O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou na sexta-feira (14) que os ataques terroristas realizados no dia 8 de janeiro são decorrência de anos de difusão de mensagens de ódio e ataques à democracia pelas plataformas digitais.
“Por que a violência foi maior no prédio do Supremo Tribunal Federal do que no Palácio do Planalto ou no Congresso Nacional? Porque durante anos se difundiram mensagens contra o STF, contra os ministros do STF, contra o Poder Judiciário e é esse ódio que ganhou pernas e braços no dia 8 de janeiro”, apontou Dino durante palestra, no Costão do Santinho, em Santa Catarina, no V Encontro Nacional de Inteligência e Segurança Institucional do Poder Judiciário.
“Não havia comando [no grupo terrorista] naquele dia, mas havia um paradigma que determinava ódio contra aquilo que os senhores [do Poder Judiciário] representam. Os senhores representam ciência, conhecimento, leis, cultura, valores civilizacionais que não convêm a essas pessoas. Da política e de fora da política”, continuou.
“Dentre os palácios que corporificam o poder máximo da República o que foi mais violentamente agredido foi o prédio do Supremo Tribunal Federal. Destroçado com ódio. Se não fosse a corporação própria do Supremo, que contou, no segundo momento, com auxílio nosso e das forças locais, os danos teriam sido ainda maiores”, relatou.
As investigações sobre a disseminação de discursos de ódio nas redes sociais, que resulta em ataques contra escolas, continuou o ministro, mostraram que as pessoas estão sendo manipuladas.
“É como se tivéssemos aberto a tampa de uma caixa e lá encontrássemos pessoas e adolescentes que são manipulados, inclusive contra os senhores e senhoras, por postagens na internet”, falou.
“Temos tentado enfrentar desde o crime analógico até a criminalidade organizada transnacionalizada, que assombra mães e pais. De onde vem a violência das escolas? De onde vêm as 120 pessoas presas ou apreendidas em território nacional nos últimos dias, por engendrarem ou executarem ataques a crianças? Essas pessoas encontraram cimento para seus ódios e esse cimento, esse amálgama, está exatamente na internet”, afirmou.
ESCOLAS
No âmbito da Operação Escola Segura, o Ministério da Justiça destacou 120 agentes para o monitoramento de redes sociais para prevenção de ataques contra escolas.
Na avaliação de Dino, o problema “transcende as fronteiras nacionais”.
Nos Estados Unidos, ataques em escolas e locais públicos acontecem com maior frequência. Em muitos casos, os criminosos eram parte de comunidades de extrema-direita na internet, assim como foi descoberto em assassinos no Brasil.
O Ministério da Justiça publicou uma portaria fazendo novas exigências para as redes sociais no sentido de impedir a circulação de mensagens criminosas e que incitem ataques em escolas.
Após alguns dias de resistência do Twitter, Dino disse que agora a plataforma está colaborando e incluindo as contas criminosas.
“As plataformas mais conhecidas têm se reunido com a gente, mas ainda temos o desafio da dark web, da deep web. Houve resistência de algumas, mas hoje há uma maior compreensão. Assim espero, porque estamos falando de milhares de conteúdos, todos os dias, que são identificados como propagadores desses discursos”, sublinhou.
Ao mesmo tempo, Dino anunciou medidas de financiamento para reforçar a segurança pública. Na quarta-feira (12), foram anunciados R$ 150 milhões para Estados e municípios, que apresentarão propostas para fortalecer as polícias.
Outros R$ 100 milhões foram liberados na quinta-feira (13) para investimentos nas guardas civis municipais.
“Nós estamos diante de uma dessas voltas do caminho da história, uma dessas encruzilhadas, em que nós temos uma mudança no patamar sobre a segurança nas escolas. Precisamos de um debate mais perene, mais definitivo, mas a nossa dimensão de atuação é aqui e agora, a dimensão emergencial”, afirmou.