“Eu nunca fiz um personagem necessariamente gordo. Eles são gordos porque eu sou gordo”, dizia ele. Jô morreu nesta sexta-feira (5). Além de um dos melhores entrevistadores do país, Jô Soares deixa ao país um número enorme de personagens que envolveram o Brasil com grande talento por décadas a fio
O apresentador, humorista, ator e escritor Jô Soares morreu nesta sexta-feira (5), aos 84 anos. Ele estava internado desde 28 de julho no Hospital Sírio-Libanês, na região central de São Paulo, onde deu entrada para tratar de uma pneumonia. O velório será nesta sexta-feira, reservado aos familiares e amigos íntimos.
Considerado um dos maiores humoristas do Brasil, ele criou dezenas de personagens que foram tirados, como ele dizia, do cotidiano dos brasileiros. “O meu humor tem sempre um fundo político, sempre tem uma observação do cotidiano do Brasil”, dizia. “Tudo o que fiz, tudo o que faço, sempre tem como base o humor. Desde que nasci, desde sempre”, afirmou.
Alguns personagens criados por Jô Soares: ‘Reizinho’, Vovó Nana, Punk, Frutuoso’, Don Casqueta, Morador da Fronteira, Padre Carmelo, Coronel Pantoja, S. Matozinho, Zé da Galera, mordomo Gordon e muitos outros.
José Eugênio Soares nasceu no Rio de Janeiro em 16 de janeiro de 1938. Era o único filho do empresário Orlando Heitor Soares e da dona de casa Mercedes Leal Soares. Em entrevista em 2012, Jô disse que “pelo fato de sempre ter sido gordo, preferia ser mais conhecido pelo espírito do que pelo físico”.
“Os meus personagens são muito mais baseados no lado psicológico e no social do que na caricatura pura e simples. Eu nunca fiz um personagem necessariamente gordo. Eles são gordos porque eu sou gordo.”
A estreia na TV aconteceu em 1958. Naquele ano, participou do programa “Noite de gala” e passou a escrever para o “TV Mistério”, que tinha no elenco Tônia Carreiro e Paulo Autran. Eles eram exibidos pela TV Rio. Na emissora, Jô esteve ainda no “Noites cariocas”.
Em seguida, escreveu e atuou em humorísticos da TV Continental. Já na TV Tupi, fez participações no “Grande Teatro Tupi”, do qual faziam parte nomes como Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Sérgio Brito e Aldo de Maia. “Eu consegui trabalhar ao mesmo tempo nas três emissoras que existiam no Rio”, declarou.
Em 1960, Jô mudou-se para São Paulo para trabalhar na TV Record. “Vim descobrir São Paulo, era casado com a Teresa, tinha 22 anos. Vim para passar 12 dias e fiquei 12 anos”, lembrou ao mencionar o casamento com a atriz Therezinha Millet Austregésilo (1934-2021), com quem teve seu único filho, Rafael, que era autista e morreu aos 50 anos.
Um dos grandes destaques do início da carreira foi “A família trapo”, exibido entre 1967 e 1971 todos os domingos. No princípio, Jô apenas escrevia o roteiro e seu parceiro era Carlos Alberto Nóbrega. Depois, ganhou um papel: o mordomo Gordon. O elenco tinha ainda nomes como Otelo Zeloni, Renata Fronzi, Ricardo Corte Real, Cidinha Campos e Ronald Golias.
Nos anos 1980, escreveu com regularidade nos jornais “O Globo” e “Folha de S.Paulo” e para a revista “Manchete”. Entre 1989 e 1996, assinou uma coluna na “Veja”.
Também escreveu cinco livros, sendo quatro romances. A estreia foi “O astronauta sem regime” (1983), coletânea de crônicas publicadas originalmente em “O Globo”. O romance “O Xangô de Baker Street” (1995) liderou as listas dos mais vendidos e foi adaptado para o cinema em 2001. As obras seguintes foram “O homem que matou Getúlio Vargas” (1998), “Assassinatos na Academia Brasileira de Letras” (2005) e “As esganadas” (2011).
No Programa do Jô, ele fez uma das coisas que mais gostava, conversar. “Acho que descobri, também sem querer, a grande vocação da minha vida, a coisa que me dá mais prazer, mais alegria de fazer. Eu me sinto muito vivo ali. A maior atração do mundo é o bate-papo, a conversa”, afirmava o próprio Jô. Seu programa de entrevistas teve grande repercussão tendo se transformado na época do impeachment de Collor em uma espécie de tribuna popular do país onde testemunhas do caso desfilaram aos olhos dos brasileiros.