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“O envolvimento de Milei em um crime de fraude de criptomoedas é extremamente grave. É um escândalo sem precedentes. Nosso bloco de Deputados Nacionais decidiu seguir adiante com a apresentação de um pedido de impeachment contra o Presidente da Nação”, disseram os deputados do bloco União pela Pátria, coalizão política argentina, de tendência peronista e kirchnerista, em comunicado no sábado (15).
A ex-presidente e líder do peronismo Cristina Kirchner chamou Milei de “golpista de criptomoedas” em postagem no X e disse que ele operava “como um gancho para um golpe digital”.
As reações ao escândalo provocado pela ascensão seguida de colapso de uma criptomoeda, a $LIBRA, para a qual atraiu investidores o próprio presidente Javier Milei em sua conta no X, se multiplicam.
As primeiras informações dão conta de que argentinos foram lesados em milhões de dólares. A gravidade do envolvimento presidencial levou a medidas encabeçadas pelo pedido da oposição peronista de abertura de um processo de impeachment. A iniciativa foi acompanhada até pela oposição moderada que exige a abertura de uma comissão parlamentar de investigação sobre a fraude, podendo também resultar em pedido de impeachment.
A fraude foi perpetrada através de uma publicação na rede social X, que Milei posteriormente apagou. Nela o presidente pediu que seus seguidores investissem em uma criptomoeda chamada $LIBRA, cujo valor subiu exponencialmente e depois despencou, fazendo com que milhares de pessoas perdessem seu dinheiro com o desmonte da frágil pirâmide.
AÇÃO JUDICIAL COLETIVA
O senador Martín Lousteau, da União Cívica Radical (UCR), partido de centro, assinalou que esta foi a segunda vez que Milei anuncia ativos do mundo das criptomoedas “que acabam sendo uma fraude”.
O advogado e líder social Juan Grabois busca promover uma ação judicial coletiva contra o chefe de Estado, por incentivar a compra de $LIBRA em sua conta X em suas redes sociais. Grabois disse que o presidente “foi um participante necessário em um grande golpe contra dezenas de milhares de argentinos”.
Junto com o economista Itai Hagman, Grabois já entrou com uma queixa criminal contra “os vigaristas e o participante necessário [Milei] que também foi visto violando o Artigo 249 do Código Penal em flagrante delito por milhões de pessoas”. O advogado compartilhou um formulário que aqueles que foram enganados podem preencher para aderir à ação de forma conjunta ou individual.
As repercussões trouxeram à tona não apenas antecedentes em operações semelhantes antes de Milei chegar ao poder, como ainda a participação de sua irmã Karina, que ocupa o posto de secretária-geral da presidência, enquanto as ações se multiplicam e, na noite de domingo, já somavam mais de cem denúncias nos tribunais que aumentam a cada hora.
PRESIDÊNCIA TENTA SE DESVINCULAR DA FRAUDE
Em comunicado da Presidência, o governo tenta se desvincular de uma relação próxima com o CEO da Kelsier Ventures, Hayden Mark Davis, líder da empresa que deu início ao projeto de fraude, ao lançamento do token e à criação do mercado $LIBRA, a criptomoeda que gerou o escândalo político: “O sr. Davis não tinha e não tem nenhuma ligação com o governo argentino e foi apresentado por representantes do KIP Protocol como um de seus parceiros no projeto”, disse tentando de livrar as acusações.
Davis havia se apresentado como “assessor de Javier Milei” após a queda abrupta da criptomoeda e, pela conta oficial no X, a Kelsier Ventures comunicou que “em 30 de janeiro de 2025, o Presidente manteve uma reunião na Casa Rosada com Hayden Mark Davis, que, segundo o que foi expresso pelos representantes do KIP Protocol, forneceria a infraestrutura tecnológica para seu projeto”.
“Eu não estava ciente dos detalhes do projeto e depois de tomar conhecimento dele decidi não continuar a divulgá-lo”, trapaceou Milei na madrugada de sábado, também em postagem no X.
Tentando se livrar das conseqüências, o gabinete de Milei também anunciou que, “à luz dos acontecimentos”, ele decidiu “encaminhar imediatamente o assunto ao Escritório Anticorrupção (OA) para determinar se houve conduta imprópria por parte de qualquer membro do governo nacional, incluindo o próprio presidente”.
Em 2021, em seu mandato como parlamentar, Milei promoveu a plataforma CoinX, que oferecia lucros mensais de 8% em dólares e que agora também está sob investigação por fraude.
Desde o último sábado, várias vítimas do esquema começaram a surgir nas redes sociais, como o influencer americano apelidado de Threadguy, que possui centenas de milhares de seguidores. Ele disse ter perdido 250.000 dólares na criptomoeda, segundo a emissora alemã DW.
“Hoje foi um dia difícil. O presidente da Argentina […] nos enganou”, lamentou.