MARCO ANTÔNIO CAMPANELLA (*)
A intervenção do governo Temer na segurança pública do Rio de Janeiro teve o condão de tentar ocultar a derrocada iminente da mudança constitucional urdida no Planalto e enredada no Congresso Nacional, tão somente para assaltar as aposentadorias e pensões dos trabalhadores brasileiros, públicos e privados, urbanos e rurais, ou seja, rigorosamente, todos os que vivem de sua força de trabalho.
Do ato, algumas conclusões são inevitáveis.
Primeiro, se o critério para o uso disfuncional das Forças Armadas recaísse sobre a ou as unidades federativas que ostentam os piores índices de violência, o Rio teria que esperar ainda na fila, pois, pelas últimas estatísticas, a Cidade Maravilhosa encontra-se na décima posição em criminalidade, em que pese a situação de penúria de suas polícias, Civil e Militar, resultante da ausência dos investimentos federais e estaduais e do roubo institucionalizado e generalizado sob os auspícios dos áulicos do PMDB.
Segundo, as forças de segurança locais não se tornarão, mesmo subordinadas ao comando militar, da noite para o dia, aptas para agir com a eficiência necessária em situações graves como as verificadas no Rio. Tudo indica que os cofres do governo federal para recompor o quadro de precarização humana e sucateamento material a que chegaram continuarão blindados pelo sr. Meirelles.
Terceiro, as Forças Armadas não estarão dispostas a desenvolver ações que coloquem em risco a integridade de seus membros, muito menos a imagem que ostentam perante a sociedade brasileira.
O fato é que o fenômeno que se verifica no Rio, como em outras metrópoles brasileiras, é um velho conhecido desde que os últimos (des)governos primaram por atrofiar o Estado em todos os seus planos e dimensões. O crime organizado, cevado pelo narcotráfico e o tráfico de armas, entre outros, cresceu em meio a comunidades mergulhadas em profunda miséria material, às quais dispendeu alguns gestos de generosidade em troca de proteção. A ação estritamente policial, comprometida pelo descaso e abandono desses profissionais, já havia esgotado sua capacidade de reverter a situação, principalmente depois que as famílias começaram a chorar, como nunca, os seus mortos.
A intervenção, portanto, é rigorosamente inócua. A opção por jogar os militares na fogueira só fez transbordar ainda mais o fracasso do governo e de sua base aliada na votação da nefanda “reforma” previdenciária.
Demagogia e diversionismo, foi o que não faltou no decreto presidencial, corroborado pela venalidade parlamentar. Serviu apenas para suspender a votação de emendas constitucionais cuja aprovação tornara-se improvável diante da crescente degradação do apoio parlamentar na medida em que as eleições se aproximam.
Quanto à economia, bem, esta continua no fundo do poço, agora agravada pelo aviltamento da renda e das condições de trabalho consagrado no desmonte da CLT. O próprio IBGE confirmou esta semana que, enquanto as carteiras de trabalho são incineradas aos borbotões e, com elas, direitos fundamentais, sob Temer, só a informalidade cresce. E o lucro dos bancos e monopólios, é óbvio!
Certamente, outros episódios virão para cavar ainda mais o buraco de um governo insepulto para o Brasil e os brasileiros.
(*) Jornalista e correspondente em Brasília.