EDUARDO COSTA*
“Depois do árduo trabalho de localizar a sociedade secreta que com seus agentes rastreia os que andam de bicicleta perto dos hospitais de campanha, volto-me para o boletim da ASNIN.
“Vejam só. Esse pessoal da FP pega meu relatório sobre contrabando de corpos e diz que era fácil entender, e me manda ler um informe da Bahia. Achei que era xingamento, sabe como eles são invejosos, e cá entre nós, às vezes, suspeitos. Mas procurei o boletim baiano e dei minha olhada de relinche. Muito bom. Falava lá que o ministério da saúde mudou o sistema de informação e só três estados conseguiram resolver o imbróglio. Não deve ser isso. Isso é rotina.
“Pego a lupa: 14.566 casos confirmados, 495 mortes. Os casos entre servidores da saúde foram 2158, 14,8% do total. Bem, isso deve significar que tem excesso de pessoal na saúde. Faço as contas, (14,8% de 14.873.064 = 2.201.213). Tudo isso? E ainda diz aqui que a ocupação dos leitos é de apenas 55%! Vou oficiar para nosso serviço paralelo de informações. Gente demais para pouco serviço… assim a economia não aguenta.
“Vamos ver mais:
– Harrá! Leio e transcrevo para meus superiores: “A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) determinou que a Auditoria do Sistema Único de Saúde (SUS) e a Corregedoria apurem as responsabilidades, bem como as circunstâncias que levaram a notificações tardias aos órgãos de vigilância.”
“Caso encerrado, posso descansar dessa, – ‘tá sob controle. A culpa é dos comunas da saúde, relaxados. Como disse o ministro:
– Logo, logo vamos acabar com eles na base da granada. Rerré, vou entrar de frente. Assobiei o ‘a Bahia já me deu regra e compasso’ e pensei: partir pra cima, porra!
“Volto ao boletim da ASNIN. Muito importante a segurança da “famiglia” do nosso comandante-em-chefe. E eu fico perdendo tempo com essas ocorrências menores.
“Ouço um barulho no corredor e olho para a porta, pela soleira empurram uma folha de papel. Armo a bazuca que o general Boas me deu e corro para a porta. O cara escafedeu-se.
“Leio o bilhete: ‘Quer encontrar a santa? Não vá à ilha fiscal.’ O quê? Onde está a santa? Sumiram com a Santa, concluo. O Clouseau está de férias, vou ter que assumir mais essa investigação.
Gal. Costa Leve em 26/05/2020.”
*Eduardo Costa da Saúde é médico-sanitarista, e epidemiologista, homenageia a brava gente da Bahia, em particular amigos da Sesab.
Lá iniciei minha vida de epidemiologista de campo correndo atrás da varíola, e organizei uma das quatro primeiras unidades de vigilância epidemiológica do Brasil, que eram conveniadas com a Fundação SESP.
Aché, meus irmãos!