O jornalista saudita, Jamal Khashoggi, depois de torturado, foi assassinado por esquartejamento que teve início com ele ainda vivo. O desmembramento começou pelo corte dos seus dedos e a morte sobreveio com sua decapitação.
O corpo de Khashoggi foi feito em pedaços por uma serra óssea, forma encontrada pelos agentes do governo da Arábia Saudita para se livrarem do cadáver, que teria sido levado em malas “diplomáticas” para fora do país onde o crime foi cometido.
Estes são alguns detalhes publicados por jornais turcos, a exemplo do Yénin Safak e Sobah, a partir do acesso a áudios e vídeos que estão em mãos da polícia turca.
Khashoggi que, por suas reportagens e posicionamentos questionadores do poder em exercício no regime saudita, temia por seu destino e havia deixado o país natal em 2017 para ir aos Estados Unidos, onde passou a escrever para o Washington Post, escreveu no jornal americano em matéria de 11 de setembro:
“A Arábia Saudita deve encarar o dano dos últimos três anos de guerra no Iêmen. O conflito fez minguarem a relações do reino com a comunidade internacional, afetou a dinâmica da segurança regional e danificou sua reputação no mundo islâmico”.
O que é fato é que ele nunca mais foi visto a partir do dia 2 de outubro, pouco depois da uma da tarde, quando entrou no consulado da Arábia Saudita em Istambul para pegar documentos que comprovariam seu divórcio.
CÍRCULO
Na operação planificada para dar cabo da vida do jornalista, participaram 15 agentes que chegaram à Turquia poucas horas antes e partiram duas horas depois da execução. Destes, pelo menos cinco foram identificados como integrantes do círculo próximo ao príncipe herdeiro, Mohammed Bin Salman.
Um deles, Maher Abdulaziz Mutreb, era guarda-costa do príncipe, como mostram fotos dos dois, em momentos distintos, publicadas na imprensa turca.
Segundo a mesma imprensa, os áudios revelam que inclusive o cônsul, Mohammad al-Otaibi, participou do assassinato. Logo que o homicídio teve início, com o decepamento dos dedos, pode-se escutar a voz do cônsul dizendo: “Façam isso fora daqui. Vocês vão me criar problemas”, ao que foi admoestado por um dos elementos da operação: “Se quiser permanecer vivo quando voltar à Arábia Saudita fique quieto”.
Depois dos espancamentos, conta o jornal turco, Safak, que se deram na sala de despacho do cônsul, ele foi arrastado a uma sala de reuniões onde havia uma mesa na qual foi deitado para que se desse início ao macabro procedimento de esquartejamento. Foram 7 minutos até a morte do jornalista.
Os policiais também informam que entre os 15 homens que chegaram à Turquia lá, grupo denominado de “esquadrão da morte”, um deles era especialista em autópsias. Trata-se do diretor do departamento de medicina forense, Salah Muhammad al-Tubaigy.
Durante o esquartejamento, Tubaigy colocou fones de ouvido e passou a ouvir música e sugeriu ao cônsul e aos demais que fizessem o mesmo.
Aliás, logo antes da polícia turca ser autorizada a vasculhar a casa do cônsul, este viajou de volta para seu país (dia 16). É o que revela a Agência Reuters que informa também que Otaibi foi destituído de suas funções e será “investigado” por Riad. Será ele o “bode expiatório?”
Não é a primeira vez que um episódio como este acontece. Por conta de suas relações privilegiadas com os Estados Unidos, integrantes da Casa Saud se sentem acima da lei. Em 1979, o jornalista Nasir AsSaid – um nacionalista árabe defensor do secularismo -, que saíra da Arábia Saudita para o Egito e depois para Beirute, onde escreveu na forma de tablóide uma extensa história sobre a família real saudita. Lá expunha as mazelas do reino, até que Abu Az Za’im, ligado à inteligência jordaniana o sequestrou em uma rua movimentada da capital do Líbano e daí foi levado para embaixada da Arábia Saudita, onde teria sido torturado e morto. Seu corpo foi atirado de um avião sobre a região mais desabitada do deserto saudita.
SEQUESTRO
Há pouco tempo, em novembro de 2017, foi seqüestrado Said Hariri, que participava de negociações para formar um governo de coalizão nacional no Líbano, o que não interessava aos sauditas devido ao prestígio que o Bloco Patriótico, com forte participação do Hezbollah, estava adquirindo. Sob pressão da Síria, Líbano e do governo francês, além da grita internacional Hariri foi colocado em um voo a Paris e de lá retornou ao Líbano, Hariri acabou formando com Michel Aoun, do Bloco Patriótico, um governo com ele como primeiro-ministro e Aoun como presidente. Mas o silêncio de Hariri, como se ele estivesse fora da vida pública, coloca sob questionamento o tipo de “conversa” que o atual premiê teria tido com os sequestradores em Riad.
Quanto aos Estados Unidos, que têm na Arábia Saudita a principal base de apoio para suas intervenções no Oriente Médio, e acertou a venda de US$ 110 bilhões em armas, tenta resolver o impasse e ficar bem com os nobres sauditas no governo. Trump, que disse no primeiro momento que a Arábia Saudita sofreria punição exemplar, logo fez um recuo desmoralizante para dizer que aceita as explicações do príncipe Bin Salman quando este diz que não ter nada com a morte do jornalista.
Além disso, botou o secretário de Estado, Mike Pompeo, a viajar primeiro para a Arábia Saudita depois para a Turquia, com certeza munido de panos quentes, mas o caso já está rumoroso demais para ser abafado.
Norbert Roettgen, presidente do comitê de Assuntos Internacionais do Parlamento Alemão criticou os comentários de Trump. “O fator decisivo agora é o comportamento do presidente dos Estados Unidos, que basicamente disse ao príncipe: estamos lhe dando total liberdade desde que compre as nossas armas e outros produtos de nós. ”
Já o governo saudita tem alertado que se forem submeter o país a sanções, tomará contra-medidas, a exemplo da diminuição das vendas de petróleo, fazendo com que o barril tenha os preços catapultados, chegando a US$ 200 e aprofundando as negociações com a Rússia para aquisição de armas e com o Irã aliviando o cerco sobre o país que EUA e Israel escolheram para hostilizar, entre outras razões, por seu comportamento independente das demandas e tramas imperiais.
NATHANIEL BRAIA