Parlamentares republicanos e democratas anunciaram que “em princípio” chegaram a um acordo provisório para evitar novo ‘shutdown’ [fechamento do governo federal] a partir do dia 16, como o presidente Donald Trump vem ameaçando fazer nos EUA. No fechamento anterior, 800 mil servidores federais ficaram sem salário por 35 dias, programas sociais foram suspensos e até a restituição do imposto de renda ficou no limbo.
“Alcançamos um acordo de princípio sobre segurança interna, entre outros”, afirmou o principal negociador republicano, o senador Richard Shelby, na noite de segunda-feira (11). “Nossas equipes estão trabalhando nos detalhes”, confirmou a deputada democrata Nita Lowey.
Segundo os números divulgados pela mídia dos EUA, ao invés do muro por ora Trump terá que se contentar com um puxadinho à cerca que já existe, 89 km adicionais. O que dá ares de veracidade à reclamação dele, via Twitter, de que a oferta democrata era “grana pouca” para muito muro.
Os democratas, que haviam introduzido na discussão o bode do ‘teto para total de leitos de encarceramento de imigrantes’, a serem reduzidos a um terço, 16.500, retiraram o incômodo e a negociação pôde seguir adiante. Atitude que entidades de defesa dos imigrantes denunciaram como “capitulação”. Conforme o “The Hill” essa parte do acordo inclui “flexibilidade” que poderia ser interpretada por Trump como luz verde para aumentar o total de imigrantes detidos. “Fizemos o melhor que pudemos”, asseverou Lowey.
No domingo, Shelby dera as negociações como “paralisadas” e o chefe de gabinete de Trump, Mick Mulvaney, não descartara a volta do ‘shutdown’. Pela encenação que Trump anda fazendo sobre sua principal promessa de campanha, o muro da xenofobia, não se sabe se ele vai topar ou não o acerto alcançado no Comitê da Fronteira, mas com toda a desenvoltura que mostrou nos reality-shows, ele sabe que o importante é garantir a audiência – ainda mais quando tem eleição no próximo ano.
No episódio anterior do novelão “Gimmie My F…. Wall”, a coadjuvante Nancy Pelosi havia roubado a cena. Então, agora, Trump optou por uma cena externa, em El Paso, na fronteira do Texas com o México, onde foi recebido com gritos de “Construa o Muro”.
Antes de ir, para animar seus eleitores racistas, Trump havia tuitado: “Tremendos números de pessoas estão chegando através do México com a esperança de inundar nossa fronteira sul. Mandamos mais soldados. Construiremos um Muro Humano se for preciso. Se tivéssemos um Muro de verdade, isto não aconteceria!”
Foram mais 3750 soldados, para esticar mais arame farpado e fingir que estão evitando a “invasão” de salvadorenhos e hondurenhos miseráveis.
Trump tem asseverado que erguerá o muro “com ou sem Congresso” e que vai usar “o [dinheiro] que for cedido” e ir atrás de mais, por outros lados. Mas nas hostes do trumpismo, nem todos estão satisfeitos: um comentarista da Fox News, Sean Hannity, disse que “qualquer republicano que apoiar esse compromisso-lixo deverá dar explicações”.
O episódio de segunda-feira incluiu a invasão de Eagle Pass, também no Texas, por centenas de soldados, policiais federais, agentes da imigração e 100 viaturas, em um trecho de menos de dois quilômetros, no que o Homeland chamou de “demonstração de força” para “demover os refugiados da América Central de cruzar o Rio Grande”. O que deve ser a enésima reedição da Operação “Hold The Line”, iniciada em 1993 pelo governo de Bill Clinton.
Do outro lado do Eagle Pass, 1.800 refugiados estão sendo mantidos em um centro improvisado em Piedras Negras enquanto aguardam decisão sobre a concessão de asilo pelos EUA. Pela nova determinação de Trump, acatada a contragosto pelo governo mexicano por questão humanitária, o requerente de asilo tem de voltar para o lado de lá da fronteira e aguardar a decisão. O jornal mexicano Reforma descreveu as condições no local: “os 1.850 imigrantes da caravana são mantidos dentro da antiga maquiadora Macesa e as suas saídas são vigiadas”. Na semana passada, uma corte de apelação federal dos EUA autorizou a construção do muro em área de proteção ambiental, interpretando que a lei IIRAIRA – aprovada em 1996 pelo governo Clinton [Lei da Reforma da Imigração e da Imigração Ilegal] – dá razão a Trump.
A.P.