“Ao invés de discutir os problemas do Brasil, Bolsonaro me ataca, ao invés de explicar como a sua família juntou 26 milhões em dinheiro vivo para comprar 51 imóveis”, advertiu Lula
“Nunca utilizamos um Dia da Pátria para campanha eleitoral”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quarta-feira (7), nas redes sociais dele ao comentar o sequestro eleitoral do 7 de Setembro por Bolsonaro.
“Ao invés de discutir os problemas do Brasil, Bolsonaro me ataca, ao invés de explicar como a sua família juntou 26 milhões em dinheiro vivo para comprar 51 imóveis”, advertiu. “O Brasil precisa de amor, não de ódio”, completou.
“200 anos de independência hoje. 7 de setembro deveria ser um dia de amor e união pelo Brasil. Infelizmente, não é o que acontece hoje. Tenho fé que o Brasil irá reconquistar sua bandeira, soberania e democracia”, escreveu o ex-presidente e candidato ao Planalto.
“O Brasil é um país do bem que não pode ser governado por um presidente do mal”, disse Lula.
CONTRAPONTO
Lula abordou o Bicentenário da Independência durante programa eleitoral que foi ao ar terça-feira (6), com críticas a Jair Bolsonaro (PL) e acusação de que o atual governo ameaça a soberania do Brasil.
Lula apareceu ao lado do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), o vice na chapa. Os dois gravaram a mensagem na tarde da última segunda-feira (5).
A propaganda iniciou com narração de Marieta Severo, que afirmou que o “verde e amarelo pertence a todas as cores desse país”.
“A nossa bandeira é nossa pátria, pátria amada. Não é de quem propaga ódio e quer armar o povo, nem de racistas preconceituosos”, disse a atriz.
Em seguida, ainda no programa eleitoral, Lula fez crítica a Bolsonaro e falou sobre soberania do país.
AMEAÇAS BOLSONARISTAS
“Eles ameaçam a nossa soberania e soberania é a defesa do nosso território e nossas riquezas, respeito à democracia, com povo feliz, com comida na mesa e oportunidades. Eu tenho fé que o Brasil reconquistará a sua independência e voltar a ser respeitado pelo mundo”, continuou Lula.
A propaganda ressaltou compromissos de Lula, de que vai manter o auxílio Brasil em R$ 600 mais R$ 150 para cada criança de até 6 anos e programa de renegociação de dívidas e finaliza com mensagem de Alckmin.
“Viva o 7 de Setembro, viva a nossa independência. Nossa democracia e soberania está em grave ameaça. Se é isso que está em jogo precisamos nos unir”, expressou o candidato a vice-presidente.
CAPTURA DA DATA BRASILEIRA
Ministro aposentado do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Carlos Ayres Britto afirmou que a Constituição proíbe que ato de celebração à Independência do Brasil seja sequestrado ou capturado para finalidade eleitoral, como fez Bolsonaro.
Quarta-feira, durante as comemorações do 7 de Setembro, Jair Bolsonaro (PL) discursou em tom de comício em eventos no Rio e em Brasília, com ataques a adversários, referência ao dia das eleições e alusão aos lemas dele de campanha.
“No artigo 37, a Constituição fala do princípio da impessoalidade. Nada do que é financiado por recurso público pode deixar de ter finalidade educativa, informativa ou de orientação social. Não pode, portanto, financiar um ato de celebração à Independência do Brasil para sequestrar capturar e apropriar-se dele imprimindo a ele finalidade eleitoral, finalidade personalíssima em favor desse ou daquele candidato”, disse ex-ministro.
Na avaliação do ministro aposentado, é possível que os pronunciamentos de Bolsonaro neste feriado de 7 Setembro violem o princípio da “paridade de armas” entre os candidatos à Presidência da República. Na Esplanada dos Ministérios, o presidente discursou em cima de carro de som após participar do ato cívico em razão das comemorações do Bicentenário da Independência.
CONTESTAÇÃO NA JUSTIÇA
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição, criticou os discursos de Bolsonaro neste feriado e afirmou que vai ir contestar na Justiça Eleitoral o uso do aparato estatal em favor da campanha de reeleição. “Ajuizaremos ação junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para apurar o abuso da máquina pública cometido por Bolsonaro hoje”, disse.
A presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), reforçou a crítica. “Apropriação indébita do Bicentenário da Independência do Brasil por Bolsonaro. Ele roubou do povo a comemoração para fazer sua campanha”, disse. Segundo Gleisi, Bolsonaro apequenou o 7 de setembro. “Usou um palanque para se auto elogiar e atacar Lula. Desprezível, quis se colocar acima do país.”
‘MICARETA GOLPISTA’
O cartunista Carlos Latuff foi à avenida Paulista “infiltrado”, de acordo com relato dele. “Infiltrado na histeria bolsonarista na avenida Paulista me deparo com as faixas típicas. Ataques ao STF e ao ministro Alexandre de Moraes, e claro, apelos às Forças Armadas para um golpe militar.”
O portal Quebrando o Tabu cravou, a respeito do dia: “As imagens da praia de Copacabana, da avenida Paulista e da Esplanada dos Ministérios são bem claras: O 7 de Setembro se tornou uma micareta golpista”.
Mesmo sem a fala explícita a respeito, bolsonaristas encararam “decepção” com a situação de Bolsonaro nas pesquisas neste 7 de setembro. Mas a data foi alardeada pelo presidente e apoiadores como marco.
Muitos esperavam investidas mais fortes do bolsonarismo no sentido de um golpe, diante da provável derrota nas urnas. “Expectativa: 7 de setembro pode empoderar Bolsonaro para a concretização do golpe. Realidade: caminhões proibidos de entrar na Esplanada e Bolsonaro chorando no banho”, provocou o deputado federal André Janones (Avante-MG)
SEQUESTRO DA DATA
“Bolsonaro não ganhou um voto hoje. Falou apenas para sua base de extrema-direita. O sequestro da data nacional, o crime eleitoral explícito, a ameaça de golpe e a fala machista de homem fraco só o isolam mais política e eleitoralmente. Bolsonaro perdeu de novo no 7 de Setembro. Tem gente, mas menos do que Bolsonaro e aliados esperavam. É um comício da extrema-direita, que vai perder a eleição presidencial. Bolsonaro não tem maioria no país”, avaliou o jornalista Kennedy Alencar.
Os fatos observados foram evidenciados pela própria organização bolsonarista em Brasília. Ao ser anunciado, o locutor do comício disse: “Aqui hoje na Esplanada mais de 100 mil, após o desfile oficial deste 7 de setembro. É o povo brasileiro que clama por liberdade”, disse.
Imediatamente, o locutor foi corrigido por pessoas próximas do presidente, e multiplicou o número de presentes. “Em toda Esplanada, chegou os dados, 1 milhão de pessoas aqui”, disse. Cálculos de especialistas estimaram público de 32 mil pessoa, baseados na ocupação territorial (pessoas por metro quadrado).
M. V.