O Conselho de Segurança da ONU, por solicitação da Rússia, discute nesta terça-feira (20) o ataque de Israel à seção consular da embaixada do Irã na capital síria, que matou 13 pessoas com seis mísseis, inclusive dois altos escalões do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica iraniana. O embaixador de Teerã na Síria, Hossein Akbari, cuja residência fica na seção atingida, sobreviveu.
“Esta agressão violou todas as normas diplomáticas e tratados internacionais”, denunciou o ministro iraniano das Relações Exteriores, Hossein Amir-Abdollahian, classificando-a como “terrorista e criminosa”.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, condenou o ataque israelense à embaixada iraniana em Damasco.
“O secretário-geral reafirma que o princípio da inviolabilidade das instalações e do pessoal diplomático e consular deve ser respeitado em todos os casos, de acordo com o direito internacional”, disse o porta-voz das Nações Unidas, Stephane Dujarric. Guterres exortou ainda a que se evite “uma nova escalada”.
Também a China repudiou o bombardeio da embaixada iraniana na Síria. “A segurança das instituições diplomáticas é inviolável, e a soberania, independência e integridade territorial da Síria devem ser respeitadas”, disse o porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin, em uma coletiva de imprensa regular.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia condenou veementemente o ataque à instalação diplomática iraniana na Síria e disse que “ações israelenses tão agressivas são absolutamente inaceitáveis e devem ser interrompidas”.
O criminoso ataque também foi rechaçado pelo ministro das Relações Exteriores da Síria, Faisal Mekdad, que acrescentou que “a entidade de ocupação israelense não será capaz de afetar os laços entre o Irã e a Síria”.
O secretário-geral da Organização de Cooperação Islâmica (OIC), Hussein Brahim Taha, por sua vez, condenou veementemente o “novo crime israelense” contra as missões diplomáticas, expressando solidariedade ao governo e ao povo iranianos.
Ele estendeu condolências e solidariedade às famílias dos mortos no ataque “criminoso” e destacou a responsabilidade da OIC, que reúne os 53 países de maioria islâmica, em relação ao assunto.
O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, condenou “esse ataque desumano, que é uma clara violação dos regulamentos internacionais”. “Depois de repetidas derrotas e fracassos, o regime sionista colocou assassinatos cegos em sua agenda, mas deve saber que nunca alcançará seus objetivos sinistros com medidas tão desumanas, e esse crime covarde não ficará sem resposta”, disse Raisi em um comunicado publicado no site presidencial.
O presidente iraniano Raisi homenageou os generais da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), Mohammad Reza Zahedi e Mohammad Hadi Haji-Rahimi, mortos no ataque, que estavam em Damasco como conselheiros militares seniores e agora – como destacou – “orgulhosamente se juntaram à caravana de mártires”. Raisi também ofereceu condolências às famílias dos mortos no ataque.
Manifestantes, portando bandeiras iranianas e palestinas e fotos do mártir iraniano Suleimani, repudiaram o ataque em Teerã, homenagearam os mortos e queimaram estandartes norte-americanos e de Israel.
Desde dezembro, Israel vinha realizando provocações contra o Irã, com ataques direcionados a conselheiros iranianos na Síria e no Iraque. Na semana passada, havia realizado um bombardeio a Aleppo, a segunda maior cidade síria, em que foram mortas 36 pessoas.
No entanto, o ataque de ontem foi a primeira vez que Israel atacou diretamente o território iraniano – já que consulados e embaixadas em um país estrangeiro são assim designados por convenção internacional.
O ataque com mísseis ocorreu por volta das 17h00 locais de segunda-feira, quando Israel lançou uma agressão aérea desde as Colinas de Golã sírias ocupadas, de acordo com o Ministério da Defesa sírio. A seção consular da embaixada foi arrasada pelo ataque.
Além dos generais Zahedi e Haji-Rahimi, outros cinco oficiais da IRGC foram assassinados no local. Entre os feridos há dois policiais sírios que guardavam a embaixada.
Questionada se Washington havia sido informada do plano de Israel de atacar o consulado, a secretária de imprensa do Pentágono, Sabrina Singh, se recusou a comentar.
Para observadores, o ataque, que é um ato de guerra flagrante, pode ter sido discutido na viagem, na semana passada, do ministro do genocídio em Gaza – segundo eles, da “Defesa” – Yoav Gallant a Washington, onde se reuniu com o chefe do Pentágono, Lloyd Austin.
O governo Biden também autorizou na semana passada novo e substancial reforço para Israel – 1800 bombas de 1 tonelada capazes de arrasar quarteirões inteiros e 25 caças bombardeiro F-35 – quando Netanyahu ameaça arrasar Rafah, onde estão encurralados 1,5 milhão de palestinos.
Como parte do jogo de pressões, no período Israel também “exigiu” o fim da agência da ONU para os palestinos, a UNRWA, e Netanyahu obteve, do parlamento, autoridade para banir a Al Jazeera, para que não haja testemunhas do massacre que ele programa para Rafah.
Há ainda o componente interno, a visível desagregação do regime Netanyahu/Gvir. Analistas apontaram que o ataque ocorreu no dia seguinte à grande manifestação na capital israelense, Tel Aviv, que exigiu a renúncia do primeiro-ministro Netanyahu, a imediata convocação de eleições e a volta dos reféns, para tirar Israel do beco sem saída em que foi enfiado pela coalizão entre corruptos, ladrões de terra alheia e fascistas empedernidos. “Este governo é indecente, se baseia no incitamento, na pilhagem e coloca os interesses pessoais do premiê acima dos do país inteiro”, resumiu um orador. “Exigimos uma negociação e um acordo já, mas não haverá nenhum enquanto este governo permanecer”, sublinhou um parente de um refém em Gaza.
O dimensão das manifestações deste final de semana em Jerusalém, Tel Aviv e Jerusalém (diante do Knesset, parlamento israelense) marcam a ampla retomada do que houve durante quase um ano, antes do 7 de outubro, quando havia manifestações quase diárias em Israel pelo “fora Netanyahu”.
O octogenário ex-primeiro-ministro Ehud Barak, negociador dos Acordos de Oslo, havia advertido em novembro que Netanyahu está interessado em estender a guerra, para se manter no poder e evitar ir preso. Uma percepção que já surge também nas manifestações, como a da faixa “Bibi [Netanyahu], você está matando Israel”, que explicita ou implicitamente se refere a que, aos olhos do mundo, Israel passa a ser visto como um Estado pária, situação para a qual dá novo passo ao bombardear uma embaixada e matar integrantes dela. Ao que parece, sua convocação de fevereiro, para acampar em frente ao parlamento até derrubar Netanyahu, cada vez tem uma ressonância maior.