A parte do depoimento de Antonio Palocci publicada na segunda-feira, 01/10, confirma, em termos gerais, a montagem do esquema de corrupção petista na Petrobrás. É um depoimento inicial para a Polícia Federal (PF), o primeiro deles, realizado no último 13 de abril.
Então, o que é importante, nesse depoimento?
Vamos resumi-lo:
1) A afirmação – ainda que seja um fato conhecido – de que houve diretores da Petrobrás que não participaram do esquema e não se envolveram com corrupção. Palocci cita, especificamente, Ildo Sauer, diretor de Gás e Energia, e Guilherme Estrella, diretor de Exploração e Produção, homens que nada tiveram a ver com a corrupção do PT.
2) A substituição de Rogério Manso por Paulo Roberto Costa, na Diretoria de Abastecimento da Petrobrás, foi devida à pressão da Odebrecht, pois Manso era contra o privilégio no preço da nafta para a Braskem, ramo petroquímico do Grupo Odebrecht. Os diretores e lobistas da Odebrecht – Pedro Novis e Alexandrino Alencar – trataram do assunto diretamente com Palocci, que reportou-o a Lula.
3) A decisão de substituir Manso por Costa foi tomada por Lula com dois objetivos: contemplar a Odebrecht e o PP, que “estava apoiando fortemente o governo e não encontrava espaço em Ministérios e nas estatais“. Em bom português, o PP queria um espaço maior para roubar.
4) Wilson Santarosa, gerente executivo de Comunicação Institucional, era homem de Lula: “em sua gerência“, disse Palocci, “foram praticadas ilicitudes em conjunto com as empresas de marketing e propaganda; essas empresas destinavam cerca de 3% dos valores dos contratos de publicidade ao PT através dos tesoureiros“.
5) Há uma descrição, no depoimento de Palocci, que expõe com nitidez o caráter de Lula:
“… em fevereiro de 2007, logo após sua reeleição, Lula convocou Palocci, à época deputado federal, ao Palácio da Alvorada, em ambiente reservado no primeiro andar, para, bastante irritado, dizer que havia tido ciência de que os diretores da Petrobrás Renato Duque e Paulo Roberto Costa estavam envolvidos em diversos crimes no âmbito das suas diretorias;
“Lula indagou de Palocci se aquilo era verdade, tendo Palocci respondido afirmativamente;
“… então indagou a Palocci quem era a pessoa responsável pela nomeação dos diretores;
“Palocci afirmou que era o próprio Lula o responsável pelas nomeações; também relembrou a Lula que ambos os diretores estavam agindo de acordo com parâmetros que já tinham sido definidos pelo próprio PT e pelo PP” (grifo nosso).
Nenhum desses diretores foi demitido – aliás, só saíram da diretoria da Petrobrás quando resolveram sair, quatro anos depois (e um ano e meio depois da eleição de Dilma), com elogios assinados por Mantega, que substituíra a senhora Rousseff na presidência do Conselho de Administração da Petrobrás.
Porém, como se explica essa atitude de Lula?
Prossegue o depoimento de Palocci:
“… acredita que Lula agiu daquela forma porque as práticas ilícitas dos diretores da estatal tinham chegado aos seus ouvidos e ele queria saber qual era a dimensão dos crimes, bem como sua extensão, e também se Palocci aceitaria sua versão de que não sabia das práticas ilícitas que eram cometidas em ambas as diretorias, uma espécie de teste de versão, de defesa, com um interlocutor, no caso, Palocci; essa prática empregada por Lula era muito comum; era comum Lula, em ambientes restritos, reclamar e até esbravejar sobre assuntos ilícitos que chegavam a ele e que tinham ocorrido por sua decisão; a intenção de Lula era clara no sentido de testar os interlocutores sobre seu grau de conhecimento e o impacto de sua negativa” (grifos nossos).
Diz Palocci que “explicitou a Lula que ele sabia muito bem porque houve a indicação pelo PP de um diretor, uma vez que o PP não fez aquilo para desenvolver sua política junto à Petrobrás, até porque nunca as teve; a única política do PP era a de arrecadar dinheiro; não havia sentido em se acreditar que o PP estaria contribuindo com políticas para a exploração do petróleo; relembra que, apesar do diálogo, Lula não tomou medidas posteriores para tirar os diretores dos cargos ocupados”.
6) Palocci confirmou a reunião, já relatada em depoimento ao juiz Moro, em que foi armado o esquema das sondas, através da malfadada Sete Brasil:
“… participou de reunião, no início de 2010, na biblioteca do Palácio do Alvorada, com a presença também de Lula, Dilma Rousseff e José Gabrielli, na qual o então Presidente da República foi expresso ao solicitar do então presidente da Petrobrás que encomendasse a construção de 40 sondas para garantir o futuro político do país e do PT com a eleição de Dilma Rousseff, produzindo-se os navios para exploração do pré-sal e recursos para a campanha que se aproximava;
“Lula, na mesma reunião, afirmou que caberia a Palocci gerenciar os recursos ilícitos que seriam gerados e o seu devido emprego na campanha de Dilma Rousseff para a Presidência da República; isso se dava, segundo Lula relatou e conforme narra Palocci, para garantir que o projeto seria efetivamente desenvolvido por Gabrielli;
“… esta foi a primeira reunião realizada por Lula em que explicitamente tratou da arrecadação de valores a partir de grandes contratos da Petrobrás.”
7) Palocci também confirmou que a substituição, na Diretoria Internacional da Petrobrás, de Nestor Cerveró – indicado pelo líder do PT no Senado, Delcídio do Amaral – por Jorge Zelada, foi para contemplar o PMDB. Zelada foi indicado por Michel Temer, Eduardo Cunha, Henrique Alves e Fernando Diniz, líder da bancada mineira do PMDB.
8) Para quem conhece o PT, parece muito verossímil o detonador, alegado por Palocci, da “crise do mensalão”: “a existência dos compromissos [com outros partidos] e a ausência do cumprimento integral das avenças foi o principal motivo pelo qual se desencadeou o Mensalão”. Em suma, o PT deu calote nas mercadorias políticas que comprou, ou seja, não pagou o que prometeu.
9) Há, em seguida, uma descrição geral dos meios de corrupção, sem grandes novidades, exceto pela estimativa “que das mil medidas provisórias editadas nos quatro governos do PT, em pelo menos novecentas houve tradução de emendas exóticas em propina”.
10) A última revelação é que “as campanhas presidenciais do PT custaram em 2010 e 2014, aproximadamente, 600 e 800 milhões de reais, respectivamente”.
Palocci esteve no esquema financeiro das duas – até porque era ele o principal intermediador com o departamento de propinas da Odebrecht.
Portanto, deve saber o que foi gasto.
No entanto, Dilma declarou, em 2010, gastos de R$ 153.093.181,16 (153 milhões, 93 mil, 181 reais e 16 centavos) em sua campanha (cf. TSE, Relatório das Eleições 2010, p. 35).
Em 2014, Dilma declarou gastos de R$ 350.232.163,64 (350 milhões, 232 mil, 163 reais e 64 centavos).
Portanto, segundo Palocci, a maior parte da campanha presidencial do PT, tanto em 2010 quanto em 2014, foram com dinheiro ilícito.
Para encerrar este resumo, Palocci – e não seria Palocci se não fizesse algo semelhante – tentou apresentar o esquema de corrupção do PT sob o ângulo de uma suposta luta entre duas tendências dentro do governo Lula: uma que chamou de “programática”, da qual ele mesmo fazia parte (claro), com Luiz Gushiken e Miro Teixeira, e outra, que chamou de “pragmática”, composta por José Dirceu, Marco Aurélio Garcia “e às vezes também com Dilma Rousseff”.
A tendência “programática”, segundo Palocci, queria fazer um acordo com o PSDB para implementar o programa neoliberal, o que redundaria numa corrupção mais “moderada” (sic).
A outra tendência, a “pragmática”, queria comprar uma série de partidos, para se opor ao PSDB, o que redundou, depois que Lula se definiu por ela, numa corrupção desbragada.
Uma tal polêmica, portanto, seria apenas sobre a forma de ficar no poder para roubar o Brasil e o povo.
Trata-se de algo, dos dois lados, imoral, indecente, corrupto e degenerado.
Por isso, a diferença entre essas supostas tendências era tão pouca que Palocci continuou como operador de Lula – até que os sinais exteriores de sua riqueza ilícita o derrubassem do Ministério, já no governo Dilma.
C.L.
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Conclusão todos os grandes partidos e várias empresas como a Odebrecht, no passado e no presente sempre cometeram corrupção se apropriando do dinheiro público, vejam a ARENA, PDS, PFL e DEM isto é o mesma partido mudando de sigla para se esconder dos mal feitos e assim posteriormente outros partidos como PT, PSDB, PTB, PP e outros inclusive esse PP é o que têm mais parlamentares citados na lava jato, isto pouco se fala na mídia conservadora a culpa deve ser direcionada para todos os partidos que estão envolvidos e não apenas os partidos de esquerda.