
O alto comissário da Organização das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, condenou nesta quarta-feira (24) os atos de racismo contra o jogador de futebol brasileiro Vinicius Junior, atacante do clube espanhol Real Madrid, ocorridos no último domingo (21).
Em coletiva de imprensa, Türk destacou que as ofensas são um “lembrete gritante” da prevalência do racismo no esporte. “Apelo aos organizadores de eventos desportivos para que tenham estratégias de prevenção e combate ao racismo”, disse.
“Muito mais precisa ser feito para erradicar a discriminação racial – e isso precisa começar ouvindo as pessoas de ascendência africana, envolvendo-as significativamente e tomando medidas genuínas para agir de acordo com suas preocupações”, concluiu.
Desde o ocorrido, o atleta tem recebido apoio de autoridades do Brasil, personalidades do esporte e colegas do clube espanhol. O governo brasileiro divulgou, no início da semana, nota de repúdio aos ataques racistas.
O governo federal cobrou urgência na adoção de medidas sobre a recorrência de casos de racismo cometidos contra o atleta na Espanha. Assinam a nota os Ministérios das Relações Exteriores, da Igualdade racial, da Justiça e Segurança Pública, do Esporte e dos Direitos Humanos e da Cidadania.
“Insta as autoridades governamentais e esportivas da Espanha a tomarem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos”. As instituições citadas no texto são a Federação Internacional de Futebol (Fifa), a Federação Espanhola e La Liga.
Em publicação nas redes sociais, o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, cobrou uma postura mais firme de entidades esportivas, governos, patrocinadores e da imprensa. Ele criticou a posição do presidente da La Liga, Javier Tebas.
“Em vez de se solidarizar com Vini Júnior, o presidente de La Liga resolve atacar o atleta pelas redes sociais. Para além do destempero do cartola, seria o caso de se perguntar como as empresas que patrocinam a La Liga se posicionam”, afirmou o ministro.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, prestou solidariedade ao jogador atacado e exigiu ações concretas dos empresários que financiam eventos futebolísticos. “Isso é deplorável, inaceitável e deve ter consequências. Espero que essas empresas façam alguma coisa de sério e efetivo sobre o inaceitável e reiterado racismo contra Vinicius Júnior”.
O Ministério da Igualdade Racial afirmou que o Brasil vai notificar oficialmente as autoridades espanholas e a La Liga, responsável pelo torneio de futebol profissional espanhol.
“O governo brasileiro não tolerará racismo, nem aqui, nem fora do Brasil! Trabalharemos para que todo atleta brasileiro negro possa exercer o seu esporte sem passar por violências”. Já a ministra Anielle Franco postou: “Inaceitável! O peito chega aperta de tanta indignação! Até quando teremos que lidar com isso!? Chega de racismo!”
O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, considerou inaceitáveis os ataques racistas sofridos por Vini Jr. “O racismo deve ser combatido ativamente e rechaçado em todos os cantos do mundo”.
HOMENAGENS
Nesta quarta, antes de Real Madrid x Rayo Vallecano, em La Liga, todos os jogadores entraram em campo com a camisa número 20, a usada por Vini Jr. nas partidas dos merengues. Aos exatos 20 minutos da partida, a torcida do Real aplaudiu o jogador.
https://twitter.com/realmadrid/status/1661428636803559424
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A arbitragem e os jogadores do Rayo se juntaram aos donos da casa para mandar uma mensagem contra o racismo. Eles seguravam um cartaz com a mensagem “racistas, fora do futebol”. A faixa é da La Liga. A entidade foi duramente criticada por omissão nos casos de racismo contra o jogador brasileiro.
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A partida terminou em 2×1 para o Real Madrid. Um dos gols foi marcado pelo brasileiro Rodrygo que, durante a comemoração, fez o gesto antirracista de punho cerrado em referência ao colega de time.
Apesar da homenagem, Vini Jr. não jogou. Ele teve dores no joelho e não foi relacionado por Carlo Ancelotti para a partida. Ele foi ao estádio, assistiu o jogo e agradeceu as homenagens.
O cartão vermelho dado a Vini Jr. foi anulado pela Federação Espanhola de Futebol, portanto o brasileiro está liberado para participar dos jogos do Campeonato Espanhol. Ele foi expulso no final da partida contra o Valencia, no domingo (21), por um empurrão. Porém, a Federação entendeu que o árbitro recebeu imagens editadas do lance e que, por isso, a decisão foi influenciada.
Apesar do apoio, uma imagem de Vinícius Júnior foi vandalizada no Santiago Bernabéu, estádio do Real Madrid. No entanto, a foto de Benzema, ao lado do jogador brasileiro, não foi rasgada.
O jornalista Nils Kern publicou a fotografia e criticou que “algumas pessoas realmente têm alguns grandes problemas em suas cabeças”.