Marcelo Odebrecht entregou nesta semana à Promotoria do Brasil um CD com documentos que comprovam que o ex-presidente do Peru, Ollanta Humala, recebeu em 2011 pelo menos US$ 3 milhões em recursos ilícitos para cobrir gastos de sua campanha eleitoral a pedido do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os desembolsos têm como nome chave “Campanha NAC 3 – da Obra Ítalo-Italiano Eleição Peru”. Conforme apurado pela operação Lava Jato, “italiano” era o codinome utilizado pelo ex-ministro da Fazenda de Lula, Antonio Palocci, para encobrir as falcatruas.
Detido em junho de 2015, Odebrecht foi condenado inicialmente a mais de 19 anos de prisão, enquanto Palocci foi detido em setembro de 2016, acusado de intermediar o pagamento de propinas e subornos em troca de contratos. O Ministério Público apurou que Palocci mantinha uma conta corrente junto à construtora por meio da qual recebeu os valores que posteriormente seriam repassados ao Partido dos Trabalhadores (PT). Suficientemente pormenorizadas, as armações constam na Planilha “Caixa Livre Peru-Dólar”, fatiadas em diferentes transações bancárias – tornadas públicas já devidamente descontado o dinheiro de apoio aos petistas.
ITALIANO
“Palocci, daqui do Brasil, me pediu, me fez um pedido para que apoiássemos, que nós lhes déssemos US$ 3 milhões para apoiar a campanha do senhor Ollanta Humala no Peru… Esse montante que eu enviaria a Ollanta Humala seria descontado de um montante que eu havia fixado com eles para apoiar o PT, em geral. O pedido foi justificado nessa época por uma questão geopolítica, quer dizer, uma aproximação ideológica entre o presidente Lula e o presidente [sic] Ollanta Humala”, declarou Marcelo Odebrecht.
Preso em setembro de 2016 num desdobramento da Operação Lava Jato – e condenado por Moro a 12 anos e 2 meses de prisão – Palocci disse não saber a razão de ter sido escolhida a alcunha de “Italiano” para nomeá-lo, mas que acredita ser o sujeito da planilha. “Acredito que sim, porque boa parte do que é tratado nessa planilha são assuntos que tratei com ele”, relatou Palocci, confessando, entre outros crimes, a compra pela Odebrecht do apartamento vizinho ao de Lula, em São Bernardo do Campo, e do terreno onde seria sediado o Instituto Lula.
Conforme o portal de investigação IDL-Reporteros, o CD contem correios eletrônicos, anotações encontradas no backup do computador pessoal do empresário e registros do “Departamento de Operações Estruturadas” – o setor de propina da construtora – nas quais aparecem os pagamentos e transferências bancárias. A Odebrecht foi uma das principais envolvidas no esquema de corrupção na Petrobrás investigado pela Lava Jato, sendo apontada como a rainha da distribuição de propina: mais de US$ 1 bilhão em 12 países. Além do Brasil, o propinoduto da construtora molhou a mão e encheu o bolso de presidentes, ministros e autoridades de Angola, Argentina, Colômbia, Equador, Guatemala, México, Moçambique, Panamá, Peru, República Dominicana e Venezuela. Muitos deles encontram-se presos.
PROPINODUTO
Entre as provas contra Humala aparecem quatro pagamentos num total de US$ 1,l6 milhão mais quatro ordens de pagamento de um montante total de US$ 1.202.893, entre julho e outubro de 2011 e uma ordem de pagamento de US$ 700 mil, de 9 de maio de 2011, a uma pessoa chamada “Sururu”, além de um correio eletrônico datada de 8 de maio de 2011 dirigido a Marcelo Odebrecht por Benedito da Silva Júnior, ex-executivo da empresa. Posteriormente, o correio é respondido por Odebrecht, com cópia enviada a Luiz Mameri, então vice-presidente da construtora para a América Latina.
As provas entregues pelo empresário – condenado inicialmente a 19 anos e quatro meses de prisão e já em liberdade – são parte do acordo de cooperação firmado entre os promotores brasileiros e peruanos, reativado em agosto. Nos acordos de delação premiada assinados por Marcelo Odebrecht com o Ministério Público brasileiro, qualquer informação falsa fará com que volte à prisão.
Em entrevista à rádio RPP de Lima, a ex-promotora Katherine Ampuero avaliou que “a situação de Humala está piorando” com as novas provas apresentadas, pois nitidamente “são subornos adiantados” para a concessão de obras.
Ao lado da esposa Nadine Heredia, Ollanta Humala é investigado pelos aportes recebidos pelo Partido Nacionalista Peruano para sua campanha presidencial de 2006 e 2011. Os dois chegaram a ficar nove meses presos, acusados de lavagem de dinheiro.
As declarações de Marcelo Odebrecht estão completamente em sintonia com as dadas pelo ex-diretor da construtora no Peru, Jorge Barata, ao procurador peruano Hamilton Castro. Barata confirmou em seu testemunho que a empresa aportou os US$ 3 milhões para financiar a campanha de Humala em 2011 e reiterou aos promotores peruanos que entregou o montante ao ex-mandatário por ordem do seu chefe. A exigência, assinalou, foi do Partido dos Trabalhadores, sob a batuta de Lula. Finalmente, Barata explicou que se a princípio era ele mesmo quem comunicava a Nadine Heredia sobre a quantia de dinheiro que devia ser entregue, posteriormente era a própria esposa de Humala quem o pressionava pelos recursos.
LWS