GIORGIO FORGIARINI (*)
Otto Prazeres era jornalista, tinha contato direto com o cotidiano do Presidente Getúlio e não se cansava de exaltar a capacidade de trabalho do líder brasileiro. Chegou a quantificar suas atividades para, justamente, levar a seus leitores uma dimensão dessa capacidade. Em 1937, segundo Prazeres, Getúlio assinou 17.140 atos oficiais. Em 1938 foram assinados 23.729 atos e em 1939, 22.179 documentos, tudo a mão. Considerando-se o tempo de 30 segundos por assinatura, calculou Prazeres, gastava Getúlio mais de 2 horas por dia só com o ato de assinar.
Getúlio, no entanto, não apenas assinava. Analisava detidamente cerca de cem processos por dia, desde a simples aposentadoria de um funcionário, até um acordo estratégico com um país estrangeiro. Tomava conhecimento pessoal dos casos e redigia ele próprio as decisões. Mais do que isso, se assegurava Getúlio de que suas ordens seriam cumpridas, cobrando firmemente dos assessores empenho para fazê-lo.
Célebre, aliás, era sua insatisfação quando seu ritmo não era acompanhado pelos subalternos. Em 1933, enquanto se convalescia de um acidente, se referiu aos ministros que se aproveitavam de sua imobilidade para diminuir o ritmo dos compromissos apontando em seu diário: “Não acuso, registro”. Assim, Getúlio despachava três turnos por dia, às vezes até de madrugada, também em domingos e feriados, mesmo quando em viagem. Some-se a isso as cansativas reuniões, jantares, discursos e eventos oficiais aos quais comparecia.
O ritmo de Jair
No exercício de suas funções presidenciais, Jair passeou de moto, de bicicleta, de caminhonete, de jet-ski e de iate. Fez lives, postou no Twiter, no Instagram, no Facebook, no Whatsapp e no Telegram. Ofendeu Chefes de Estado, a esposa de um deles, ONGs, artistas, religiosos, professores, cientistas, Ministros do STF e, óbvio, opositores. Tomou café em padaria, caldo de cana, Cloroquina e Ivermectina. Brincou com emas, dançou funk, comeu picanha, galinha enfarofada e pastel. Tentou jogar futebol e desfilou incontáveis camisas de clubes. Assinou documentos e, arrependido, alegou tê-lo feito sem ler. Nomeou autoridades e revogou a nomeação antes mesmo que tomassem posse. Disse coisas e depois voltou atrás. Segundo sua própria agenda, deu expediente médio de 3,10 horas por dia em janeiro último, pouco antes de sair em férias. Ainda assim, quebrou recorde histórico de trocas de Diretores da Polícia Federal.
Apenas para registro
Que não se diga que há intenção oculta neste artigo. Não tem por objetivo diminuir ou exaltar um ou outro, tampouco comparar o que não pode ser comparado. Visa tão somente fazer constar. Até porque, repetindo frase de Getúlio já usada neste artigo, “eu não acuso, só registro”.
(*) Advogado em Santa Maria, RS.