“No universo paralelo dessa turma os doentes tratam a si mesmos nos hospitais e os alunos dão aula pra si mesmos nas escolas e universidades”
Reproduzimos a seguir o artigo “O Terraplanismo Econômico do Instituto Millenium” do economista José Luis Oreiro, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), onde contesta o “estudo” divulgado pelo Instituto Millenium que, na contramão da maioria dos economistas de bom senso, prega a redução de serviços públicos, a diminuição do tamanho do Estado e a redução dos investimentos públicos.
Por José Luis Oreiro
O Instituto Millenium em seu estudo comparando o gasto com servidores públicos versus gasto com saúde e educação avançou no terraplanismo econômico ao retirar dos gastos com educação e saúde os salários dos servidores das áreas de educação e saúde (o “estudo” pode ser visto aqui: https://campanha.institutomillenium.org.br/wp-content/uploads/2020/08/Reforma-administrativa-Vers%C3%A3o-final.pdf ).
No universo paralelo dessa turma os doentes tratam a si mesmos nos hospitais e os alunos dão aula pra si mesmos nas escolas e universidades. Os gastos com saúde e educação são gastos apenas com capital físico, não com trabalho. É muita picaretagem ideológica travestida de “estudo”.
Qualquer pessoa com mais de dois neurônios e não comprometido ideologicamente com a tese do “Estado Mínimo” sabe que os serviços públicos de saúde, educação, segurança e defesa são prestados por médicos, enfermeiros, professores, policiais, bombeiros e militares. Não tem como prestar esses serviços sem “gastar” com salários de servidores públicos
Qualquer pessoa com mais de dois neurônios e não comprometido ideologicamente com a tese do “Estado Mínimo” sabe que os serviços públicos de saúde, educação, segurança e defesa são prestados por médicos, enfermeiros, professores, policiais, bombeiros e militares. Não tem como prestar esses serviços sem “gastar” com salários de servidores públicos. Dessa forma é um completo non-sense comparar os gastos com funcionários públicos com os gastos com saúde e educação, pois a maior parte destes últimos – se corretamente mensurados, ou seja, ao se incluir os vencimentos dos servidores dessas áreas – é constituído pelos salários dos servidores de saúde e educação.
Quanto ao alegado crescimento excessivo do número de funcionários públicos, isso ocorreu basicamente a nível municipal e estadual, sendo fundamentalmente a contratação de médicos, enfermeiros, professores e policiais. O que essa turma do Instituto Millenium queria? Que os estados e municípios construíssem hospitais e UPA´s e não contratassem médicos e enfermeiros? Que construíssem escolas e não contratassem professores? Que construíssem quarteis de policia e comprassem viaturas e não contratassem mais policiais. É muita cara de pau.
P.S: A Especialista em Gestão Pública Evelyn Levy, ao comentar este post, me chamou atenção para o fato de que o crescimento mais acelerado do funcionalismo público nos municípios, na comparação com os demais entes da Federação, se deve ao fato de que os municípios passaram a ser responsáveis, por lei, por novos serviços como, por exemplo, atenção básica e pré-escola. Agradeço a ela o comentário mais do que pertinente.