DENOY DE OLIVEIRA
A exigência em casa é sempre muito maior. A intimidade parece apagar qualidades e os defeitos, estes, sim, pulam, esborracham contra os nossos olhos.
Dia desses fiquei espantado com a indiferença de alguns sobre o trabalho de Murilo Salles “Faca de dois gumes”. Embora prefira seu primeiro longa, “Nunca Fomos tão Felizes”, na trama policial de “Faca …” perpassam elementos do cineasta preocupado com o mundo e as relações entre as pessoas e delas com o poder. E, mais, o nosso mercado pede os mais diversos tipos de filmes e os investidores associados ao Murilo não são empresas benemerentes, como nenhum produtor de cinema “in the world”.
Da mesma forma, Sergio Rezende trabalha seu projeto “Doida Demais”, que tem a chancela Cininvest/Mutiplic, além da empresa de Sérgio e da Embrafilme. Até um certo momento seu módulo repete filmes do gênero, abundantes na TV. E qual é o problema? O filme tem uma realização profissional, qualidade som/imagem e está sendo trabalhado para existir junto ao público.
Filmes como os dois mencionados, têm antecedentes em várias cinematografias, principalmente americana, francesa e inglesa que chegaram ao Brasil. Ainda me recordo dos hoje festejados filmes “B”, alguns com a chancela da “Republic” e que fariam vibrar críticos do famoso “Cahiers de Cinema” anos mais tarde.
A nossa cinematografia não pode ser uma repetição incessante de fórmulas. Mas não podemos continuar nessa desesperada busca do “filme definitivo”, a obra máxima e insuperável, como se estivéssemos fazendo sempre o nosso último trabalho. Não filmamos 3 ou 4 vezes por ano, como os diretores do mundo. Ao contrário, filmamos a cada 3 ou 4 anos. E somos assim atirados em projetos megalômanos, que precisam, por questão quase de vida ou morte, superar o projeto anterior. Não nos permitimos fazer filmes profissionalmente bem-acabados, porque também temos uma sociedade doente, um país doente que de forma alguma quer se identificar com a precariedade ou o erro – o infalível é o seu engano, a sua máscara; o super dotado é a sua próxima parada.
E mesmo em “Doida Demais”, aquelas personagens são falíveis, descaradamente corruptas, bebem pinga, embora o diretor se esforce para que eles se destaquem daquele conjunto brega, sambando naquela ‘festa na roça’.
Com sua virtudes e problemas, limites e aspirações, estamos diante de dois filmes ou propostas com fins delimitados. Um deles, apanhar de volta o seu custo, para novas aventuras cinematográficas. Como nos bons tempos.
Do braço do Popeye à régua de Holmes
Epa! No mini-cartaz, uma advertência: (sic): “Devido à Natureza Selvagem e Explícita deste filme, o Aconselhamos Somente a Adultos Maduros. Se Você Gosta de Ter sempre um Bom Desempenho Você Vai Gostar de Ver Este Filme”.
Completam o cartaz rostos de belas mulheres em êxtase, uma régua na diagonal do papel e a chamada: John Holmes é “O Homem das 13 Polegadas e Meia”. Na régua as 13,5 polegadas. América Vídeo.
Mas o pessoal da “América Vídeo” é eclético e manda um King Features Entertainment: “Popeye, Gugu e Jeep- o Cão Sabe Tudo”, desenho animado dublado em português.
E ainda “O Último Oásis” documentário filmado na Iugoslávia, escrito e dirigido por Petar Lalovic, música de Barnijan Vartkes. Segundo os informes, 3 anos e 20 milhões de dólares para filmar “O Último Oásis”.
Mas a grande pedida da “América Vídeo” nessa remessa é a comédia “Ensina-me a Querer” de Jerry Belson. Presença de dois atores ótimos: Michael Caine (Laurence Olivier tinha grande admiração por ele e com ele fez “Jogo Mortal” (72) J. L Mankiewicz; lembram a inesquecível partida de bilhar?) e Sally Field. História: Sean Stein (M. Caine) acompanha numa festa, seu advogado (Peter Boyle) que administra suas pensões e ex-mulheres; pinta um novo romance – e complicações – dessa vez com Daisy Morgan (Sally Field). E os dois são apresentados de maneira muito original: amarrados um no outro, nus, por assaltantes que invadem a festa. Deve ser um comédia competente, com uma grande presença de Michael Caine.