Ele acrescentou que não gosta de falar em pacote “dois, três”, mas que o governo está em constante estudo para avaliar a adequação dos gastos
O ministro Fernando Haddad afirmou nesta terça-feira (7), em entrevista à Globo News, que o país terá um déficit primário nas contas públicas de 0,1% PIB (Produto Interno Bruto) em 2024. Ao comentar o resultado, o ministro citou o Fundo Monetário Internacional (FMI) em tom de comemoração. “O Fundo Monetário Internacional (FMI) reconheceu o esforço fiscal brasileiro como um dos maiores do mundo”, disse Haddad.
Segundo o ministro da Fazenda, a estimativa do déficit completo deverá ser de 0,37% do PIB, mas como 0,27% do PIB correspondem aos gastos emergenciais do governo para enfrentar a tragédia climática do Rio Grande do Sul, esses recursos serão descontados do cálculo, conforme decisão do Congresso Nacional. Estas são estimativas do governo. O resultado primário oficial de 2024 será conhecido com a consolidação dos números do setor público no mês de fevereiro.
A meta de zerar o déficit público não era esperada nem mesmo pelo mercado, que previa um saldo negativo nas contas públicas em 2024 de 1% do PIB. “Assim como aconteceu com 2024, que o mercado estava projetando um déficit muito maior do que o que aconteceu, acredito que em 2025 nós vamos ter o mesmo resultado. Quando você olha para o passado, ninguém se surpreende com a falha da sua própria previsão”, avaliou o ministro.
Haddad não descartou novos ajustes. Ele disse que não gosta de falar em pacote “dois, três”, mas que o governo está em constante estudo para avaliar a adequação dos gastos. Sobre a previsão de crescimento do endividamento público, o ministro disse que, “quando o novo arcabouço fiscal for implementado, a dívida irá estabilizar e depois vai cair”. “O estado brasileiro tem que encontrar o caminho do equilíbrio, estamos fazendo ajuste estrutural”, acrescentou o titular da Fazenda.
O ministro falou também sobre o novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. Este é um problema espinhoso para o governo porque são as decisões do BC sobre a alta dos juros que elevam a dívida pública. O país gastou, só de juros, R$ 918 bilhões do orçamento nos últimos 12 meses até novembro. “O meu papel ali é resolver tecnicamente o problema, é o que eu tentava fazer com Roberto Campos e como eu farei com Gabriel Galípolo”, afirmou.
“Isso não significa dizer que nós vamos concordar sempre sobre o diagnóstico e o que fazer, mas cada um está no seu papel”, acrescentou o ministro. Haddad explicou, ainda, que “o BC consulta uma série de atores, além de dialogar com a sociedade, e depois um colegiado de nove pessoas se reúne e toma decisões autônomas”.
Na verdade, não é bem assim, a única consulta que o Banco Central faz sobre as decisões sobre juros é aos bancos, através do Boletim Focus. São instituições financeiras que opinam na elaboração do Boletim Focus. “Isso não vai mudar com o Gabriel, e eu tenho a absoluta confiança de que ele sabe qual a missão do Banco Central”, garantiu Haddad.
Questionado sobre o anúncio do pacote fiscal junto com a isenção do imposto de renda, Haddad disse que foi um problema. “É… esse foi um dos problemas, o tempo de maturação das medidas talvez tenha sido excessivo, tenha criado expectativas”, afirmou. “Nós tivemos um problema grave de comunicação. Precisamos nos comunicar melhor. O mercado está muito sensível no mundo inteiro. Não é uma situação normal que o mundo está vivendo e essa é outra parte da história”, disse o ministro.