A defesa de Lula entregou ao juiz Sérgio Moro, na última terça-feira (24), o que seriam os recibos originais dos aluguéis do apartamento vizinho ao de Lula em São Bernardo do Campo. Os recibos, segundo o empresário Glaucos da Costamarques, dono do imóvel, teriam sido assinados todos (de 2015) no mesmo dia, quando ele esteve internado em 2015. Glaucos disse ainda, em seu depoimento, feito em setembro deste ano, que não recebeu nada entre 2011 e novembro de 2015.
Apesar da polêmica sobre a autenticidade ou não dos recibos, o que está em jogo é se Costamarques recebeu ou não os aluguéis. Ele diz que não. A defesa de Lula diz que pagou os aluguéis em dinheiro vivo, no valor total de R$ 189 mil de uma só vez. Esta declaração contrasta com a apresentação agora, não de um, mas de vários recibos. Glaucos insiste que só passou a receber alguma coisa pelo apartamento depois da prisão de seu primo, o pecuarista José Carlos Bumlai, em 2015. Em 2016 ele havia dito que teria recebido os aluguéis em dinheiro vivo. Perguntado em juízo porque das duas versões, Glaucos respondeu que na época do primeiro depoimento teve medo das repercussões do episódio e de que poderia ter prejuízo.
O imbróglio todo está no fato de Glaucos ter participado, a pedido de Roberto Teixeira, advogado de Lula, e de José Carlos Bumlai, também amigo do ex-presidente, da transação de compra e venda de um terreno que serviria como futura sede do Instituto Lula em São Paulo. Pela transação, Glaucos recebeu de uma subempreiteira da Odebrecht, a DAG Engenharia, a quantia de R$ 800 mil. A DAG adquiriu o terreno que seria para o Instituto Lula, a pedido de Marcelo Odebrecht, segundo depoimento de Dermerval Gusmão, dono da construtora, ao juiz Sérgio Moro.
Com a desistência do projeto por parte de Lula, Demerval tentou vender o terreno e não conseguiu. Então ele cobrou da Odebrecht e recebeu R$ 7 milhões que haviam sido adiantados por ele pelo terreno. Glaucos, que apenas intermediou a compra, sem fazer praticamente nada, amealhou R$ 800 mil no negócio do terreno e, em seguida, comprou o apartamento vizinho a Lula em São Bernardo, por R$ 504 mil.
Os procuradores querem provar que Glaucos da Costamarques não passa de um laranja. Que ele recebeu o dinheiro da Odebrecht para forjar a compra do apartamento vizinho a Lula. Que o apartamento seria na verdade mais um dos presentes da Odebrecht, além do triplex e do sítio de Atibaia, dados ao ex-presidente, em troca de facilitação de negócios da empreiteira na Petrobrás. O Ministério Público quer ouvir novamente Glaucos da Costamarques para que ele esclareça definitivamente quem está dizendo a verdade, ele ou Lula. Um dos dois está mentindo. Para o MP, o depoimento de Glaucos de setembro prova que os recibos apresentados agora pela defesa de Lula são recibos frios e arranjados.