“Competição entre empresas é coisa de perdedores. Queremos o monopólio”, confessa Dario Amodei, da Anthropic e conselheiro de Trump. “Se os EUA puder impedir que a China obtenha chips avançados, viveremos em um mundo unipolar, onde apenas os EUA e seus aliados terão esses modelos”, destacou o executivo
As falas, aparentemente impensadas de Donald Trump, revelam, na verdade, as reais intenções – geralmente ocultadas em administrações democratas – do governo dos Estados Unidos, tanto internamente, como pelo mundo afora. Sem papas na língua, o fascista abre o jogo em seu retorno à Casa Branca e não deixa dúvidas sobre o caráter xenófobo, expansionista, predador, arrogante e anti-humano do imperialismo americano.
PARASITISMO
Como Vladimir Lenin apontou já no início do século XX, o imperialismo é a fase mais apodrecida, degenerada e parasitária do capitalismo, onde os monopólios financeiros, formados da fusão do capital bancário e o capital industrial, tomam o controle da economia e se apoderam do Estado. Este é o processo fratricida em que capitalistas expropriam tudo, inclusive outros capitalistas. É a concentração e centralização brutal do capital nas mãos da oligarquia.
O fascismo, movimento que surgiu na década de 20 daquele século – fruto da primeira grande crise imperialista – foi insuflado naquela época para tentar manter o status quo imperialista e tentar destruir o socialismo nascente e desafiador. Este foi o regime que, como descreveu o estadista búlgaro, George Dimitrov, se apresenta na sociedade com muita demagogia, muita mentira, mas é, na realidade, “uma ditadura terrorista aberta dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro”.
É só observar o que Trump vem fazendo e o que ele disse em Davos, assim que assumiu, para se concluir que é exatamente isto o que está ocorrendo atualmente nos EUA: “Minha mensagem para todas as empresas do mundo é muito simples: venha fazer seu produto na América e nós lhe daremos um dos impostos mais baixos de qualquer nação da Terra. Estamos reduzindo-os substancialmente, mesmo com os cortes de impostos originais de Trump. Mas se você não fabricar seu produto na América, que é sua prerrogativa, então, muito simplesmente, você terá que pagar uma tarifa”.
“Venha fazer seu produto na América e nós lhe daremos um dos impostos mais baixos de qualquer nação da Terra. Estamos reduzindo-os substancialmente, mesmo com os cortes de impostos originais de Trump. Mas se você não fabricar seu produto na América, que é sua prerrogativa, então, muito simplesmente, você terá que pagar uma tarifa”.
TERROR INTERNO
Ou o que ele está fazendo internamente, com o terror brutal contra os imigrantes e ameaças a qualquer um que decida resistir ao seu obscurantismo. Ele simplesmente disse que iria anexar o Canadá, invadir o Panamá, se apoderar da Groenlândia e do Golfo do México, perseguir e expulsar imigrantes e se arvorar a tomar a Faixa de Gaza, expulsando milhões de palestinos. Declarar guerra comercial, como ele fez, aos produtos chineses e aos demais membros do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e a África do Sul), em caso de afastamento do dólar, é uma típica ação de quem está em profunda crise.
Comendo poeira na disputa econômica e tecnológica com a China e levando a OTAN a um vexame na Ucrânia, os EUA ameaçam com guerras tarifárias: “A palavra tarifa é a palavra mais bonita do dicionário – mais bonita do que amor, mais bonita do que respeito. Não, menos bonito do que a religião, não. Certo? Eu não quero entrar nesse argumento. Mas a palavra tarifa é a palavra mais bonita do dicionário, lembre-se disso. Isso vai tornar nosso país rico”, disse ele. Uma clara ameaça de que pretende usar essa arma – tarifas – contra quem se recusar a aceitar as suas condições.
Trump também não deixa dúvidas sobre o que pretende obter das outras nações. “Precisamos de matérias-primas. Assim como pegamos o petróleo da Síria, podemos pegar a Groenlândia porque precisamos de matérias-primas. E também precisamos de bases militares para que possamos lutar contra a Rússia ou a China que planejam um sistema de transporte internacional através do Oceano Ártico. Queremos controlar o Oceano Ártico para que tenhamos o poder de destruir o comércio mundial”, explicita o bufão da Casa Branca.
“Precisamos de matérias-primas. Assim como pegamos o petróleo da Síria, podemos pegar a Groenlândia porque precisamos de matérias-primas”
TRUMP QUER TUDO
Na opinião do economista norte-americano Michel Hudson, Trump vai intensificar as guerras de rapina, principalmente contra países mais fracos. “Para Trump, um ganha-ganha é uma derrota, porque um ganha-ganha significa que algum outro país também ganha, não apenas você, os Estados Unidos. E se algum outro país também vencer, isso significa que os Estados Unidos não pegaram tudo o que há para pegar, e Trump quer pegar tudo o que está disponível, todo o superávit econômico”, denunciou Hudson. Suas ameaças são claramente, segundo o economista, uma guerra econômica contra ao mundo. E, em sua opinião, essa guerra poderá levar a uma crise financeira mundial.
Outro aspecto que vem à tona de forma muito clara com a chegada de Trump ao poder é a ampla presença da oligarquia financeira, principalmente aquela ligada ao Vale do Silício, dentro de sua administração. Os oligarcas estão imbuídos de amplos poderes e sem disfarces. Os 14 bilionários que cercam Trump hoje, assim como o “chefe”, também tiraram a máscara e defendem sem peias o canibalismo econômico. Dizem que a concorrência entre empresas é coisa de perdedores e defendem abertamente os monopólios e a busca frenética por super lucros.
A oligarquia financeira, que já não produz praticamente nada, está completamente fundida com o poder nos EUA. Trump convidou os bilionários mais ricos do planeta para se sentarem com ele em sua posse em Washington. Elon Musk, CEO da Tesla e da SpaceX, que agora é o homem mais rico do mundo, tem um escritório na Casa Branca. Ele foi acompanhado por Jeff Bezos, fundador da Amazon; Mark Zuckerberg, CEO da Meta; Sundar Pichai, CEO do Google e da Alphabet; e Tim Cook, CEO da Apple. Juntos, esses oligarcas da Big Tech têm quase US$ 1 trilhão em riqueza, que acumularam estabelecendo monopólios.
MUNDO UNIPOLAR
O bilionário, criador do Pay pal e apoiador de Donald Trump, Peter Thiel, é um dos que afirmam sem reservas que seu objetivo é criar monopólios e destruir os mais fracos. É ele quem argumenta que “a competição é para perdedores”.
Já o executivo da Anthropic, empresa americana de Inteligência Artificial apoiada pela Amazon e pelo Google, Dario Amodei, defendeu que os EUA devem manter um “mundo unipolar” e pede sanções mais agressivas contra a China. “Se o governo dos EUA puder impedir que a China obtenha semicondutores avançados, viveremos em um mundo unipolar, onde apenas os EUA e seus aliados têm esses modelos”, escreveu Dario Amodei.
Em artigo no site Geopolítica e Economia, o jornalista e editor Ben Norton descreve Amodei como um ativista anti-China radical e um dos principais conselheiros de Trump. O executivo da Anthropic vem alertando o presidente para os “perigos” do avanço da China. “Controles de exportação bem aplicados são a única coisa que pode impedir a China de obter milhões de chips e, portanto, são o determinante mais importante para acabar em um mundo unipolar ou bipolar”, argumenta Dario Amodei.
“Controles de exportação bem aplicados são a única coisa que pode impedir a China de obter milhões de chips e, portanto, são o determinante mais importante para acabar em um mundo unipolar ou bipolar”
Essa mentalidade, que é comum no Vale do Silício, aponta Ben Norton, “explica por que as grandes empresas de tecnologia dos EUA têm tanto medo de concorrentes emergentes na China”. A ideia disseminada de que o capitalismo é baseado na competição é contestada abertamente por Peter Thiel, um megadoador do Partido Republicano. “Na verdade, capitalismo e competição são opostos”, escreveu ele, em 2014 no Wall Street Journal.
COMPETIÇÃO É PARA PERDEDORES
“A competição é para perdedores”, explicou Thiel, que anteriormente empregou o vice-presidente JD Vance. Thiel insistiu que as empresas de tecnologia dos EUA deveriam “procurar construir um monopólio”, porque, como ele disse, “o monopólio é a condição de todo negócio de sucesso”. Explicando sua visão de que “capitalismo e competição são opostos”, Thiel escreveu: “O capitalismo tem como premissa a acumulação de capital, mas sob concorrência perfeita, todos os lucros são eliminados”.
“Só uma coisa pode permitir que uma empresa transcenda a luta bruta diária pela sobrevivência: lucros monopolistas”, defendeu ele. “O monopólio é a condição de todo negócio de sucesso”, declarou Thiel, acrescentando: “Todas as empresas felizes são diferentes: cada uma ganha um monopólio resolvendo um problema único. Todas as empresas falidas são iguais: não conseguiram escapar da concorrência”. Uma pérola de raciocínio na defesa do parasitismo dos monopólios.
“O monopólio é a condição de todo negócio de sucesso”, declarou Thiel, acrescentando: “Todas as empresas felizes são diferentes: cada uma ganha um monopólio resolvendo um problema único”
Depois de sua coluna no WSJ, Thiel foi convidado por Sam Atlman, CEO da OpenAI, para falar em Stanford. Em sua palestra na Stanford ele diz: “Eu tenho uma única ideia fixa pela qual estou completamente obcecado, do lado dos negócios, que é que, se você está começando uma empresa, se você é o fundador, empreendedor, começando uma empresa, você sempre quer almejar o monopólio e sempre quer evitar a concorrência. E assim, portanto, a competição é para perdedores – algo sobre o qual falaremos hoje”. Ou seja, não há disfarce, a equipe de Trump é formada de oligarcas, monopolistas e açambarcadores.
PRESSÃO CONTRA DEEPSEEK
Em 21 de janeiro de 2025, apenas um dia depois de retornar ao cargo, Trump convidou Altman à Casa Branca para anunciar o “Projeto Stargate” apoiado pelo governo dos EUA, prometendo US$ 500 bilhões em investimentos relacionados à Inteligência Artificial. Trump e Altman se juntaram aos bilionários Larry Ellison, presidente executivo da Oracle, e Masayoshi Son, CEO do SoftBank para anunciar a verba bilionária. A OpenAI foi a empresa que pressionou violentamente o governo dos EUA a tomar mais medidas para cortar a concorrência de empresas chinesas como a DeepSeek.
Thiel, já como auxiliar de Trump, passou a defender abertamente também o fim da democracia. Ele publicou um artigo argumentando explicitamente contra a democracia e as liberdades, por mais limitadas que fossem. Seu texto foi publicado pelo think tank libertário Cato Institute, que é financiado por bilionários de direita e um Quem é Quem de grandes corporações dos EUA. “Não acredito mais que liberdade e democracia sejam compatíveis”, escreveu Thiel.
MONOPÓLIO DA IA
“A década de 1920 foi a última década na história americana durante a qual se poderia ser genuinamente otimista sobre a política”, argumentou o bilionário, lamentando que, “desde 1920, o vasto aumento de beneficiários do bem-estar social e a extensão do direito de voto às mulheres – dois círculos eleitorais que são notoriamente difíceis para os ‘libertários’ – transformaram a noção de ‘democracia capitalista’ em um oxímoro”, acrescentou. Como diz Norton, “Thiel reconheceu que o capitalismo e a democracia não podem coexistir simultaneamente – e como um oligarca bilionário, ele naturalmente acredita que o capitalismo é mais importante”.
Em artigo também no Wall Street journal, Dario Amodei, da Anthropic, e Matt Pottinger reclamaram que “a China está tentando alcançar os EUA” em IA. Ele argumentou que “os EUA devem liderar o mundo em inteligência artificial para preservar a segurança nacional”. “Ter o monopólio da IA estabelecerá uma vantagem histórica para os EUA e o mundo livre”, escreveram eles, porque “a IA provavelmente se tornará a tecnologia mais poderosa e estratégica da história”.
“Os EUA devem liderar o mundo em inteligência artificial para preservar a segurança nacional”. Ter o monopólio da IA estabelecerá uma vantagem histórica para os EUA e o mundo livre”
O controle da IA “também pode estender a preeminência militar americana”, enfatizaram Amodei e Pottinger. Mas se os EUA não tiverem o monopólio, eles alertaram, “outra nação – provavelmente a China – poderia nos superar econômica e militarmente”. Para evitar que a China competisse, o CEO de tecnologia e seu coautor neoconservador pediram a Trump que impusesse controles de semicondutores ainda mais agressivos, incluindo o rastreamento governamental das exportações de hardware de IA.
PARAR A CHINA
Em um novo artigo, publicado algumas semanas depois em seu site pessoal, Amodei argumentou que o rápido progresso feito por empresas chinesas de IA como a DeepSeek torna “as políticas de controle de exportação ainda mais existencialmente importantes”. A China deve ser impedida de obter “milhões de chips”, escreveu Amodei, porque, “se eles puderem [obter chips], viveremos em um mundo bipolar, onde os EUA e a China têm poderosos modelos de IA que causarão avanços extremamente rápidos na ciência e tecnologia”.
Os dois articulistas deixam claro o objetivo de manter o poder hegemônico dos EUA no mundo. “Se a China não conseguir milhões de chips, viveremos (pelo menos temporariamente) em um mundo unipolar, onde apenas os EUA e seus aliados têm esses modelos”, defendeu Amodei. “Assim, neste mundo, os EUA e seus aliados podem assumir uma liderança dominante e duradoura no cenário global”, acrescentou. O CEO de da Anthropic ainda recomendo: “Controles de exportação bem aplicados são a única coisa que pode impedir a China de obter milhões de chips e, portanto, são o determinante mais importante para acabar em um mundo unipolar ou bipolar”.
SÉRGIO CRUZ