O governo soube manter as armas nas mãos certas e apontadas na direção correta
Estamos diante de um momento grave na vida nacional. Grupos fascistas, que até bem pouco tempo estavam com seu chefe ocupando a Presidência da República, tentaram reverter, pela via do golpe e da violência, a derrota que sofreram nas urnas no dia 30 de outubro.
Graças à ação firme do povo brasileiro, do novo governo, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, foram derrotados também nesse terreno. Agora, o desafio dos democratas é punir e prender os cabeças, os financiadores e desarticular as milícias.
Para obter esse desfecho foi fundamental ter habilidade política e isolar os fascistas no âmbito das forças de segurança do Distrito Federal e das Forças Armadas. O Brasil precisou e viu, na hora crítica, o surgimento de homens que souberam conduzir o país e o conjunto da tropa para a repressão aos golpistas. Nenhuma atitude precipitada foi tomada.
A “vitória de Pirro” no início, com a entrada pelos fascistas nas sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, levou alguns integrantes mais inseguros e ansiosos do campo democrático a pregarem atitudes tresloucadas que poderiam ter colocado tudo a perder.
Duas, basicamente, foram as “teorias” surgidas nesse sentido dentro do campo democrático. Uma, oriunda de um intelectual de renome da USP, que, caso não tivesse assinado o artigo em questão, levantaria dúvidas até mesmo se a “teoria” sustentada não teria sido formulada pelos próprios golpistas.
A tese exposta pelo professor é de que o Brasil vem sofrendo derrotas desde que aceitou a anistia de 1979 e que, por isso, o novo governo deveria parar de “contemporizar” e extinguir a Polícia Militar e demitir todo o Alto Comando das Forças Armadas.
A ideia, que beira a estupidez, foi defendida mesmo diante de uma realidade que mostrava a Polícia Militar de Brasília – mesmo infiltrada por bolsonaristas – agindo implacavelmente contra os fascistas, depois, é claro, de devidamente defenestrado o seu comando golpista.
As cenas de um coronel do Exército xingando os seus pares da ativa por terem abandonado os “patriotas do bem”, que nada tinham de patriotas, e entregue os golpistas à Polícia Militar para serem presos, também não sensibilizou o intelectual. Ele exigiu de Lula a demissão de todo Alto Comando Militar. Uma proposta na medida certa para coesionar toda a tropa – também bastante infiltrada – contra o novo governo e a democracia.
O outro “conselheiro” intelectual, também muito prestigiado, desta vez não na USP, mas no “jornalismo investigativo internacional”, veio com uma teoria ainda mais exótica que a anterior. Inventou que o golpe fracassado do domingo (8) teria sido uma armação da CIA e estava programado pelos espiões para fracassar. A “ideia”, segundo ele, era “consolidar” o governo Lula.
Os “agentes” de Biden teriam fabricado um golpe para ser fracassado porque o governo americano quer ter Lula governando o Brasil. É muito malabarismo.
Essa tese, que alguns chamam de “vira-lata”, já que parte do princípio de que os brasileiros, inclusive o próprio Lula, são estúpidos, tem a mesma origem e a mesma raiz ideológica da anterior. Trata-se da ideia colonizada de que as vitórias políticas no Brasil nunca são conquistadas pelo povo, mas, sim – e sempre – fruto de cambalachos, negociatas ou resultado de grandes conspirações dos poderosos sem a participação popular.
Pintando-se com ares de uma esquerda “muito esclarecida”, tais teorias não passam de puro esmagamento diante da monumental força e capacidade demonstradas, mais uma vez, pelo povo brasileiro que, com seu novo governo recém-eleito, derrotou fragorosamente o fascismo, tanto nas urnas, como nas ruas e, até, nas armas.
O povo brasileiro soube colocar, na hora certa, os homens certos para comandar o país e esmagar o golpe. Homens que foram capazes de manter as armas nas mãos certas e apontadas na direção correta. Isso não é pouca coisa. Aliás, é muita coisa. Se bem entendida, esta portentosa vitória levará a outras. Como disse Flávio Dino, dirigindo-se aos “vira-latas”, o “nosso capitólio” foi melhor resolvido do que o dos Estados Unidos.
SÉRGIO CRUZ
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A RAMPA
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Da ideologia fizeram fanatismo
Do fanatismo fizeram idiotia
Da idiotia fizeram inconformismo
Do inconformismo fizeram anarquia
Da anarquia fizeram tablado
Onde foi encenado
O circo dos horrores
Em que gritos de guerra
Amaldiçoaram toda a Terra
Disfarçados de louvores.
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Da bandeira fizeram capa
Do mastro fizeram mosquetão
Dos ideais fizeram faca
Para sangrar a Constituição
E o colorido da bandeira
Deu lugar à cor vermelha
Do sangue que foi além
Das margens do bom senso
Ignorado pelos pretensos
Patriotas cidadãos de bem.
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Da liberdade de expressão
Fizeram usina de mentiras
Da santidade da religião
Fizeram satânico culto à ira
E da luta por falsa liberdade
Baseada na ilegalidade
Surgiu um golpe frustrado
A democracia subiu a rampa
Mas os golpistas sacripantas
A desceram algemados.
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Eduardo de Paula Barreto
12/01/2023
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