Instituto Médico Legal de Teresópolis. Segundo o delegado Vinícius Galhardo, a equipe médica decidiu encaminhar o corpo para a necrópsia devido ao ferimento no rosto provocado pela queda no banheiro.
“Num procedimento desse, o corpo seria liberado no próprio hospital. O problema é que, como ele estava com uma lesão no rosto, por conta do tombo, o médico ligou para a delegacia e sugeriu a remoção para o IML. Isso é mais do que comum. Para evitar qualquer questionamento, eu determinei a remoção para que fossem feitos os exames e sanar qualquer tipo de dúvida. O exame já foi feito. O laudo apontou infarto fulminante”, afirmou o delegado Vinícius Galhardo, responsável pelo caso.