O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu “uma investigação independente e transparente sobre o uso desproporcional e massivo de força letal” durante o massacre ocorrido em Gaza no dia 30 de março, quando uma manifestação em direção à fronteira da Faixa de Gaza com Israel, denominada Marcha do Grande Retorno, foi recebida com uma metralha israelense que matou 17 e feriu 1.500 palestinos.
“Meus pensamentos estão com as famílias das vítimas”, afirmou Guterres.
A ONU chamou Israel a se pautar “de acordo com os direitos humanos e as leis e normas internacionais que tratam com a discordância”.
No sábado, os funerais dos palestinos mortos reuniram milhares de parentes, amigos e pessoas solidárias aos mártires daquela que os palestinos estão chamando de Sexta-Feira Sangrenta. Atendendo ao chamado da Autoridade Nacional Palestina, na Cisjordânia foi observado um Dia Nacional de Luto com lojas, órgãos de governo, escolas e universidades suspendendo as atividades.
Na Cisjordânia o maior ato do dia 31 aconteceu na cidade de Nablus onde uma multidão de palestinos marchou com bandeiras desde a mesquita Al-Haj Nimr Al-Nabulsi até a Praça dos Mártires.
A massiva manifestação, que se realizou quando se completam 70 anos da implantação do Estado de Israel em meio a um processo continuado de limpeza étnica e discriminação do povo palestino, acontece também no momento em que são completados 10 anos de bloqueio a Gaza, acrescido de duas agressões. O que causou além da falta de água potável, apagões generalizados, mais de dez mil casas destruídas e milhares de palestinos mortos nos dois bombardeios.
CONSELHO DE SEGURANÇA
O Conselho de Segurança da ONU, convocado a pedido do Kuwait, Egito e Jordânia, reuniu-se, mas não tirou nenhuma resolução condenando o massacre devido ao veto interposto pela representação do governo norte-americano. A representante dos EUA, Nick Halley, declarou, ao justificar o veto que “Israel tem o direito de se defender”.
O embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour, se declarou “desapontado pelo fato do CS da ONU haver se negado a um posicionamento depois do massacre hediondo de manifestantes pacíficos”. Para Mansour é muito grave esta omissão que “deixa os civis palestinos desprotegidos”.
“O Conselho de Segurança deveria estar à altura de sua responsabilidade e agir para enfrentar esta situação que é uma clara ameaça à paz e à segurança internacionais”, declarou o palestino.
A Turquia, Egito e Jordânia, denunciaram o “uso desproporcional de força usado por Isael contra os manifestantes desarmados” e a Rússia declarou seu repúdio “ao uso indiscriminado de força contra civis”.
A delegação israelense não compareceu alegando que, na data, os judeus comemoram a Páscoa. O embaixador de Israel na ONU, Danny Danon (o mesmo que foi recusado pelo governo brasileiro como embaixador devido a sua posição de chefe da organização que articula o assalto de terras palestinas para fins de assentamentos judaicos), declarou, antes da reunião, que os palestinos é que estão “enganando a comunidade internacional” e, cinicamente, chamou a manifestação “encontro terrorista violento”, apesar de não haver nenhum ferido do lado israelense e da multidão de perdas e feridos entre os manifestantes.
“Os palestinos mergulharam em um novo rebaixamento de mentiras para usar a ONU no sentido de espalhar mentiras sobre Israel”, disse ainda o assaltante de terras.
REPÚDIO INTERNACIONAL
O representante sueco, Carl Skau, declarou que “a situação é extremamente preocupante”. Anatolio Ndong Mba, embaixador da Guiné Equatorial, condenou a violência e alertou que a situação “pode chegar a total descontrole e piorar uma condição já muito delicada em Gaza”.
Os representantes da Rússia e da China destacaram que o massacre do dia 30 torna mais urgente que sejam realizados esforços no sentido de resolver o conflito Israel-Palestina.
O ministro da ‘Defesa’ de Israel disse que suas forças agiam de maneira “apropriada” e o primeiro-ministro do regime de apartheid israelense, Bibi Netanyahu, elogiou a ação do exército.
Organizações de direitos humanos em Israel e na Palestina denunciam o massacre perpetrado.
A organização Centro Legal para Direitos Árabes – Adalah que reúne juristas e apoiadores israelenses e palestinos denuncia que “O uso militar de 100 atiradores contra civis palestinos desarmados na Faixa de Gaza é ilegal” e prossegue afirmando que “usar armas de fogo sobre civis desarmados se constitui numa violação brutal das obrigações legais internacionais de se distinguir entre civis e combatentes”.
“É obrigação de Israel agir de acordo com a legislação internacional” declara ainda a organização, afirmando que vai requerer uma ampla investigação e que “os responsáveis pelo morticínio sejam trazidos perante a justiça”.
O Centro Mezan de Direitos Humanos, sediado em Gaza, enviou carta ao procurador-geral de Israel, Avichai Mandelblit, expressando a exigência de “atue no sentido de impedir o uso de atiradores contra manifestantes ou para a dispersão de manifestações e que dê ordens claras às forças de Israel neste sentido”.
Para os juristas palestinos também deve ser considerado crime “todas as ameaças governamentais divulgadas na mídia contra civis que se propõem a participar da marcha de Gaza e as afirmações de que os manifestantes serão alvos de cunho militar”.
O exército israelense anunciou, já antes do massacre, de que a região onde seria realizada a manifestação era declarada “zona militar fechada”, significando que estava disposta a atirar em quem quer que participasse da marcha.
Já a organização israelense de direitos humanos, B’Tselem divulgou nota denunciando o governo israelense de “ignorar completamente o desastre humanitário em Gaza e a sua responsabilidade nele, ao tratar o protesto como risco de segurança, os manifestantes como terroristas e referindo-se a Gaza como zona de combate”.
Segundo a organização os atiradores foram orientados a atirar em qualquer um que chegasse a uma distância de 300 metros da fronteira. B’Tselem declara que a agressão a civis tem atingidos níveis alarmantes e que só no mês de dezembro de 2017 morreram oito manifestantes palestinos sob fogo israelense em Gaza.
“A presunção israelense de que pode ditar aos palestinos o que devem fazer na Faixa de Gaza é absurda. A decisão de onde, como e o motivo das demonstrações em Gaza não cabe a Israel, que tem o poder de mudar a vida em Gaza para melhor ao levantar o bloqueio e, ao contrário, fez da Faixa uma imensa prisão e ainda quer proibir os prisioneiros de se manifestarem contra isso sob pena de morte”, finaliza a organização.
Mais de 70% dos quase dois milhões de palestinos que vivem em Gaza são refugiados da limpeza étnica realizada pelos israelenses na Palestina.
A organização israelense Mulheres pela Paz convocou uma manifestação que reuniu centenas em ato de solidariedade do lado israelense da fronteira com Gaza.
NATHANIEL BRAIA