DENOY DE OLIVEIRA
Cacá Diegues: “Eu vejo cineastas falando, ‘eu vou fazer um filme em inglês’, ou ‘vou fazer um filme com a TV espanhola’, ou ‘eu vou fazer um filme barato’. Não vejo cineasta nenhum dizendo ‘eu vou fazer um filme sobre o amor’, ou ‘eu vou fazer um filme sobre a morte’, ou ‘eu vou fazer um filme sobre a miséria’, ou ‘eu vou mudar a linguagem do cinema’. Essas sim são razões nobres pelas quais você faz um filme, o resto é conseqüência do filme que você quer fazer, tanto faz se ele vai ser falado em inglês, filmado em Panavision ou se você vai trabalhar em vídeo” (rev. Tabu nº 41).
Exatamente. É que nós fomos roubados pela obsessão de fazer o “cinema brasileiro’ e acabamos relaxando até “fazer o filme”. Partimos para administrar nossos poucos recursos, criando INC, CONCINE, EMBRAFILME, e fomos legislar, resistir bravamente contra a dominação do mercado, a perda da identidade, etc., etc.
No processo, o capitalismo chegou no Cinema Brasileiro mas não chegou para o Cinema Brasileiro. Somos a única indústria no Brasil – a única! – que investe 50% do seu custo na mão de obra. Como os países ricos. Se a Fiesp duvidar temos nossos orçamentos – centenas, milhares deles à disposição. E daí que vivemos afogados pela inflação, pelo custo dólar/black e a competição desleal com os 10 milhões de dólares na capa do Batman só para publicidade.
Então quando cineasta se encontra é pra falar de “como vou sair dessa”, “onde é que tem financiamento”, “como inventar um subsídio”. Já tentamos várias vezes marcar encontros para discutir o filme, falar da cultura brasileira, das novidades das artes … Mas não conseguimos! Desgraçadamente não conseguimos! Porque vemos todos os nossos sonhos/projetos engavetados nas mesmas precariedades da pesquisa científica, da vacina que não temos, da mídia massificada, das terras que não são divididas, dos salários que são os mais baixos do mundo…
E quando surpreendemos nossos gritos e gestos eles não falam da estética, da reflexão, da busca de razões para filmar. Não! porque já estamos enlouquecidos e gastos pelos parágrafos e a numerologia, falando da TV monopolista, do público hostil, da produção parada, do desemprego, da fuga de mão de obra; e não importa mais “que filme fazer”, quando muito “fazer um filme” seja lá qual for, um gesto desesperado de sobrevivência.
Mas tem razão o Cacá, porque, ou retomamos a finalidade de nossas vidas e procuramos um encontro verdadeiro com nossa atividade, ou não romperemos o divórcio com nosso tempo, com nosso público sempre possível, apesar da crise e da desleal competição de mercado.
Imagens infantis: Uma carência nacional
Uma das maiores carências em cinema-vídeo-TV é exatamente o programa infantil. Justamente uma pequena produção para aqueles que são os maiores devoradores de imagens. Produção nacional; é minúscula e conta apenas com a brava resistência dos Trapalhões, que mais ganhariam se maior fosse a produção e mais diversificada. Eles sabem disso.
Então consumimos os produtos de fora mesmo. E a Abril lança 4 títulos. Um deles, dos já famosos bonecos das Hqs.: “Disney Show”. É uma reunião de 10 histórias com Pluto, Donald, Gansolino, Pateta e Mickey – atacando de cientista e regente de orquestra – e Donald desafinando uma ópera. Histórias sempre engraçadas, com a competência dos Estúdios Disney.
“O Pequeno Ladrão de Cavalos” (77) tem a direção de Charles Jarrot. Narra a amizade entre jovens e um pônei, condenado à morte. A música de Ron Goodwin se apresenta como um dos pontos altos do filme. “Agente Duplo”, também com a chancela Disney, é dirigido por Mike Vejar. Comédia com lances de aventura, tendo como ator principal Michael McKean. Outra comédia é “O Gato Mais Rico Do Mundo”, de Greg Meeman. Uma fabulosa herança de 5 milhões de dólares é legada a um gato. Claro que para a decepção de parentes próximos do falecido, que lega outra surpresa: o gato fala. Deve ser divertido. Inédito no Brasil.