O Ministério Público do Peru e a Odebrecht assinaram neste final de semana um acordo em que a construtora brasileira se compromete a pagar uma multa de US$ 181 milhões relativa à propinas entregues a funcionários públicos em troca de privilégios e superfaturamento de obras. Além disso, a empresa terá de entregar documentos e dados sobre o repasse das gorjetas milionárias.
Conforme o procurador Rafael Vela, coordenador da investigação peruana para continuar operando no país, a Odebrecht desembolsará a multa – cerca de R$ 707 milhões – ao longo de 15 anos. Um dos pontos chaves do acordo é que o ex-diretor da Odebrecht no Peru, Jorge Barata, preso no Brasil, poderá ser interrogado, além do que a promotoria receberá informações dos sistemas de computador criptografados chamados MyWebDay e Drousys, que a construtora vinha utilizando para proteger informações sobre os seus crimes.
A farta distribuição de propina realizada pela Odebrecht alcançou os mais altos escalões do governo peruano, incluindo os ex-presidentes Alan Garcia (preso), Alejandro Toledo (foragido), Ollanta Humala e Pedro Pablo Kuczynski, proibidos de deixar o país, além da ex-candidata a presidente, Keiko Fujimori, em prisão provisória há 20 dias.
A Odebrecht já admitiu ter distribuído corrupções criminosas a autoridades de 11 países – além do Brasil, em troca de suas obras arranjadas.
A empresa reconheceu em 2016 que pagou US$ 788 milhões em propina a dez países latino-americanos (Argentina, Colômbia, República Dominicana, Equador, Guatemala, México, Moçambique, Panamá, Peru e Venezuela) e dois da África (Angola e Moçambique). Só no Peru a empreiteira admitiu o pagamento de US$ 29 milhões, de forma a participar de mais de 40 projetos envolvendo US$ 12 bilhões em gastos públicos.
No Peru, dois contratos são referentes à construção de uma estrada que uniu o país ao Brasil durante o mandato do presidente Alejandro Toledo, que governou o país entre 2001 e 2006. Outros dois contratos dizem respeito à construção do metrô de Lima, que foi executado durante o segundo governo de Alan García, entre 2006 e 2011. Estão sob investigação contratos para ampliar o corredor Costa Verde-Callao, na costa de Lima, e a construção de uma estrada de acesso rápido à Cuzco. Uma quinta obra é o projeto Chacas, na região andina de Ancash.