“O Brasil não é um país muito endividado”, afirma o economista. ‘”O Brasil é um país de endividamento médio (88,2% do PIB) com valores similares aos observados na China (76,9%) e na Índia (83,4%), inferior ao observado nos Estados Unidos (122,1%), Espanha (113,6%), Portugal (114,7%), França (111,8%), Itália (147,2%) e Japão (263,9%)”
O economista José Luis Oreiro contesta a afirmação do economista Armínio Fraga de que “o Brasil é um país muito endividado”. Fraga, junto com Edmar Bacha e Pedro Malan, recomendou ao presidente Lula a manutenção do teto de gastos, o que foi refutado por Oreiro em carta a Lula: “É inviável”.
Reproduzimos a seguir o texto do professor da Universidade de Brasília (UnB).
MAIS UM EQUÍVOCO DE ARMÍNIO FRAGA: O BRASIL NÃO É UM PAÍS MUITO ENDIVIDADO
JOSÉ LUIS OREIRO
Um dia após publicar na Folha de São Paulo uma carta aberta ao Presidente Lula em conjunto com os economistas Edmar Bacha e Pedro Malan na qual recomendavam ao Presidente Lula a manutenção estrita do teto de gastos para evitar uma espiral inflacionária no seu próximo governo (curioso não terem feito o mesmo alerta ao Presidente Bolsonaro, deve ter sido por falta de tempo), Arminio Fraga em matéria publicada originalmente no jornal O Globo, no dia 19 de novembro de 2022 afirmou que “estamos trilhando um caminho perigoso, o Brasil é um país muito endividado” (para quem não é assinante do Globo sugiro ver a matéria no link https://inteligenciafinanceira.com.br/saiba/economia/arminio-fraga-brasil-pais-muito-endividado/).
Os argumentos apresentados por Armínio Fraga et al na carta ao Presidente Lula foram rebatidos em carta aberta ao presidente Lula divulgada no dia 18 de novembro de 2022 neste blog (https://jlcoreiro.wordpress.com/2022/11/18/carta-aberta-ao-presidente-lula/) a qual foi repercutida pela competente jornalista Rosana Hessel em matéria publicada pelo Correio Braziliense (https://jlcoreiro.wordpress.com/2022/11/19/economistas-desenvolvimentistas-rebatem-carta-de-arminio-malan-e-bacha-correio-braziliense-18-11-2022/).
Ao me deparar com afirmação tão enfática (e desprovida de embasamento nos dados) fui verificar no site do Fundo Monetário Internacional como está a relação dívida pública como proporção do PIB nos diversos países que compõe este planeta azul e brilhante conhecido como Terra.
O IMF datamapper apresenta o seguinte mapa para a relação dívida pública/PIB no mundo:
Fonte: https://www.imf.org/external/datamapper/GGXWDG_NGDP@WEO/IND?year=2022
Conforme podemos ver claramente no mapa com dados do ano de 2022, o Brasil é um país de endividamento médio (88,2% do PIB) com valores similares aos observados na China (76,9%) e na Índia (83,4%), mas inferior ao observado nos Estados Unidos (122,1%), Espanha (113,6%), Portugal (114,7%), França (111,8%), Itália (147,2%) e Japão (263,9%). Devo recordar ao leitor que o critério de cálculo usado pelo FMI para o endividamento do governo Geral inclui a carteira livre do Banco Central do Brasil que são título da dívida pública emitidos pelo Tesouro Nacional, mas que não estão nas mãos do setor privado, mas na carteira do Banco Central sendo assim uma espécie de dívida do governo com ele mesmo. Neste critério a DBGG se encontrava em 77,5% do PIB em agosto de 2022 (https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/09/30/bc-divida-bruta-do-governo-geral-cai-para-775percent-do-pib-em-agosto.ghtml)
Em suma, a afirmação feita pelo economista Armínio Fraga ao jornal O Globo é, no melhor dos casos, bastante exagerada.
Reproduzido do site do autor: https://jlcoreiro.wordpress.com/