
EUA pensou que conseguiria subjugar a Rússia, mas comeu o pó da derrota. A rendição certamente será seguida por manobras para tentar dividir russos e chineses. Mas esta certamente é uma batalha mais difícil ainda do que a que já foi perdida
Alguns analistas têm manifestado uma certa pena de Zelensky após a reunião entre ele e Trump, ocorrida no salão oval da Casa Branca há alguns dias. Mais do que uma “humilhação” do marionete, o que ocorreu no encontro foi a constatação de Donald Trump – e não aceita pelo ucraniano – de que a guerra em que os EUA e a Otan usaram a Ucrânia como bucha de canhão para agredir a Rússia está perdida. Tudo não passou de uma confissão de derrota do imperialismo na guerra contra o “Urso do Leste”.
Alguns desses “analistas”, evidentemente, não fazem esse tipo de análise de graça. Afinal, a indústria de armas paga muito bem para garantir seus superlucros. Eles sabem que Zelensky não é essa candura toda. Sabem que ele é fruto de um golpe de Estado e da tomada do poder na Ucrânia por um bando de seguidores do criminoso Stepan Bandera, o nazista ucraniano que foi um colaborador de Adolf Hitler. Bandera assassinou centenas de milhares de pessoas – na maioria judeus – durante a ocupação nazista da Ucrânia.
O golpe de Estado foi dado em 2014 pelos nazis ucranianos com a participação direta dos EUA. O governo eleito pelo povo ucraniano foi derrubado. A integrante do Departamento de Estado americano, Victoria Nuland, estava “in loco” apoiando toda a trama. O golpe de Maidan, como ficou conhecido, foi patrocinado pelos EUA. Ele fazia parte da estratégia imperialista da ocasião, que era utilizar os nazistas ucranianos para estender a Otan em direção à leste e, se possível, derrotar a Rússia, fragmentando-a em várias repúblicas menores e sem força.
Desde o início, os militares ucranianos não tinham direito a opinião no conflito com a Rússia. Os nazistas ucranianos, como todo fascismo da periferia, não passavam de capachos e marionetes dos EUA e da Otan. As ordens para atacar a região do Donbass e as armas utilizadas nos bombardeios vinham diretamente da Casa Branca e de Londres. Com os democratas no poder nos EUA, o plano era enfraquecer a Rússia com a guerra por procuração, usando a Ucrânia. Eles queriam dominar Putin para, num momento seguinte, apontar seus canhões para a China.
A prova de que os ucranianos não passavam de bonecos que não decidiam nada, foi o episódio das negociações entre Rússia e Ucrânia, ocorridas na Turquia logo após o início do conflito. O acordo já estava praticamente pronto e aceito pelos dois lados, quando Boris Johnson, então primeiro-ministro inglês, apareceu de surpresa no país e, em nome da Aliança Atlântica, proibiu que o acordo fosse assinado.
A partir deste episódio, o governo ucraniano foi impedido de fazer qualquer negociação diretamente com a Rússia. Por isso, a guerra se prolongou e a Ucrânia agora está sendo derrotada no campo de batalha. Mesmo armados até os dentes pelos EUA e UE, centenas de milhares de ucranianos morreram fruto da ordem dada pelo império. A Ucrânia seguiu à risca tudo o que determinou o Pentágono e contribuiu para a destruição e morte de seu povo.
Com a chegada de Trump ao poder, os EUA perceberam que a guerra já estava perdida. Constataram na prática que é impossível submeter a Rússia militarmente. O bando de Trump acha melhor reconhecer logo a derrota para poder mirar na China. Eles querem por um fim na guerra contra os russos o mais rapidamente possível, para tentar enfrentar a China, que hoje é quem está efetivamente derrubando a hegemonia mundial americana. A situação deu um cavalo-de-pau e os europeus e ucranianos estão em polvorosa.
Donald Trump já havia deixado claro que sua estratégia era essa. Em uma entrevista com Tucker Carlson, o apresentador de talk show de direita, em 31 de outubro de 2024, ele disse que era uma “vergonha” e era “estúpido” que os EUA tivessem decidido pressionar a China e a Rússia ao mesmo tempo. “Vou ter que desuni-los, e acho que posso fazer isso. Eu tenho que desuni-los”, afirmou o bufão da Casa Branca.
“Somos uma nação em declínio. Somos uma nação em declínio muito sério”, reconheceu Trump. “E veja o que essas pessoas estúpidas [democratas] fizeram. Eles permitiram que Rússia, China, Irã, Coréia do Norte e outros se reunissem em um grupo. Isso é impossível de pensar. Nós os unimos, por causa do petróleo. Nós os unimos. Biden os uniu. É uma pena, a estupidez do que eles fizeram”, prosseguiu.
Em suma. Não há que se incomodar com uma suposta “humilhação” de Zelensky e nem com a choradeira e o clima de “barata voa” que tomou conta da União Europeia. Quem se submeteu ao império está pagando o preço por isso. A Europa se deixou afundar e a Ucrânia deixará de existir como nação. A situação criada reforça a máxima de Henri Kissinger, que há algumas décadas afirmou que “ser inimigo dos EUA é perigoso, mas ser amigo é fatal”.
O que efetivamente está ocorrendo é que os EUA subestimaram o anti-imperialismo e a força do povo russo e agora são obrigados a admitir que perderam a guerra. Acharam que venceriam Putin facilmente e deram com os burros n’água. Pensaram estar ainda na era dos traidores Gorbachov e Yeltsin, mas comeram o pó da derrota.
O que Donald Trump está fazendo agora, depois disso tudo, é botar o galho dentro, admitir que está fraco e iniciar uma tentativa “MAGA”. Ou seja uma tentativa de deixar de ser pequeno e “ser grande outra vez”. O que ele disse a Zelensky no salão oval nesta reunião foi: “esta guerra está perdida”. O “bate-boca” e a suposta “humilhação” se deram porque Zelensky teimou e não quis aceitar esta dura realidade.
SÉRGIO CRUZ