Para o economista, o aumento do imposto, com o país estagnado, empresas e consumidores endividados e aumento da taxa de juros, vai desestimular ainda mais a economia e acelerar a inflação. “Brasil já está no quadro de estagflação e vai ficar pior em 2022”, alerta
O economista José Luis Oreiro afirmou, nesta terça-feira (21), em entrevista ao HP, que o aumento do IOF “foi uma decisão horrorosa”. “É de uma burrice econômica inacreditável”, criticou o professor da Universidade de Brasília (UnB).
“Aumentar ainda mais o IOF sobre as transações financeiras é querer aumentar a inadimplência e botar um pouco mais de água fria na pífia recuperação da economia brasileira”, disse o economista.
“O aumento da taxa de juros, que vai desestimular ainda mais a economia, vai provocar a aceleração da inflação que reduz o poder de compra dos salários e, portanto, reduz o consumo. Eu não tenho nenhuma dúvida que o Brasil já está no quadro de estagflação e vai ficar pior em 2022”, alertou. Estagflação é uma situação simultânea de estagnação econômica, ou até crescimento negativo, e inflação (alta generalizada e contínua dos preços).
Confira a entrevista na íntegra.
HORA DO POVO: Como você avalia o aumento do IOF na economia e na véspera da data em que o BC está acenando com mais um aumento de um ponto na Selic?
JOSÉ LUIS OREIRO: Foi uma decisão horrorosa. Você está com uma economia que está em recessão ou pelo menos diminuindo o ritmo de recuperação. Os dados do PIB do segundo trimestre mostram uma retração da economia com respeito ao primeiro trimestre, temos muitas empresas que estão muito endividadas, consumidores endividados; e isso, num contexto que você já vai estar aumentando a SELIC, portanto o crédito já ficaria mais caro. Nessa circunstância, você aumentar ainda mais o IOF sobre as transações financeiras é querer aumentar a inadimplência e botar um pouco mais de água fria na pífia recuperação da economia brasileira.
O IOF é um imposto sobre transação, quer dizer, é uma ideia muito ruim colocar imposto sobre transações, porque quando você coloca um imposto sobre transações, você desestimula as transações. Como numa economia capitalista moderna a maior parte dos setores opera com retornos crescentes de escala, ou seja, na medida que aumenta o número de operações o custo unitário de cada operação cai, quando você coloca um imposto de transação você diminui o número de transações e, portanto, você aumenta o custo unitário de cada transação, você tem aumento de eficiência da economia contribuindo inclusive para o aumento da inflação. Então assim, é a pior forma possível de querer arrecadar dinheiro para financiar o bolsa-família, o auxílio emergencial, que o governo está querendo para fechar esse ano.
Era muito melhor, na verdade, aumentar o déficit. Quer dizer, aumenta o déficit, a economia está em recessão e eu não vejo nenhum problema você ter um resultado primário pior do que o governo estava esperando. O Paulo Guedes [ministro da Economia] está fazendo isso unicamente para mostrar que ele é “responsável fiscalmente” etc, etc… é uma besteira e, outra vez, obsessão do Guedes com o imposto sobre transações. E, como eu disse: ‘é de uma burrice econômica inacreditável’.
HORA DO POVO: A inflação está se aproximando dos 10%, e os bancos já reduziram em 1% a expectativa para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 2022. Na sua avaliação, o Brasil está em vias de entrar em estagflação?
JOSÉ LUIS OREIRO: Eu acho que nós já estamos em estagflação. A inflação dos próximos meses vai acelerar, principalmente, agora por conta de dois eventos: a gente já sabe, que é a crise hídrica que está muito ruim. Quer dizer, isso vai impactar negativamente no preço da energia e com isso você tem aumento de inflação. O segundo ponto que as pessoas não estão percebendo é que essa crise lá na China que está derrubando o preço do minério de ferro no mercado internacional.
Como o Brasil é um país exportador de commodities, toda vez que o preço das commodities cai, isso tende a produzir uma desvalorização do câmbio. Então, você vai ter mais desvalorização do câmbio que vai ser repassado para os preços e, portanto, vai elevar a inflação. Esse é o cenário. Junto com o aumento da taxa de juros que vai desestimular ainda mais a economia, a aceleração da inflação que reduz o poder de compra dos salários e, portanto, reduz o consumo. Eu não tenho nenhuma dúvida, o Brasil já está no quadro de estagflação e vai ficar pior em 2022.
ANTONIO ROSA