O juiz argentino Sebastián Casanello, em uma das investigações vinculadas à Odebrecht no país, entrou, na terça-feira, 8, com um processo contra ex-funcionários e empresários por “contratações direcionadas, nas quais foram pagos sobrepreços” para as obras da estação de tratamento de águas Paraná de las Palmas, na cidade de Tigre, e da Planta de pré-tratamento de resíduos de esgoto de Berazategui, ambas na província a Buenos Aires, informou Irina Hauser, em artigo do jornal Página 12.
Na Argentina correm três investigações centrais sobre contratos e propinas vinculados à Odebrecht, embora haja várias outras em gestação. A que está a cargo de Casanello é uma delas; em outra são analisadas obras para a ampliação de dois gasodutos e a terceira investiga as contratações e subornos para o as escavações para o trem subterrâneo Sarmiento*. Todos os processos envolvem obras, empresas e funcionários dos governos de Cristina Kirchner e de Maurício Macri. Delatores da operação Lava Jato apontaram montantes que superariam os 35 milhões de dólares que a Odebrecht reconheceu ter pago na Argentina.
Julio De Vido, ministro de Planificação Federal, Investimento Público e Serviços nos governos de Néstor e Cristina Kirchner é um dos principais acusados. A sua defesa diz que “só lhe atribuem questões de caráter administrativo relativas à organização do ministério que não são judiciáveis”. Agora Casanello vincula tanto a ele como a seu principal ex-assessor, Roberto Baratta, e ao ex-secretário de Obras Públicas, José López, com a possível trama de propinas.
A decisão de Casanello de terça passada afeta o ex titular de Águas e Saneamentos Argentinos, Aysa, Carlos Ben, e também atinge a grandes empresários como Aldo Roggio, chefe do grupo Roggio –dono, entre outras empresas, de Metrovías, concessionária do metrô de Buenos Aires e outras ferrovias privatizadas –, a Carlos Wagner, ex-presidente da Câmara da Construção e Tito Biagini, ex-presidente da empresa de construção civil, José Cartellone. As três empresas estão entre as principais empreiteiras do governo de Maurício Macri. Casanello chamou a prestar depoimento a Jorge “Corcho” Rodríguez assinalado como intermediário, além de Marcelo Odebrecht e Antonio Miguel Marques, este último presidente da Camargo Correa.
Além de licitações armadas sob medida, como de praxe em outros esquemas investigados pela Lava jato, aos contratos realizados foram se somando aditivos orçamentários que modificam os projetos das obras iniciais. E ainda foi prolongando o tempo que levariam as obras. A Estação de Tigre devia ser entregue em 2012, mas a obra provisória só começou a ser entregue em agosto de 2014. Em números, segundo o juiz, essa obra estava prevista por um valor de 800 milhões de dólares, porém por conta de aumentos de custos, prorrogações, redefinição de preços e o financiamento do BNDES, o custo acabou em 2,5 bilhões de dólares. A obra de Berazategui devia terminar em 2011, mas a primeira entrega foi em abril de 2015, assinalou a reportagem de Página 12.
O intermediário Rodríguez, por exemplo, veio a público recentemente informar que teria utilizado uma empresa, Sabrimol Trading, constituída no Uruguai, para receber, através de uma conta do Banco Itaú, pelo menos 10.210.373,84 de dólares e 684.283 Euros, com a colaboração de outras pessoas vinculadas à empresa uruguaia e sua administração. Sabrimol, segundo assinala a resolução de Casanello, recebeu dinheiro de cinco sociedades offshore utilizadas pela Odebrecht.
Em função de todos esses dados, a Oficina Anticorrupción da Argentina e o promotor Federico Delgado pediram novos inquéritos, entre eles o de Rodríguez, exigidos agora por Casanello, que incluiu também os ex-funcionários De Vido, Baratta e López.
*As obras de escavações para o trem subterrâneo do Sarmiento foram licitadas em 2006, durante a gestão de Néstor Kirchner, e adjudicadas dois anos depois. O vitorioso na licitação foi o consórcio UTE, que reuniu a empresas italiana Ghella, a Odebrecht, as espanholas Comsa-EMTE, além da Iecsa (empresa do primo de Macri).