
A menos de uma semana do prazo de 28 dias concedido a Bibi Netanyahu para formar seu gabinete ministerial apoiado na maioria do Knesset, parlamento israelense, candidato a continuar à frente do governo israelense mesmo batido nas eleições pelo estreante Benny Gantz, recebe do opositor um rotundo “Não” a uma proposta indecorosa que chamou de ‘Coligação de Unidade’.
O “plano” apresentado pelo premiê Bibi, cujo mandato de encarregado de formar governo, conforme apontado pelo presidente Reuven Rivlin, termina na próxima quarta-feira, ignora uma das exigências fundamentais do bloco Kahol Lavan, (Azul e Branco) dirigido pelo vencedor do pleito, Benny Gantz: que o Likud, bloco de Netanyahu, se afastasse dos fascistas do bloco Yemina (Rumo à Direita).
O bloco Yemina é dirigido, nada mais, nada menos pela provecta Ayelet Shaked, que fez campanha se aspergindo perfume em cujo rotulo se lia a palavra “Fascismo”.
Dito isso, vale ressaltar que, antes de tudo, Netanyahu não atende à exigência de Gantz – desse afastamento – exatamente por ser entranhado ao fascismo israelense como unha e carne. O representou como premiê. É, como os demais candidatos presentes no bloco Yemina, adepto de proa do segregacionismo que exacerbou, inclusive patrocinando leis excludentes e discriminatórias no país. Só vê sentido em atuar com eles e como eles. Aliás, a mesma Shaked foi, nada menos, do que ministra da ‘Justiça’ do governo durante seu mais recente mandato (2015-2019).
Além do que, a proposta de Netanyahu não faz menção a quem ficaria como primeiro-ministro desse governo de “Coligação Nacional”, deixando a entender que esse cargo ficaria para ele próprio, mesmo tendo perdido o último pleito para o general Benny Gantz.
Também propôs transformar um terço da Cisjordânia palestina ocupada, exatamente desde as margens férteis do rio Jordão até as terras ricas em minério próximas ao Mar Morto, em terra anexada a Israel.
No terreno econômico haveria um arrocho para “reduzir o déficit público” e mais verba carreada para o orçamento militar.
Mostrando ainda mais falta de seriedade de propósitos, esse “plano” foi delineado a Gantz por telefone.
Gantz rispostou que “seria impossível não recusar tal proposta”.
O principal candidato opositor esclareceu: “Nós vamos esperar para receber a oferta presidencial para formar o governo e depois iniciaremos sérias negociações para estabelecer um governo democrático, progressista e de unidade”.
Netanyahu deixou evidente que a ligação a Gantz, com um plano pior do que aquele que apresentara em pessoa ao mesmo candidato, tinha uma única finalidade: desgastá-lo às vésperas de sua indicação com chefe das negociações pela formação do governo israelense.
Assim que desligou, postou um vídeo dizendo que acabara de “ligar para o deputado Benny Gantz e sugerir a ele um compromisso pelo estabelecimento de um amplo governo nacional de unidade”.
E, prepotente, prosseguiu: “Este é o único governo que pode ser estabelecido agora. Este é o único governo que deve ser estabelecido agora”.
Ao final da postagem, dirigindo-se aos israelenses, fez seu nauseante e venenoso apelo à paranoia anti-árabe: “Todos os israelenses estão olhando em volta e vendo que o Oriente Médio está mudando sob seus olhos – mudando para pior. Aqueles que precisam saber, sabem que os desafios de segurança que enfrentamos estão apenas crescendo e que não vão dizer que eles vão esperar por nós”.
Gantz não se fez de rogado. Manteve uma conversa reservada com o chefe do Estado Maior de Israel, Avi Kochavi ( o mesmo que se recusou à véspera das eleições de 17 de setembro a executar um plano de provocações que desembocaria em uma carnificina em Gaza e levaria ao adiamento do pleito, deixando Israel sob um gabinete de guerra sob o comando de Netanyahu).
Segundo Gantz, o encontro com Kochavi foi pedido “à luz dos últimos acontecimentos regionais e desafios de segurança”. A intenção demonstrada é que ele queria tomar pé da situação de fonte direta e não pela intermediação do interessado Bibi, atolado até o pescoço em três processos de corrupção.
Depois do rechaço da investida de Netanyahu, o bloco de Gantz divulgou uma nota de repúdio à tentativa de confundir os eleitores israelenses:
“A conduta do premiê em fim de mandato, agora e no último período, mostra que ele não tem por objetivo a unidade e sim a impunidade. Hoje, da mesma forma, mostrou que não está preparado para negociar diretamente. Hoje, também, deixou claro que se recusa a reconhecer que a maioria dos israelenses votou por um governo progressista e de unidade, sem os extremistas”. O documento termina apontando para as razões dos últimos movimentos de Netanyahu: evitar a cadeia. “Sabemos que há uma razão para o fato de que sua proposta deixe de mencionar o item mais importante: manter os padrões morais e o predomínio da lei”.
O que se espera é que, depois de quarta-feira, Gantz seja chamado por Reuven Rivlin à residência presidencial para receber a incumbência de formar governo. Daí em diante, Gantz terá 28 dias para reunir 61 apoios de parlamentares em torno da sua proposta e apresentar estes apoiamentos ao presidente. No dia de hoje, Gantz conta com o apoio firmado de 54 deputados.
Netanyahu conseguiu reunir 55 deputados para sua indicação mas, ao longo dos últimos 24 dias, não logrou mais nenhum apoio.
Caso o mesmo aconteça com Gantz, haverá um terceiro turno eleitoral ao final deste ano.