“Constatou-se que cerca de 70% das vítimas fatais [do massacre israelense em Gaza] eram crianças e mulheres, indicando uma violação sistemática dos princípios fundamentais do direito internacional humanitário”, denuncia o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos da ONU (ACNUDH).
Relatório do órgão da ONU mostra os detalhes individuais dos mortos em Gaza por ataques, bombardeios e outras condutas de hostilidades por parte do exército israelense. Dessas fatalidades, A continuação desses ataques “demonstra uma aparente indiferença à morte de civis e ao impacto dos meios e métodos de guerra selecionados”, frisa o relatório.
Acrescenta que, das mortes confirmadas, 80% ocorreram em edifícios residenciais ou habitações semelhantes, nas quais 44% eram crianças e 26% eram mulheres.
O ACNUDH assinalou que encontrou um padrão que mostrava “altos números de bebês e crianças pequenas, mulheres, idosos e famílias mortas junto, atingidas em prédios residenciais”.
A Agência das Nações Unidas identificou três faixas etárias de crianças falecidas: as que estavam entre 5 e 9 anos, aquelas entre 10 e 14 anos, e bebês e crianças menores de 4 anos.
O chefe dos Direitos Humanos da ONU, Volker Türk, avaliou que o relatório mostrou que as baixas civis foram “uma consequência direta do não cumprimento dos princípios fundamentais do direito internacional humanitário – nomeadamente os princípios de distinção, proporcionalidade e precauções no ataque”.
Ele disse que esse padrão continuou “inalterado, mais de um ano após o início da guerra”.
DOIS ATAQUES CONTRA ESCOLAS POR DIA
A agência da ONU para a infância, UNICEF, afirmou que “pelo menos 64 ataques contra escolas – dois por dia – foram registrados na Faixa de Gaza no mês passado”.
Estima-se que 128 pessoas tenham morrido nos ataques, muitas delas crianças, acrescentou na sexta-feira (08)
A Agência constatou que, de acordo com as últimas informações, quase metade dos ataques registrados em outubro aconteceram no norte de Gaza, “onde novos bombardeios intensos, deslocamentos em massa e falta de socorro alimentar e de medicamentos suficientes estão levando as crianças ao limite”.
As tropas genocidas de Netanyahu, para justificar a barbárie, têm alegado persistentemente que o Hamas usa escolas e outras instalações para civis deslocados como cobertura para suas operações. Sem apresentar provas, claro.
O Ministério da Saúde da Palestina informou que o número total de vítimas fatais identificadas foi de 43.604 e o número de feridos foi de 102.929 em 13 meses de guerra. Desse número 29 276 são crianças e mulheres.
OMS: “FOME, DESNUTRIÇÃO E EXCESSO DE MORTALIDADE”
Um relatório da Organização Mundial da Saúde sobre a disponibilidade de alimentos em Gaza concluiu na sexta-feira passada que havia “uma forte probabilidade de que a fome seja iminente em áreas no norte da Faixa”, onde muitas das recentes operações israelenses se concentraram.
“Fome, desnutrição e excesso de mortalidade devido a doenças estão aumentando rapidamente nessas áreas. Os limiares da fome podem já ter sido ultrapassados ou o serão em um futuro próximo”, apontou. As crianças e as mulheres são as principais vítimas dessa situação, confirmou.
O relatório citou dados da ONU apontando que o número de remessas de ajuda para a Faixa de Gaza é agora menor do que em qualquer outro momento do ano passado. Assinalou que o monitoramento pelo Programa Mundial de Alimentos mostrou que na segunda metade de outubro o número médio de caminhões entrando na Faixa de Gaza caiu para apenas 58 por dia, o menor nível desde novembro do ano passado.
Antes do início da guerra, cerca de 500 caminhões comerciais e de ajuda humanitária entravam em Gaza todos os dias.
O relatório da OMS também mostrou que o preço dos alimentos em Gaza aumentou 312% desde o início do conflito.
O diretor-geral da Organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou no sábado (09) que o relatório era “profundamente alarmante”. Em uma publicação nas redes sociais, ele disse: “Pedimos uma ampliação imediata e acesso seguro para ajuda humanitária — principalmente alimentos e medicamentos para desnutrição grave — em poucos dias, não semanas”.
A agência israelense que lida com a transferência de ajuda para Gaza rejeitou o relatório que alerta sobre a perspectiva de fome no norte do enclave, dizendo que tais relatórios no passado “foram sistematicamente baseados em organizações com interesses adquiridos e conhecimento parcial e impreciso”. Ou seja, pretende continuar com sua política criminosa.
ISRAEL APROVOU CONDENAR CRIANÇAS DE 12 ANOS À PRISÃO
O Parlamento israelense (Knesset) aprovou uma disposição que permite aos tribunais do país condenar menores com menos de 12 anos de idade à prisão se forem considerados culpados de homicídio por “motivos terroristas”. De acordo com a norma, os menores entre os 12 e os 14 anos podem ser condenados à prisão e teoricamente encerrados num centro até completarem os 14 anos, altura em que a lei do país permite a sua transferência para a prisão junto com criminosos mais velhos.
Os regulamentos que valem em Israel incluem a possibilidade de prisão perpétua se os menores forem considerados culpados de homicídio ou tentativa de homicídio classificado como “ato terrorista” ou ligados a uma “organização terrorista”, em bom português, a uma organização da Palestina.
O governo da Faixa de Gaza condenou a medida num comunicado em que acusou as autoridades israelenses de punir menores pela “sua resistência e rejeição à ocupação, em violação dos tratados internacionais” sobre os direitos das crianças, lembrando que as forças de Netanyahu mataram mais de 17 mil crianças durante a sua ofensiva contra Gaza, e apelou à comunidade internacional para “enfrentar esta lei fascista”.