Manifestando-se diretamente de Richmond, a capital dos escravagistas dos EUA, o ex-astrólogo e (dizem) filósofo online Olavo de Carvalho discordou de Bolsonaro quanto à nomeação do filho deste último, Eduardo, para a embaixada do Brasil em Washington: “isso seria um retrocesso, seria a destruição da carreira do Eduardo Bolsonaro”.
Alguém já disse que, na Alemanha nazista, o “Mein Kampf” – o livro de Hitler – servia até como guia para que os pais cuidassem dos seus bebês.
No governo atual, o Olavo de Carvalho sabe melhor o que é bom para os filhos do Bolsonaro do que o Bolsonaro.
Por exemplo, segundo sua proficiente avaliação, Bolsonaro quer destruir a carreira do filho, nomeando-o embaixador em Washington.
Logo, Carvalho está defendendo Eduardo Bolsonaro contra Jair Bolsonaro, que vem a ser o pai do cidadão ameaçado de ser embaixador nos EUA.
O que seria da família Bolsonaro se não fosse o Olavo de Carvalho?
Observemos que a família Bolsonaro está, há muito, tramando a colocação do filho zero-três na embaixada do Brasil nos EUA – posto onde já esteve Joaquim Nabuco, que Bolsonaro deve achar que é o primo do Nabucodonosor.
Há quatro meses, Bolsonaro demitiu, pela imprensa, o embaixador do Brasil nos EUA, Sérgio Amaral.
Mas não indicou ninguém para ocupar o cargo em Washington.
No último dia 10, seu filho Eduardo Bolsonaro completou 35 anos, idade mínima para ser embaixador (cf. Decreto-lei nº 9.202/1946: “Artigo 5º § 1º Excepcionalmente, a nomeação poderá recair em pessoa estranha à carreira de “Diplomata”, brasileiro nato, maior de 35 anos, de reconhecido mérito e com relevantes serviços prestados ao Brasil”).
No dia seguinte, Bolsonaro anunciou que pretendia nomear seu filho embaixador nos EUA.
A vaga, portanto, estava esperando o filho completar 35 anos.
Que Eduardo Bolsonaro esteja anos-luz à distância de possuir, como exige a lei, “reconhecido mérito”, ou de ter “relevantes serviços prestados ao Brasil”, é questão de somenos para o capo, quer dizer, o pai dessa família.
Se ele chegou a presidente sem isso, por que a lei deve exigir isso do seu rebento?
Deve ser porque a lei existe para ser respeitada, mas isso é demais para a inteligência de Bolsonaro, para quem, se for por cima da lei, melhor.
Mas os 35 anos de idade, ele não podia transgredir. Portanto, esperou até o aniversário do filho – e deu-lhe como presente a embaixada nos EUA, que, em vez de instituição pública, ele quer ver como casa de veraneio da família Bolsonaro.
Porém, segundo Olavo de Carvalho, Eduardo Bolsonaro tem que ficar no Brasil.
Para quê?
Para dirigir a “CPI do Foro de São Paulo”, com o objetivo de investigar a “esquerda”.
O fato de que não existe “CPI do Foro de São Paulo” alguma na Câmara dos Deputados – o próprio deputado Eduardo Bolsonaro somente apôs a sua assinatura, no pedido para essa CPI, no último dia 11 – não inibiu o ex-astrólogo, que considera que “essa CPI arrisca ser o acontecimento mais importante da nossa história parlamentar”.
Mais importante do que a aprovação da Lei Áurea, isto é, da abolição da escravatura?
Assim acha o Carvalho, leitor.
Por isso, Eduardo Bolsonaro tem que ficar no Brasil.
Além da CPI não existir, qualquer pau-mandado é capaz, se ela existir, de fazer o que Eduardo Bolsonaro nela faria.
Então, por que essa insistência de Carvalho, em que essa CPI é a missão da vida de Eduardo Bolsonaro?
(E, claro, só ele sabe qual a missão da vida de Eduardo Bolsonaro – como se existisse alguma.)
Em novembro de 2018, também em vídeo no YouTube, disse Carvalho, logo depois da eleição de Bolsonaro:
“Existe um cargo que se me oferecessem eu aceitaria. (…) Que é o cargo de embaixador nos Estados Unidos. Por quê? O Brasil precisa de dinheiro e como embaixador dos EUA eu saberia fazer dinheiro. Eu peguei alguma prática desse negócio de comércio internacional no tempo em que morei na Romênia. Eu não sou um total ignorante no comércio internacional.”
Carvalho, revelou, também, o que faria com o acesso ao secretário de Estado e ao presidente dos EUA, que, na sua opinião, o cargo de embaixador lhe daria:
“Eu seria um reizinho com autoridade total para mandar qualquer brasileiro para fora dos EUA.”
Na última sexta-feira (12/07), também em vídeo, com o título “A missão do Eduardo Bolsonaro”, disse Carvalho sobre seus planos para o filho de Jair Bolsonaro:
“Você não pode começar uma coisa dessa envergadura, desse valor e importância, para depois assumir um posto diplomático em que você não vai poder nem falar do assunto. O diplomata tem lá as suas obrigações regulamentares e não vai poder nem ficar falando do Foro de São Paulo. Isso seria um retrocesso, seria a destruição da carreira do Eduardo Bolsonaro.”
Portanto, segundo o guia filosófico da família Bolsonaro, ele tem que ficar no Brasil – a missão em Washington é para outra pessoa, que não tenha as altas responsabilidades de Eduardo Bolsonaro…
Mas, garantiu Carvalho que “está com Eduardo e com o seu pai até a morte”.
C.L.
Matéria relacionada: