Diante de risco de “falha catastrófica” a Petrobrás recusou a orientação do Operador Nacional do Sistema (ONS) e da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) de manter a usina térmica de Três Lagoas (MS) em funcionamento no começo de setembro.
Documentos trocados entre a estatal e os demais órgãos do setor elétrico mostram que a Petrobrás comunicou com antecedência que paralisaria a operação da usina entre os dias 3 e 5 de setembro para manutenções estruturais. Em plena crise energética e sem chuvas para abastecer as usinas hidrelétricas, a ONS teria forçado a mão para que Três Lagoas (planta que tem capacidade de geração de 386 megawatts) continuasse em funcionamento, ainda que o risco de iminente falha tenha sido comunicado pela estatal.
No documento em que pressiona pela manutenção da operação, o ONS alegou que “em função do cenário energético, com cargas elevadas e alto despacho térmico” tinha que manter a “máxima disponibilidade das unidades geradoras”. As informações foram divulgadas pelo jornal O Estado de São Paulo, que teve acesso aos documentos.
Diante da rejeição pela ONS do pedido de manutenção da parada da usina, a Petrobrás afirmou que “diante das recomendações do fabricante (dos equipamentos da usina) e da equipe de engenharia e, ainda, frente ao risco de falha catastrófica desta turbina, a Petrobras necessitou prosseguir com a parada emergencial”.
O ONS determina diariamente o que será gerado em cada usina em operação no Brasil. Com a falta de investimentos no setor elétrico e de planejamento para enfrentamento da seca já prevista para este ano, o acionamento emergencial das térmicas – geração a gás, carvão, diesel e biomassa – tem sobrecarregado o sistema e impactado diretamente nas contas de luz, que estão com tarifa especial de racionamento de energia desde junho. Ainda assim, a capacidade de geração não é garantida até o fim do ano, fazendo com que o risco de um apagão esteja cada vez mais próximo.
Em nota ao jornal, o Operador afirmou que “como uma das ações para o enfrentamento da escassez hídrica solicitou, em julho deste ano, a todas as usinas geradoras que adiassem suas manutenções a fim de aumentar a capacidade de geração”, ignorando o risco de falhas que podem ser catastróficas.
“É uma situação delicada e de risco. O governo está forçando as estruturas, adiando datas ou encurtando paradas, justamente por causa da crise hídrica. Essa situação com a Petrobrás é um reflexo dessa crise. A ordem é empurrar com a barriga até onde for possível para preservar água nos reservatórios”, alertou o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde de Castro. Segundo ele, muitas térmicas não foram concebidas para operarem todo o tempo.