A Odebrecht anunciou, nesta sexta-feira (15), que fechou acordo de colaboração com a Promotoria do Peru para ampliar as investigações sobre subornos eleitorais e administrativos ilícitos.
“A Odebrecht e o estado peruano formalizaram, nesta sexta-feira, o acordo definitivo que estabelece as bases para a continuidade da cooperação da empresa com a justiça do país”, comunicou a construtora depois de terem ficado públicas informações chaves sobre a corrupção da qual foi parte ativa, o que lhe tornou impossível negar-se a responder pelos crimes.
Os detalhes do acordo foram definidos em dezembro passado. A empresa deverá pagar 182 milhões de dólares como reparação civil ao Peru. O valor foi fixado com base em quatro licitações que a construtora venceu no país andino pagando subornos a autoridades e funcionários peruanos.
O promotor Rafael Vela Barba qualificou a negociação de “exitosa”, e acrescentou que a mesma “permitirá ao sistema de administração da Justiça peruana acessar valiosas informações que permitam esclarecer a investigação”.
Os projetos enlameados no roubo ao patrimônio público são dois contratos referentes à construção de uma estrada que une o Peru ao Brasil durante o mandato do presidente Alejandro Toledo, que governou o país entre 2001 e 2006. Outros dois contratos dizem respeito à construção do metrô de Lima, que foi executado durante o segundo governo de Alan García, entre 2006 e 2011. Estão ainda sob investigação contratos para ampliar o corredor costeiro Costa Verde-Callao, e a construção de uma estrada de acesso rápido à Cuzco. Uma quinta obra é o projeto Chacas, na região andina de Ancash.
Resumindo, a Lava Jato peruana investiga os casos de corrupção relacionados à Odebrecht e que envolvem os ex-presidentes Alejandro Toledo (mandato de 2001 a 2006), foragido nos Estados Unidos; Ollanta Humala (2011-2016), que foi detido durante nove meses; Alan García (que governou o Peru por duas vezes, 1985-1990 e 2006-2011), e Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), que renunciou em março do ano passado, em meio a denúncias graves.
A Odebrecht já admitiu ter distribuído propina a autoridades de 12 países – além do Brasil, em troca de suas obras arranjadas.
A empresa reconheceu em 2016 que pagou US$ 788 milhões em propina em dez países latino-americanos (Argentina, Colômbia, República Dominicana, Equador, Guatemala, México, Panamá, Peru e Venezuela) e em dois da África (Angola e Moçambique). Apenas no Peru, a empreiteira admitiu o pagamento de US$ 29 milhões, de forma a burlar licitações para participar de mais de 40 projetos envolvendo US$ 12 bilhões em investimentos públicos.
Ollanta Humala e sua esposa Nadine Heredia receberam dinheiro da Odebrecht para a campanha eleitoral, confirmou o ex-diretor da Odebrecht no Peru, Jorge Barata. O ex-presidente ficou nove meses na prisão (entre julho de 2017 e 30 de abril de 2018), acusado de receber US$ 3 milhões em propina da Odebrecht na campanha de 2011. O dinheiro foi entregue a Humala a pedido do PT, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo depoimento de Jorge Barata a procuradores peruanos.
Marcelo Odebrecht ratificou o declarado por Barata.