O Escritório de Direitos Humanos da ONU (OHCHR, sigla em inglês) condenou, nesta quarta-feira a execução por decapitação de 37 oposicionistas na Arábia Saudita.
Trinta e três dos 37 executados pertencem à minoria xiita, que corresponde a de 10 a 15% da população saudita.
A porta-voz do OHCHR, Ravina Shamdasani, declarou que comissários do órgão denunciam a falta de um processo justo uma vez que os condenados afirmaram que as confissões foram obtidas sob tortura e que não houve acesso a advogados de defesa durante toda a sua instrução.
A rede CNN teve acesso aos documentos do denominado Processo Awamiya (nome devido a que 14 dos condenados foram acusados da formação de uma ‘célula terrorista’ na cidade de Awamiya).
Segundo a rede, 34 dos 37 acusados repetidamente negaram aos juízes, que julgavam o caso, a veracidade de suas confissões.
Em alguns dos casos os acusados disseram que somente apuseram a digital do polegar em uma confissão que não foi redigida por eles e sim pelos próprios torturadores.
“Estas não são minhas palavras”, disse, perante o tribunal, Munir al-Adam, um dos acusados. “Eu não escrevi esta carta. Isso é uma difamação escrita pelo interrogador, de próprio punho”.
Outro dos conduzidos a julgamento, Hussein Mohammed al-Musallam, disse à corte que sofreu múltiplos ferimentos incluindo um nariz, uma clavícula e uma perna quebrados.
“Nada nestas confissões está correto, fui forçado a elas”, declarou Musallam.
Sem responder a questionamentos da imprensa internacional sobre estes bárbaros procedimentos, tanto as decapitações em massa, quanto às denúncias de confissões obtidas sob tortura, um funcionário saudita declarou, na quinta-feira, que “o reino da Arábia Saudita adota a política de tolerância zero com relação a terroristas que derramam o sangue de inocentes, ameaçam a segurança nacional do reino e distorcem nossa grande fé”
Quanto aos questionamentos ao julgamento em si, disse apenas que “os criminosos condenados e executados tiveram seu dia em juízo e foram considerados culpados de crimes muito sérios”.
A execução em massa foi a maior desde janeiro de 2016 quando 47 cidadãos sauditas, também acusados de “terrorismo” foram decapitados incluindo o proeminente clérigo xiita, Nimr al-Nimr.
O déspota Mohammed bin Salman, o mais festejado por Trump entre os chefes de Estado do Oriente Médio, prometeu, quando assumiu a chefia do seu reino, reformas que aliviassem o peso do despotismo sobre os cidadãos de seu país mas, desde então, tem comandado um dos mais bárbaros dos regimes sauditas. Aí se inclui a execução por tortura e esquartejamento do jornalista Jamal Kashoggi e a agressão ao Iêmen que já custou a vida de mais de 80 mil pessoas naquele país.
Tanto nos crimes anteriores, como agora, o presidente dos Estados Unidos, que assim como seus antecessores, se acha na condição de distribuir notas sobre a democracia de regimes mundo afora, deu de ombros e manteve a boca fechada.
De acordo com o jornal inglês The Independent, o Ministério do Interior da Arábia Saudita declara que “o executado, Khaled bin Abdel Karim al-Tuwaijri, depois de decapitado, foi crucificado e exposto em praça pública como advertência aos demais”.
A organização Anistia Internacional, através de sua porta-voz, Lynn Maalouf, denunciou as execuções, “após julgamentos vergonhosos, onde confissões foram extraídas sob tortura”, como “uma demonstração da total desconsideração das autoridades sauditas pela vida humana”.
“É também mais uma horrenda indicação de como a pena de morte tem sido usada como instrumento da política de esmagamento do dissenso. O uso da pena de mote é sempre perturbador, mas é ainda mais chocante quando aplicada através de julgamentos de pessoas abaixo dos 18 anos em flagrante violação das leis internacionais”, acrescentou Lynn.
Ainda segundo o Independent, a quantidade de execuções, já soma 96, neste ano de 2019, o que aponta para um infeliz número que deve superar o de execuções durante o ano de 2018 (149).
O ministro do Exterior do Irã, Javed Zarif, condenou o presidente norte-americano Donald Trump, por seu silêncio diante da barbárie saudita.
“Depois de uma piscadela quando do desmembramento de um jornalista, não vemos nem mesmo um sussurro por parte do governo Trump quando a Arábia Saudita decapita 37 homens em um dia e até crucifica um deles dois dias após a Páscoa”, disse Zarif.
“O que se vê é que o governo dos EUA livra de qualquer condenação, por qualquer que seja o crime, tanto a Bibi Netanyahu quanto Bin Salman”, acrescentou o ministro iraniano.