Shen Jianguang, economista chinês, avalia que as conversações entre Pequim e Washington não resultarão em “um novo Acordo de Plaza”, aquele que obrigou Tóquio a valorizar sua moeda e sofrer consequências negativas até hoje
O economista chinês Shen Jianguang considerou que não procedem as comparações das negociações comerciais em curso entre o governo Trump e o governo Xi Jinping, apesar do compromisso declarado de Pequim de ‘manter a taxa de câmbio estável’, com um “novo Acordo de Plaza”, conforme artigo no Global Times.
O acordo de Plaza, assinado pelo Japão sob pressão do governo Reagan na década de 1980 em meio à guerra comercial entre EUA e Japão resultou na apreciação do iene, mais tarde, na explosão da bolha especulativa e na crise que aflige Tóquio até hoje.
Shen registrou que, após sete rodadas de negociações, China e EUA parecem ter feito “um grande avanço” e inclusive o presidente Trump anunciou que adiaria o aumento de tarifa previsto para 1º de março sobre os produtos chineses.
Segundo ele, a julgar pelos resultados atuais, “tanto a China quanto os EUA estão buscando um meio-termo ganha-ganha”. Nem a China aceitou todas as matérias da lista de negociação dos EUA, quanto a promessa de Pequim de acelerar a reforma ‘orientada ao mercado’ está de acordo com as metas definidas no 19º Congresso Nacional do Partido Comunista da China.
Para Shen, a reivindicação de Washington de que a China não reduza nem manipule a taxa de câmbio do yuan para impulsionar as exportações é, no mínimo, “uma cláusula supérflua”.
O que se deve a que não é uma medida viável na atual situação da China estimular as exportações via depreciação da moeda, nem é uma opção política buscada por Pequim. Como ele ressalta, “uma das metas políticas de longo prazo do governo chinês é que o yuan permaneça basicamente estável”.
No quadro atual da economia da China, o yuan não tem base para a depreciação, assinalou, apesar das pressões nesse sentido no ano passado, e a tendência para 2019 é que se mantenha estável.
Além disso, como destaca Shen, o ambiente doméstico e externo que a China enfrenta agora é muito diferente daquele do Japão nos anos 80, em relação aos EUA.
“Por um lado, as escalas de mercado da China e do Japão afetam os EUA de maneira diferente. Em 2018, o PIB da China representou 70% do PIB dos EUA. Durante a guerra comercial Japão-EUA, o PIB do Japão era apenas 40% do PIB dos EUA”.
Shen registrou que a “China mudou seu ímpeto de crescimento econômico das exportações para o consumo (para o mercado interno)”.
Como ele notou, a escala de varejo da China (consumo interno) “cresceu de aproximadamente 25% do volume de varejo dos EUA de há 10 anos atrás para o equivalente ao mercado de varejo dos EUA em 2018”. Em comparação, “em 1985, o mercado de varejo do Japão era apenas um terço do mercado dos EUA”.
China e Japão têm políticas diferentes quando lidam com disputas comerciais dos EUA, assinalou o economista. “Com o Acordo de Plaza, o Japão optou por restringir a escala das exportações por meio da valorização do iene, enquanto a China planeja abrir seus mercados voluntariamente e expandir as importações dos EUA”.
Shen analisa em seguida o desdobramento dessas diferentes estratégias. “Dez anos após a assinatura do Acordo do Plaza, a cotação do dólar caiu quase 50% em relação ao iene. A apreciação substancial do iene levou o governo japonês a adotar uma política monetária excessivamente frouxa, que mais tarde desencadeou um estouro da bolha especulativa”.
Já a China – reitera – “sempre fez esforços” para manter a taxa de câmbio do yuan “estável”. “O país não usou a taxa de câmbio para ajustar o comércio”.
Ao mesmo tempo, o acordo comercial China-EUA cobriu a abertura do mercado e fortaleceu a proteção dos direitos de propriedade intelectual, que é o que a economia chinesa precisa, de acordo com o economista.
“Embora a taxa de crescimento econômico da China tenha desacelerado, a força do apoio às políticas se intensificou. Portanto, é pessimista chamar o acordo de comércio em andamento de uma sequência do Acordo de Plaza”, sublinhou.
Shen afirmou que é incorreto pensar que os EUA “não têm nada a perder com o atrito comercial”, acrescentando que “é atraente” para Washington chegar a um compromisso com a China.
Ele ressaltou que “conforme a China ascendeu ao centro da cadeia de fornecimento mundial e (se tornou) a fábrica mundial, muitas de suas exportações para os EUA são fabricadas por empresas norte-americanas na China”. Portanto, as ameaças de Trump de cobrar impostos sobre commodities “também trariam prejuízos às empresas e consumidores dos EUA”.
Em decorrência, para o economista, o caminho para as relações China-EUA “não é suave”, diante das eleições presidenciais nos EUA no ano que vem, da natureza incerta das políticas comerciais de Trump, da ascensão da manufatura de alto valor agregado da China e do rápido desenvolvimento de seus setores de ciência e tecnologia.
O que indicaria que as disputas entre os dois países podem “se estender para novas áreas” e sofrer “voltas e reviravoltas”.
A.P.