EDSON FRANÇA (*)
Hoje, 14 de março, rememoramos o nascimento de Castro Alves, conhecido como poeta dos escravos, considero-o poeta das causas justas. Em seu tempo, diante de seus pares, teve coragem de se levantar contra um cruel regime que gozava da unanimidade de sua gente. Condenou um vil comércio, uma tragédia pouco estudada: o tráfico transatlântico de africanos para as Américas – hoje considerado crime lesa humanidade.
“Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais … inda mais… não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí… Que quadro d’amarguras!
É canto funeral! … Que tétricas figuras! …
Que cena infame e vil… Meu Deus! Meu Deus! Que horror!”
Em Navio Negreiro, Castro Alves cantou o horror da travessia do Atlântico por homens e mulheres negras sequestradas para escravização, nos mais de três séculos do mais funesto período da História humana.
Ainda hoje o Atlântico é sinônimo de tragédia, perversidade, o vale da morte, rio de sangue, gritos, desespero e fim. Paulina Chiziane, em seu livro de poesia Canto dos Escravizados, revela esse trauma:
O Mar
“Mar medonho, quantos negreiros afundastes?
Quantos negros morreram nas tuas águas?
Mar meu, és o mais tenebroso dos túmulos
És o maior cemitério de África”
No dia que comemoramos 175 anos do nascimento de Castro Alves, homenageamos a poesia, os poetas e poetisas que usam as palavras como instrumento da liberdade, da fraternidade, da busca por justiça social.
(*) Historiador, ex-presidente e diretor da União dos Negros pela Igualdade (UNEGRO), membro do Comitê Central do PCdoB (Partido Comunista do Brasil).
Sobre Castro Alves e seu poema só tenho a dizer: Meu Deus! Meu Deus! Que horror!”, quando vai se acabar?