CARLOS LOPES
A Parada de Sete de Setembro sempre foi, para os mais velhos e para os mais novos (isto é, para as crianças e seus pais ou avós), um acontecimento para guardar na memória.
Não é apenas a data – a comemoração do momento em que o país tornou-se uma Nação.
O desfile das tropas, em si, era algo para acrescentar mais uma dose de orgulho ao fato de ser brasileiro (lembro-me que os Dragões da Independência eram sempre os mais esperados pelas crianças; os adultos – meu pai, por exemplo – em geral preferiam a Banda Marcial dos Fuzileiros Navais).
Pois bem (aliás, mal). Foi esse espetáculo cívico (para usar uma expressão do poeta e combatente patriótico J.G. de Araújo Jorge) que Bolsonaro tentou transformar em uma palhaçada – a começar pelo ridículo do notório Carluxo encarapitado, outra vez, no Rolls Royce presidencial.
É óbvio que ele fez isso para humilhar os militares. Com exceção do Rasputin da Virgínia, ninguém tem atacado mais os generais que esse rebento de Bolsonaro.
Afinal, quem é esse indivíduo para vir no carro presidencial? Uma coisa só: é filho de Bolsonaro. Logo, a mensagem é que a família Bolsonaro – e só a família Bolsonaro – está acima da Pátria, incluindo todas as suas instituições.
Dois dias depois, Carluxo Bolsonaro escreveu no Twitter: “por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos… e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!” (v. HP 10/09/2019, “Ato de Carlos Bolsonaro tem o meu desprezo”, diz presidente do Senado).
“Transformação que o Brasil quer” é aquela pretendida pela família Bolsonaro: todo o país submetido à sua ignorância, obscurantismo, corrupção – e servilismo ao que existe de pior nos EUA.
Não há dúvida, portanto, quanto ao objetivo de Bolsonaro, alojando esse elemento no segundo lugar de destaque da Parada de Sete de Setembro – inclusive, acima da primeira-dama. Carluxo é apenas uma extensão dele próprio, assim como os outros filhos.
Aliás, Bolsonaro apoiou, explicitamente, o ataque de Carluxo à democracia (“É uma opinião dele e ele tem razão. (…) Coisa óbvia”), embora de uma forma covarde (“Demora porque tem a discussão, isso é natural”), depois que o repúdio incluiu os presidentes do Senado e da Câmara e até o general Santos Cruz (v. HP 12/09/2019, General Santos Cruz: “bravatas contra a democracia precisam ser repudiadas pela sociedade”).
O ESQUEMA
Além disso, Bolsonaro apareceu, no palanque da Parada de Sete de Setembro, cercado pelos senhores Edir Macedo e Sílvio Santos, como se fosse lícito a um presidente da República não apenas armar, como esfregar na cara do distinto público (isto é, do povo), sua intenção de privilegiar determinados órgãos de mídia – ou, o que é ainda pior, de ser privilegiado por eles.
O governo Bolsonaro é, por todas as razões, um governo lúmpen. Um governo de desqualificados, a começar por seu chefe, há muito tempo um representante político das milícias urbanas e rurais – inclusive da pior parte dessas milícias, da parte mais sanguinária.
Ou é apenas coincidência que o assassino de Marielle Franco, membro do Escritório do Crime, morasse quase em frente a Bolsonaro, no mesmo condomínio?
Ou é coincidência que a mulher e a mãe do próprio chefe do Escritório do Crime, Adriano Magalhães da Nóbrega, fossem lotadas, como funcionárias em comissão, no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro?
Ou, mais uma vez, é coincidência que o chefe do Escritório do Crime tenha recebido duas homenagens da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) por proposta de Flávio Bolsonaro, a segunda das quais, a mais alta condecoração do Rio, a Medalha Tiradentes?
É, portanto, um governo lúmpen, que tenta submeter generais – e o país todo – a um grupelho de marginais.
Se existe algo nesse governo diferente disso (e ainda deve existir), é inteiramente secundário e sem importância – e não deve durar muito.
POSSESSOS
Não é, também, diferente quanto ao suposto esquema de “comunicação” bolsonarista, algo que, se não fosse a sociedade, daria em uma caricatura do esquema de Goebbels, na Alemanha dos anos 30 do século passado.
Vejamos um de seus expoentes, presente na Parada de Sete de Setembro – e cortejado assiduamente por Bolsonaro.
Peguemos um aspecto – daqueles que conseguem iluminar o conjunto.
As recentes declarações do sr. Edir Macedo, dono da TV Record e chefe da Igreja Universal do Reino de Deus, sobre a depressão, remetem, inevitavelmente, às sucessivas denúncias do Ministério Público contra ele, em que já foi acusado de “cometer crimes de charlatanismo, curandeirismo e estelionato” (cf. Ricardo Mariano, Expansão pentecostal no Brasil: o caso da Igreja Universal, Estudos Avançados 18 (52), 2004, p. 126).
É verdade que essas declarações, pelas quais a depressão é causada pela possessão demoníaca, não são uma novidade. Pelo contrário, têm sido reiteradas nos últimos anos (v., p. ex., Presbítero assembleiano comete suicídio e Edir Macedo diz que ato é sinal de possessão).
Ou, muitos anos antes desse último acontecimento:
“Ao ‘descansarem’ nos corpos das pessoas, os espíritos demoníacos os contaminam, fazendo com que o sofrimento físico tome conta delas. Existem algumas doenças que caracterizam a possessão. Durante os anos do meu ministério, tenho notado que os sintomas são sempre os mesmos. Segue uma lista de dez sinais de possessão: nervosismo, dores de cabeça constantes, insônia, medo, desmaios ou ataques, desejo de suicídio, doenças que os médicos não descobrem as causas, visões de vultos ou audição de vozes, vícios, depressão” (cf. Edir Macedo, Orixás, Caboclos e Guias. Deuses ou Demônios?, Unipro, 1997).
O sr. Macedo escolheu os sintomas que mais aparecem em qualquer ambulatório de psiquiatria que atende à população mais pobre – inclusive o conhecido “vejo vultos”, tão comum que já houve quem o incluísse (e era gente séria) em uma suposta “neurose brasileira”.
Assim, retirar demônios do corpo das pessoas torna-se uma atividade muito rentável – e explorando as pessoas mais pobres. Como aponta um autor:
“Dados do último Censo revelam que a maioria dos pentecostais apresenta renda e escolaridade inferiores à média da população brasileira. (…) Quanto à cor dos fiéis, [os pentecostais] sobressaem pela presença de pretos e pardos superior à média da população” (cf. Ricardo Mariano, op. cit., p. 122).
Mas, voltemos à depressão.
As várias formas de depressão estão, há muito, catalogadas na Classificação Internacional de Doenças (CID), atualmente em sua décima edição (CID10).
É um problema científico – e, frequentemente, social. Mas uma coisa é certa: desde a Idade Média, ninguém sério acreditou que um deprimido esteja tomado pelo Demônio.
O sr. Edir Macedo também não acredita. Podemos ter tal ou qual opinião sobre ele, mas não a de que é um tolo.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), atualmente, há 322 milhões de pessoas no mundo (12 milhões no Brasil), que são ou estão deprimidas.
Chamá-las de possuídos, ou possessos, pelo Diabo, em que ajudará a elas?
Em nada.
Mas pode ajudar muito a aumentar a fortuna do sr. Macedo. Somente a sua fortuna pessoal (aquilo que está diretamente em seu nome ou de membros da sua família) , segundo a revista Forbes, já estava, em 2015, em US$ 1,1 bilhão (v. Edir Macedo & family).
Aliás, há muito, as possessões estão ajudando o sr. Edir Macedo. Em outro de seus livros, ele conta como, no início de sua carreira, “curou” uma senhora deprimida:
“De repente, subi na cama e deitei sobre Dona Maria. O demônio não resistiu e se manifestou de um jeito que nunca tinha visto. Fiz um árduo trabalho de libertação, eram espíritos de atuação pesada” (cf. Edir Macedo, Nada a Perder, Planeta, 2012, p. 203).
Sejamos claros: por que mazelas tão frequentes na população são declaradas, por Macedo, “possessão demoníaca”?
Porque seu objetivo é ganhar dinheiro, supostamente arrancando o capeta de dentro dos incautos – e dos incautos mais pobres, mais desesperados, mais desvalidos.
Todas as denúncias do Ministério Público contra Edir Macedo, aliás, têm esse fundo, essa base comum.
Por exemplo, em setembro de 2011, o procurador da República Sílvio Luís Martins de Oliveira frisou, em sua denúncia, o “oferecimento de falsas promessas e ameaças de que o socorro espiritual e econômico somente alcançaria aqueles que se sacrificassem economicamente pela Igreja”.
E, depois de descrever um esquema criminoso de desvio e lavagem de dinheiro:
“Assim foi que valores doados por fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, em sua maioria pessoas humildes e de escassos recursos financeiros, sofreram uma espúria engenharia financeira para, ao final, se converterem em participações societárias de integrantes da Iurd em empresas de radiodifusão e telecomunicações, certamente um destino totalmente ignorado pelos crentes e pela Receita Federal, bem como absolutamente incompatível com os objetivos de uma entidade que se apresenta como religiosa perante a Sociedade e o Estado.”
[Para uma descrição dos crimes, v. a nota do Ministério Público Federal em São Paulo: MPF/SP denuncia Edir Macedo e mais três por lavagem dinheiro e evasão de divisas.]
IMUNIDADE FISCAL
Em uma denúncia anterior (2009), há um pequeno, e, certamente, desatualizado cálculo da espoliação sobre os incautos:
“Com base numa investigação de dois anos, o MP afirma que Macedo e seu grupo converteram-se em uma organização criminosa ao usar as doações de fiéis para engordar seu próprio patrimônio – no caso do bispo, nada desprezível. Além de dono de 90% da TV Record, Macedo e a mulher, Ester Eunice Rangel Bezerra (ela, dona dos outros 10% da emissora, segundo aparece no contrato de concessão) têm uma coleção de imóveis que incluem dois apartamentos em condomínios de luxo em Miami, nos Estados Unidos: o primeiro, em nome de Ester, foi comprado em 2006 e está avaliado em 2,1 milhões de dólares. O segundo, registrado em nome do casal, foi adquirido no ano passado e custou mais do que o dobro do primeiro: 4,7 milhões de dólares. Ambas ficam na Collins Avenue, um dos endereços mais sofisticados da cidade.
“Segundo a denúncia do MP, além de enganar os fiéis embolsando o dinheiro que deveria ter destinação religiosa, a Universal burla o Fisco ao aproveitar-se de sua imunidade tributária e fazer transações comerciais. A imunidade fiscal assegurada pela Constituição às igrejas baseia-se no princípio de que seu patrimônio, renda e serviços visam à atividade religiosa, e não ao lucro. Quando o dinheiro dos fiéis é usado para comprar empresas e jatinhos – caso dos pastores da Universal, segundo o MP -, a Justiça tem de ser acionada.
“Em 1997, uma auditoria da Receita Federal sobre as contas da Universal produziu um relatório defendendo que ela perdesse a imunidade fiscal, uma vez que a igreja vinha fazendo uso do benefício para ganhar dinheiro. Com base no documento, tramita na Justiça Federal desde 1997 um processo em que o Ministério Público Federal tenta cancelar a concessão da Rede Record ao bispo Macedo. O MP diz que, embora o contrato esteja em nome de pessoas físicas (dele e de sua mulher), a TV teria sido comprada com dinheiro de pessoa jurídica, a Igreja Universal, o que é vedado por lei.
“Entre 2001 e 2008, a Universal, segundo os promotores, amealhou 8 bilhões de reais de seus cerca de 8 milhões de seguidores. Metade dessa dinheirama foi parar em contas bancárias da igreja por meio de 4.015 depósitos em espécie – direto das sacolinhas dos dízimos. A outra metade chegou, principalmente, por meio de transferências eletrônicas provenientes de filiais da igreja espalhadas pelo país. A partir daí, o esquema funcionava da seguinte maneira, de acordo com a acusação: a maior parte do dinheiro era repassada, a título de ‘pagamentos’, para empresas de fachada controladas por integrantes do grupo, a Cremo Empreendimentos e a Unimetro Empreendimentos.
“Ambas movimentaram, entre 2004 e 2005, mais de 70 milhões de reais, ainda que não tenham oferecido no período qualquer serviço ou produto, segundo atesta a Secretaria de Fazenda de São Paulo. Da Cremo e da Unimetro, o dinheiro dos fiéis era enviado para empresas sediadas em paraísos fiscais: a Investholding, nas Ilhas Cayman, e a Cableinvest, nas Ilhas do Canal. De lá, retornavam ao Brasil disfarçado de empréstimos para pessoas ligadas à Universal, que usavam os valores para transações nada religiosas. Apesar do emaranhado trajeto percorrido pelo dinheiro, ele, na verdade, nunca saiu das mãos da cúpula da Universal.
“O Gaeco sustenta que foi esse o esquema usado pela igreja para comprar, por exemplo, a TV Record do Rio de Janeiro (em 1992, por 20 milhões de dólares) e a TV Itajaí, de Santa Catarina. Ao todo, o império de comunicação da Universal reúne 23 emissoras de TV, 42 emissoras de rádio e outras 12 empresas. O do bispo prospera na mesma medida. Em 2007, ele se esmerava na construção de uma casa de 2.000 metros quadrados em Campos do Jordão (SP), no valor de 6 milhões de reais. Naquele tempo, já era proprietário de outra casa na mesma cidade, comprada nove anos antes por 600.000 dólares. Some-se a isso os imóveis de Miami e não restará dúvida de que Macedo é um abençoado. Resta saber se à luz da lei tanta prosperidade também poderá ser comemorada” (v. MP acusa Universal de lucrar com fiéis, Veja 14/08/2009).
DOIS SENHORES
A última frase da matéria acima é uma referência à chamada “teologia da prosperidade”.
O que é isso?
É a suposta ideia, nas palavras do sr. Edir Macedo, de que “o dinheiro é uma ferramenta sagrada usada na obra de Deus”.
Macedo, bem entendido, não está dizendo que o dinheiro é, ou pode ser, uma ferramenta para a obra sagrada de Deus, ao modo de alguns protestantes da época da Revolução Americana.
Não é a obra de Deus que, nessa frase de Macedo, é sagrada, mas o dinheiro. Literalmente, é este último, segundo Macedo, que é “uma ferramenta sagrada”.
Mas, então, o que é a “obra de Deus” que merece tal ferramenta sagrada?
Ora, evidentemente, os negócios do sr. Macedo, que não nos atrevemos a chamar de religiosos – enganar incautos com uma capa religiosa não é religião.
Nesse sentido, o pastor Caio Fábio de Araújo Filho tinha razão em dizer que a Universal “é uma máquina de arrancar dinheiro dos fiéis” (cf. Maria Lúcia Montes, As figuras do sagrado: entre o público e o privado, in História da Vida Privada no Brasil vol. 4, Companhia das Letras, 1998, p. 68).
Nada mais longe dessa descrição do que uma religião ou instituição religiosa.
Nada disso foi criado, aliás, por Edir Macedo. A “teologia da prosperidade” é uma criação norte-americana, transplantada para o Brasil na “terceira onda” do movimento evangélico, aliás, “pentecostal”.
Como escreveu um respeitado pastor e teólogo:
“… a primeira onda do movimento pentecostal enfatizou a glossolalia; a segunda onda enfatizou a cura divina; a terceira onda passou a enfatizar o dinheiro, que se tornou a mola propulsora do neopentecostalismo” (cf. Paulo Romeiro, “Decepcionados com a Graça: esperanças e frustrações no Brasil neopentecostal”, São Paulo, Mundo Cristão, 2005, p. 89, cit. in Ètianë Caloy Bovkalóvski de Souza, “A imagem do Diabo nos livros de Edir Macedo da Igreja Universal do Reino de Deus”, UFPR, 2000).
Interessante concepção, pois a compulsão pelo dinheiro sempre foi considerada, pelo cristianismo, como pertencente ao reino do Diabo.
Como escreveu o apóstolo Paulo:
“Aqueles que ambicionam tornar-se ricos caem nas armadilhas do demônio e em muitos desejos insensatos e nocivos, que precipitam os homens no abismo da ruína e da perdição. Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro” (Primeira Epístola a Timóteo, 6, 9-10).
Ou o próprio Jesus Cristo:
“E, pondo-se a caminho, correu para ele um homem, o qual se ajoelhou diante dele, e lhe perguntou: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
“E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus. Tu sabes os mandamentos: não cometerás adultério; não matarás; não furtarás; não dirás falsos testemunhos; não enganarás alguém; honra a teu pai e a tua mãe.
“Ele, porém, respondendo, lhe disse: Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade.
“E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me.
“Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste: porque possuía muitas propriedades.
“Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!
“E os discípulos se admiraram destas suas palavras; mas Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus (Evangelho Segundo Marcos, 10,17-25).
Ou, também Jesus Cristo, no sexto capítulo do Evangelho de Mateus:
“Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam.
“Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro.
“Não podeis servir a Deus e à riqueza.”
O FIM DA TEOLOGIA
Pois o sr. Edir Macedo, expressão mais acabada, no Brasil, do que o pastor Paulo Romeiro chamou de terceira onda neopentecostal, inventou – é verdade que copiando alguns norte-americanos, que secretaram essa “teologia” desde os anos 40 do século passado – uma suposta religião que é baseada no dinheiro – isto é, no afã de enriquecer de alguns indivíduos que se aproveitam da boa fé (e, sobretudo, do desespero) do próximo, embora se apresente como a chave para o enriquecimento de todo aquele que faz “ofertas” e paga o “dízimo”.
Tudo é uma questão de dinheiro, inclusive a relação com Deus. Nas palavras do próprio Edir Macedo:
“Comece hoje, agora mesmo, a cobrar d’Ele [de Deus] tudo aquilo que Ele tem prometido (…) O ditado popular de que ‘promessa é dívida’ se aplica também para Deus. Tudo aquilo que Ele promete na sua palavra é uma dívida que tem para com você (…) Dar dízimos é candidatar-se a receber bênçãos sem medida, de acordo com o que diz a Bíblia (…) Quando pagamos o dízimo a Deus, Ele fica na obrigação (porque prometeu) de cumprir a Sua Palavra, repreendendo os espíritos devoradores (…) Quem é que tem o direito de provar a Deus, de cobrar d’Ele aquilo que prometeu? O dizimista! (…) Conhecemos muitos homens famosos que provaram a Deus no respeito ao dízimo e se transformaram em grandes milionários, como o sr. Colgate, o sr. Ford e o sr. Caterpilar” (cf. Edir Macedo, Vida com Abundância, Rio, 1990, cit. in Ètianë Caloy Bovkalóvski de Souza, “A imagem do Diabo nos livros de Edir Macedo da Igreja Universal do Reino de Deus”, UFPR, 2000).
Quem será o “sr. Caterpilar”? Pelo jeito, Macedo ignorava que “caterpillar” (lagarta) deu nome à conhecida multinacional porque ela fabricava (e fabrica) tratores sobre lagartas, isto é, esteiras…
Porém, Macedo também tem um exemplo brasileiro:
“Deus quer que nós sejamos cabeça, não rabo. (…) Não precisa nem crer em Deus para ser um cabeça. Nós estávamos conversando ainda outro dia com o Paulo Maluf e ele me falou: ‘Bispo Macedo, meu pai chegou aqui neste país com o dinheiro para comer apenas um sanduíche pela manhã e um sanduíche à tarde. Hoje nós temos uma das grandes fábricas deste país, nós somos ricos, abençoados e tal” (idem).
Macedo, aliás, também enunciou o princípio teológico de que basta um corrupto se arrepender para ser perdoado por Deus. Já no século XVII, o padre Antonio Vieira, no Sermão do Bom Ladrão, descobrira que o corrupto, para ter esse perdão, teria que, pelo menos, devolver o que roubara.
Porém, se a relação com Deus for uma relação de suborno, essa exigência deixa de existir.
Nesse momento, qualquer teologia passa a atrapalhar a “teologia da prosperidade” do sr. Macedo. Daí a dissolução, por Macedo, da sua própria faculdade de teologia:
“A [IURD] manteve por alguns anos a Faculdade Teológica Universal do Reino de Deus (Faturd), que funcionava no Rio de Janeiro e oferecia cursos básico (com três anos de duração) e de bacharelado em teologia (quatro anos). Mas ela foi extinta quando Macedo se deu conta de que, para atingir seus ambiciosos objetivos expansionistas, a formação teológica, além de inútil, provavelmente dissiparia o tempo dos pastores, diminuiria seu fervor e os distanciaria dos interesses concretos e das necessidades imediatas dos fiéis. Ele não apenas extinguiu a faculdade teológica como, para demonstrar sua aversão à erudição teológica, publicou A libertação da teologia, livro em que critica o ‘cristianismo de muita teoria e pouca prática; muita teologia, pouco poder; muitos argumentos, pouca manifestação; muitas palavras, pouca fé’. Perspectiva compartilhada por seu cunhado [Romildo] Soares, para o qual ‘os melhores pastores não saem dos seminários’. ‘Pastor’, a seu ver, ‘é que nem jogador de futebol. Eles não saem das escolinhas; eles surgem, aparecem. Depois, só precisam ser lapidados’. Para Macedo e Soares, o bom pastor é aquele que propicia os melhores resultados numéricos e financeiros à igreja” (cf. Ricardo Mariano, op. cit., pp. 127-128).
A “teologia da prosperidade”, portanto, redunda no fim de qualquer teologia, na medida em que a atividade religiosa é substituída pela atividade de depenar incautos e desesperados.
TÉCNICAS
Edir Macedo, apesar da pretensão de subornar Deus (v. acima), até agora, pelo que sabemos, não conseguiu.
Quanto a espoliar incautos, ele até mesmo desenvolveu técnicas para maior eficiência:
“Um vídeo (…) mostra o bispo Macedo – de camiseta cavada e calção azul – no centro de um campo de futebol, em um hotel de Salvador (BA), ao lado de bispos e pastores. Macedo dá uma verdadeira aula de marketing econômico/religioso.
“Não pode ser mole, não pode ter vergonha nem ser humilde assim… Tem que chegar, se impor e dizer: Ô, pessoal, você vai ajudar agora na obra de Deus e se você quiser ajudar, amém. Se você não quiser, Deus vai mandar outra pessoa para ajudar, amém. Se não quiser, que se dane!… ou dá ou desce!”
“Falando alto e firme, gesticulando muito, Macedo tenta convencer os pregadores da necessidade de mostrar firmeza aos fiéis.
“Se você mostrar aquela maneira chocha, o povo não vai confiar, não vai dar nada para você.” (…)
“O bispo Macedo então passa a relatar técnicas de convencimento que vem desenvolvendo com sucesso nos Estados Unidos. Ele mostra como o ato de jogar a Bíblia no chão impressiona a audiência.
“– Eu fiz isso, eu peguei a Bíblia e disse: ou Deus honra esta palavra ou joga ela fora. (…) Isso chama a atenção. Esse aí, esse aí (imita a voz de um fiel impressionado com a performance) briga até com Deus!
“Na sequência, o líder da Universal explica como agir com os descrentes:
“– Tem gente que diz: Eu estou cansado de ler a Bíblia e não vejo nada acontecer na minha vida. Aí, esse fica do nosso lado. Então, ele vai lá e pá, põe tudo (imita gesto de jogar dinheiro). Quem embarcar nessa vai ser abençoado, quem não embarcar, não vai. Quem quiser dar, dá. Quem não quiser, não dá. Mas tem um montão que vai dar. O povo quer ver o pastor brigando com o demônio.
“O vídeo termina com Macedo dando sua versão sobre o segredo do sucesso da Universal.
“– O padre é humilde e ninguém dá nada por ele. Fica com aquela maneira assim (encolhe os ombros, cruzando os braços) e nós vamos lá e bota (sic) pra quebrar, vira cambalhota, é isso aí! Nós não podemos ter medo. Vamos perguntar nos cultos quem quer ter o cajado de Moisés para vencer na vida e até tirar água da rocha, como ele tirou no mar Vermelho. Então você tem, é a sua fé!” (cit. in Leandro Ferraz Pereira, Teologia da Prosperidade: a Igreja Universal do Reino de Deus e seus discursos na Folha Universal (2007-2009), UFU, Uberlândia, 2009).
Apesar de seu repúdio à teologia, Macedo é autor de uma importante inovação na exegese dos Evangelhos – segundo ele, Jesus tinha por parâmetro, veja só o leitor, o mercado:
“A oferta é estimulada pela crença na recompensa multiplicada. O Senhor Jesus nos ensina isso quando diz: “Dai, e dar-se-vos-á” (Lucas 6.38). Como seria o retorno econômico? Dez vezes maior? Vinte? Trinta? Quanto? O Senhor não estipula números; Ele apenas menciona um resultado crescente: “(…) dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão” (Lucas 6.38). Quando Ele profetizou tais palavras, Seus olhos estavam voltados para o mercado” (cit. in Leandro Ferraz Pereira, op. cit., grifo nosso).
Não se sabe, então, por que Jesus Cristo não aderiu aos vendilhões do templo, ao invés de descer a chibata neles, tal como o fez (nas palavras do apóstolo João: “[Jesus] expulsou a todos do templo, as ovelhas bem como os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai uma casa de negócio“).
O autor do trabalho acima resume assim a “teologia” de Macedo:
“A relação que o fiel estabelece com Deus se concretiza por meios financeiros, este só cumpre a promessa da felicidade se houver uma troca monetária. Caso contrário, este mesmo Deus provedor de benesses torna-se cruel, deixando o fiel entregue a sanha do demônio.”
Trata-se de uma síntese apropriada.
DEUS E O DIABO
O sr. Macedo teve alguns problemas após o episódio em que, na TV, um de seus principais subordinados na época, Sérgio Von Helder, chutou várias vezes a imagem de Nossa Senhora Aparecida, no dia 12 de outubro de 1995, dia em que os católicos comemoravam essa santa, aliás, padroeira do Brasil.
O autor dos chutes foi contemplado por Macedo com uma transferência para os EUA – onde o próprio Macedo reside.
Mas é algo marcante – tanto assim que é lembrado hoje, apesar de ter acontecido há 23, quase 24 anos.
De lá para cá, Macedo se caracterizou por uma – nada comum no Brasil – intolerância religiosa, em geral dirigida contra religiões afro-brasileiras, e por processos em que foi denunciado por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e evasão de divisas.
Mas tem conseguido escapar dessas acusações.
Entretanto, a questão, aqui, não é essa, mas o tipo de gente que Bolsonaro ainda reúne em torno de si.
Um chefe da NAÇÃO e pior um Comandante das FORÇAS ARMADAS segundo a CF de 1988 nessa posição ajoelhado foi de uma estupidez terrível. Eu imagino o sentimento dos generais vendo essa cena diabólica. Eu acho que o diabo está nesses três da cena. Esse Bozo tá envergonhando o país diante dos seus eleitores e fazendo pactos para salvar filho.
Ao benzer o boçal presidente,”Edir Macedo e sua trupe cobrarão um preço caro”, não pelo não efeito da benzedura, mas por fazer o boçal acreditar nessas mentiras, afinal por ser boçal “não se pode exigir muito de alguém assim”, pois a descrição no dicionário cabe perfeita a esse entreguista.
Prefiro ver o filme A Freira ou Invocação do Mal, do que ver esse trio da hipocrisia, da farsa e do horror!!!
Jesus Cristo era um pregador que amava os pobres e pregava o bem e a bondade.
Jesus pregava o amor ao próximo, e condenava os ricos e os fariseus.
Jesus queria uma sociedade mais fraterna.
Devemos seguir o exemplo de humildade de Jesus Cristo.
Politicos brasileiros dizem acreditar em Deus para conseguir votos, infelizmente.
Eita inveja……kkkkk
Desqualificados são todos os eleitores de lula, que não tem nem o Ensino Médio….claro, puxaram ao pai dos pobres……….
A senhorita está dizendo que o Brasil não tem nem o ensino médio? Pois foi o Brasil, bem ou mal, que elegeu Lula. Não foi? Ou será que a senhorita é a favor de cassar o voto de quem não tem o ensino médio?